Impulsionada pela alta no preço da soja no atacado (9,16%), a inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) acelerou em outubro, com alta de 0,81%, mais do que o triplo da taxa de setembro (0,24%). O resultado surpreendeu o mercado financeiro, que esperava, no máximo, um avanço de 0,55%. Foi o aumento mais intenso do indicador em 19 meses.
Até outubro, o IGP-DI, o mais antigo dos índices inflacionários calculados pela FGV, acumula altas de 2,93% no ano e de 3,34% em 12 meses. O indicador, usado no cálculo do reajuste da conta de telefone deste ano, serve também como indexador das dívidas dos estados.
Para o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, com o resultado anunciado ontem, o IGP-DI tem boas chances de encerrar 2006 com alta em torno de 3,5%. Isso porque os resultados de novembro e dezembro podem continuar a sofrer pressão da soja mais cara, mas não serão tão elevados quanto o de outubro. ?Não há nenhum fator que justifique altas contínuas no IGP-DI. O que existe são pressões momentâneas?, disse.
A mesma posição é compartilhada pela analista da consultoria Tendências, Marcela Prada. ?O resultado de outubro em nível elevado decorreu de pressões sazonais nos preços agrícolas em intensidade maior que a esperada. Parte dessas pressões deve afetar a inflação ao consumidor no curto prazo, mas em menor intensidade?, afirmou.
O comportamento dos produtos agrícolas, cujos preços subiram 5,18% em outubro, ante alta de 1,20% em setembro, levaram os preços do atacado às alturas: houve uma elevação de 1,16% nesse setor, no mês passado, a mais intensa em mais de dois anos, e bem acima da inflação do atacado em setembro (0,28%). ?A soja foi preponderante nesse cenário?, disse Quadros, explicando que o preço do produto está mais alto por dois motivos: maior demanda do que oferta, e movimentos especulativos de mercado. Com isso, a elevação do item foi a mais alta também em 19 meses, assim como a do IGP-DI.
Mas a soja não foi a única commodity a registrar alta de preços em outubro no atacado. Outros produtos do setor agrícola também puxaram para cima o IGP-DI. É o caso das elevações do trigo (18,75%); aves vivas (9%); milho em grão (11,07%); e bovinos (5,58%). Na construção civil, os preços também aceleraram, de setembro para outubro. A alta de preços no setor passou de 0,11% para 0,21%, pressionada pela inflação mais intensa no segmento de materiais e serviços (de 0,18% para 0,35%). Em contrapartida, os preços no varejo assumiram trajetória oposta aos cenários do atacado e da construção civil, e desaceleraram (de 0,19% para 0,14%).
Núcleo
O núcleo do IPC-DI de outubro subiu 0,17% ante aumento de 0,24% em setembro. Esse indicador é usado para mensurar tendências, e calculado a partir da exclusão das principais quedas e das mais expressivas altas de preço no varejo. ?Esse núcleo é muito baixo e comprova o bom cenário dos preços para o consumidor?, disse Quadros.