Relatório dos EUA reprova frigoríficos

No dia 30, uma missão do Departamento de Agricultura norte-americano deverá chegar ao Brasil para decidir se os frigoríficos brasileiros serão habilitados de novo a exportar para os Estados Unidos. Os dez maiores produtores da carne consumida naquele país serão vistoriados. Governo e exportadores terão de correr contra o tempo para se enquadrar: o relatório preliminar da auditoria que levou ao cancelamento das exportações é devastador.

Concluída em abril, a auditoria acusa o governo brasileiro de incapacidade de fiscalização dos frigoríficos e análise de produtos. Segundo o relatório – exibido, em Power Point, às autoridades antes do embarque da equipe para os EUA -, ?nenhum dos nove Sipas (Serviços de Inspeção de Produtos Animais) auditados foi capaz de demonstrar capacidade de fiscalização de frigoríficos?.

Ainda de acordo com o documento, 14 dos 15 frigoríficos não cumprem as exigências norte-americanas de controle sanitário, os Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (SSOP), nem análise de riscos e controle de pontos críticos. Pelo relatório, não é realizada, por exemplo, a desinfetação diária das salas de processamento da carne.

No mesmo capítulo, uma alarmante descrição: ?Resíduos do dia anterior foram encontrados na superfície de contato do produto e em vários equipamentos em diferentes áreas de produção?.

Segundo a auditoria, sete frigoríficos desrespeitavam os padrões sanitários. As instalações, diz o documento, não são mantidas de modo a evitar ?a entrada de moscas e animais como ratos?. O cenário, em que água contaminada ?goteja nas carcaças de carne durante a operação de abate?, é assustador: ?Goteiras caem do teto sobre a carne exposta?, afirma o documento em outro trecho.

Ainda de acordo com o relatório, ?empregados (dos frigoríficos) não aderem a práticas de higiene para prevenir a contaminação cruzada dos produtos? e a carne fica em contato com equipamentos impróprios, como escadas. Na análise do procedimento de abate, diz que nem sempre as facas são desinfetadas para impedir a contaminação.

O documento também lança dúvidas sobre a imparcialidade dos fiscais do governo. No relatório, os americanos condenam o uso de veterinários contratados pelos próprios frigoríficos e de técnicos cedidos pelas prefeituras e por governos estaduais.

Ainda segundo o documento, todos (contratados ou permanentes) são autorizados a comer de graça ou com subsídio nos restaurantes e cafés dos frigoríficos. ?E a maioria se vale do benefício.? Um pequeno grupo de fiscais, diz, recebe transporte gratuito e até moradia subsidiada. Todos usam os serviços médicos de frigoríficos, inclusive para licença.

Ainda de acordo com o documento, o Dipoa (Departamento de Inspeção de Saúde Animal do Ministério da Agricultura) não seguiu os padrões para o teste de salmonella em oito frigoríficos e não recolheu amostras de cérebro de uma vaca que chegou morta a um dos estabelecimentos. Os dez laboratórios auditados apresentaram ?múltiplas deficiências? no atendimento às exigências. Cinco dos sete encarregados do controle de resíduos também.

No mês passado, após conclusão preliminar da auditoria, o governo brasileiro decidiu excluir espontaneamente os 28 frigoríficos que exportam para os EUA para poder se adequar. A estratégia foi a de se antecipar aos EUA.

O controle da carne exportada é teoricamente mais rigoroso do que o realizado para consumo interno, já que parte do rebanho do País ainda passa por abatedouros clandestinos. Grande parcela do varejo brasileiro, porém, já oferece o produto com controle de qualidade maior.

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