Sindicato das farmácias denuncia dumping das redes

Se para o bolso do consumidor a guerra de preços entre as grandes redes farmacêuticas de Curitiba e Região Metropolitana é um descongestionante, o mesmo não se pode dizer da saúde das redes de médio porte e das pequenas farmácias. Dados do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado do Paraná (Sindifarma) apontam queda de 25 a 30% no faturamento das pequenas farmácias em novembro. Nas duas últimas semanas, quando as redes Drogamed e Nissei intensificaram as promoções, as vendas caíram ainda mais: em torno de 50%, segundo o presidente do Sindifarma, David Guntowski. Na avaliação do sindicato da categoria, só há uma maneira de se conseguir descontos de até 48%: dumping.

“Estão praticando preços abaixo do custo”, afirma David, para quem o acirramento da disputa no setor tem como objetivo somente conquistar mercado. “Com a notícia de que o País vai ter um bom crescimento no ano que vem, as redes querem ganhar espaço. Depois de um período de vacas magras, elas querem firmar as marcas para sair na frente, o que cria um problema muito grande para as farmácias menores, independentes”, comenta. “Com a entrada de duas novas redes de fora – de São Paulo e Ceará – em Curitiba, todo mundo está defendendo seu pedaço de osso.” O Departamento Jurídico do Sindifarma está estudando as medidas cabíveis contra esta situação.

David lembra que a margem das farmácias é tabelada por lei. Mesmo assim, as grandes redes oferecem descontos de 40 a 48%. ” Sem dúvida nenhuma, esses preços são artificiais, pois só com condições muito especiais de negociação seria possível chegar nesse nível”, alega o presidente do Sindifarma. Das 943 farmácias da Grande Curitiba, 110 são lojas das grandes redes. “Só que o faturamento delas passa de 50% do total do setor”, ressalta David.

Segundo o Sindifarma, as redes conseguem até 35% de redução na margem bruta na negociação com os atacadistas, mas para garantir o equilíbrio econômico-financeiro o repasse para o preço de balcão não chegaria nem a 20%. Para as farmácias, a carga tributária (ICMS, PIS/Cofins, INSS, IR) gira em torno de 10% e as despesas operacionais (folha de pagamento, aluguel, água, luz, telefone) representam mais 8%. “Para cobrir todas as suas despesas, o desconto máximo ao consumidor seria de 10 a 15%”, argumenta David.

Pelos cálculos dele, uma rede que consiga redução bruta de 35% na negociação com a distribuidora, compromete 18% com as despesas e impostos, sobrando 17%. “A farmácia precisa trabalhar com margem mínima de 2% de lucro líquido, então sobra 15% para dar de desconto. Nas farmácias menores, o desconto é de 10%”. Só o ICMS, que é pago na proporção de 18% sobre o lucro, representa 4,95% do preço final dos remédios.

Por causa desta matemática, David diz que não é possível as redes saírem lucrando com as promoções. “O investimento forte é na segunda-feira, mas nos outros dias, o menor desconto é de até 20%. Na melhor das hipóteses, eles estão no zero a zero para ganhar mercado e, no ano que vem, normalizarem os preços”, avalia o presidente do Sindifarma.

Preocupação

A forte disputa pelo mercado farmacêutico na Grande Curitiba preocupa os pequenos donos de farmácias. “Muita gente está desesperada e pensa em fechar as portas, pois não tem mais esperança de continuar no mercado”, relata David. Os números do setor comprovam a afirmação. Hoje há 943 farmácias em Curitiba e Região Metropolitana. “Eram mais de mil há um ano”, informa David. Em todo o Estado, há 3,8 mil estabelecimentos. De acordo com o Sindifarma, o volume de vendas das farmácias de rede é cerca de 7 vezes maior que o das pequenas. Enquanto as pequenas faturam de R$ 20 mil a R$ 40 mil por mês, as lojas de redes ganham de R$ 150 mil a R$ 300 mil. “Para cada loja de rede que abre, a médio prazo fecham cinco pequenas”, diz David.

As farmácias empregam cerca de 5 mil pessoas em Curitiba, entre farmacêuticos e atendentes. Mas conforme a Pesquisa Conjuntural da Federação do Comércio do Paraná, o nível de emprego do setor de farmácias e perfumarias registra queda em todos os comparativos, apesar da absorção de mão-de-obra pelas redes. De janeiro a setembro, houve redução de 4,18% em relação ao mesmo período de 2002. De agosto para setembro, diminuição de 1,48%. Na comparação com setembro do ano passado, recuo de 16,70%.

A reportagem entrou em contato com a Drogamed e a Nissei para ouvir a posição delas em relação à denúncia de dumping, porém, não houve retorno.

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