Eles vêm a Curitiba em nome do trabalho. São executivos que atuam em grandes empresas – muitas delas multinacionais – e que são transferidos para a capital paranaense para assumir cargos estratégicos. Na bagagem, trazem não apenas os pertences pessoais, mas o gosto refinado para a comida, a bebida, a moradia, o lazer. De olho neste mercado promissor – que está disposto a gastar boas cifras em produtos e serviços, desde que de qualidade -, muitos empreendedores estão investindo pesado em itens de ponta.
?O setor tem procurado trabalhar com um público de maior poder aquisitivo?, confirmou o diretor-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Paraná (Abrasel-PR), Luciano Bartolomeu. Segundo ele, mesmo os restaurantes self service (a quilo) e as churrascarias, que tradicionalmente mantêm um tom mais popular, estão se refinando. Um exemplo é a churrascaria Grimpa, no bairro Batel, inaugurada há pouco tempo. Um rodízio, incluindo 18 cortes de carne, custa R$ 45,00 por pessoa.
O restaurante self service também deixou de ser apenas uma opção barata. Para um público mais exigente, afirmou Bartolomeu, o quilo da comida em Curitiba pode variar entre R$ 27,00 e R$ 40,00. ?Restaurante a quilo não é mais sinônimo de barato. Ele representa agilidade, comodidade, mas também qualidade?, explicou.
De olho justamente num público mais exigente, o restaurante Armazém Italiano decidiu inovar. Segundo Bartolomeu, há quatro ou cinco anos o restaurante cobrava entre R$ 13,00 e R$ 15,00 o quilo. ?As pessoas reclamavam, dizendo que o preço era muito alto. Depois de uma grande reforma, o quilo ficou acima de R$ 27,00 e o movimento aumentou. Mudou o público.?
Porém, para quem acredita que investir neste setor tem retorno garantido, ledo engano. Apesar do crescimento anual de 5% no número de bares e restaurantes em Curitiba, entre 60% e 70% dos novos estabelecimentos fecham antes de completar dois anos. ?Uma instalação bonita não basta. É preciso apresentar serviço de qualidade?, sentenciou o diretor da Abrasel-PR. O investimento mínimo para abrir um restaurante, segundo Bartolomeu, é de R$ 200 mil, podendo ultrapassar a R$ 1 milhão. ?Quem consegue fazer um investimento alinhado ao mercado, em dois ou três anos tem o retorno.?
Taboo
Apostando numa classe com poder aquisitivo mais elevado, o curitibano Luiz Alcino Queiroz Ribas inaugurou há um ano e meio a casa noturna Taboo, no Batel. Ele conta que investiu cerca de R$ 500 mil no empreendimento, depois de ter percorrido diversos países e verificado que em Curitiba não havia nada do mesmo nível. ?Em Miami, Nova York, Paris, há cinqüenta lugares como o meu. Aqui não havia nenhum?, disse.
Entre os diferenciais do local, o empresário cita o ambiente, o atendimento, produtos sofisticados, a carta de vinhos, champanhe e vodcas. Apesar do público fiel – entre 500 e 600 pessoas nas noites de quinta, sexta e sábado -, Ribas lamenta o gasto médio do cliente, abaixo de outras capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. ?É preciso educar o curitibano a gastar mais?, diz. No caso do Taboo, o tíquete médio (gasto médio por cliente) é de R$ 50,00. ?Em São Paulo, não é menos que R$ 150,00?, compara. Até o final do ano passado, a casa cobrava a entrada dos clientes: R$ 40,00 dos homens e R$ 15,00 da mulheres. Este ano, a entrada acontece apenas sob reserva.
Mercado imobiliário também sente as mudanças
O mercado imobiliário de Curitiba também está se beneficiando com a vinda de altos executivos. Segundo o diretor de comunicação e eventos da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário no Paraná (Ademi-PR), Fernando Antonio Thá, os executivos de mais alto escalão não compram imóveis na capital num primeiro momento. ?Como eles não sabem por quanto tempo vão ficar na cidade, preferem alugar?, diz.
Segundo Thá, a escolha do imóvel varia conforme o local onde este executivo trabalha – se em São José dos Pinhais, prefere bairros que têm acesso fácil, como o Jardim das Américas – e se a família vem junto, ou não. ?Normalmente, quando ele é transferido para cá no meio do ano, aluga um imóvel e só compra no ano seguinte, quando vem toda a família?, diz.
Segundo Thá, para atender este cliente específico, as próprias construtoras estão apostando em itens de acabamento diferenciados. É o caso do piso em porcelanato, bastante solicitado. ?A exigência em alguns itens é diferente do curitibano?, diz. Sobre os valores que eles estão dispostos a gastar, Thá afirmou que varia: quando as empresas arcam com o aluguel, eles costumam ser mais altos.
Já para quem pretende investir neste público, a aquisição de um loft – procurado principalmente pelo jovem executivo – pode ser um bom negócio, garante Thá. Uma unidade pode custar cerca de R$ 90 mil, já mobiliado, e ser alugado por R$ 1 mil. ?É um investimento que oferece uma liquidez boa?, confirma Thá. (LS)
Preocupação com a saúde, o corpo e a mente
O fitness é outro setor que vem ganhando investimento pesado em Curitiba. Um exemplo é a chegada da Cia. Athletica, maior rede de academias da América do Sul, que será inaugurada na próxima terça-feira, dia 2, no ParkShopping Barigüi. Ocupando uma área de 3 mil metros quadrados, a academia exigiu investimento de R$ 7 milhões, segundo o diretor da Cia. Oscar França. O retorno é esperado entre quatro e oito anos.
Para concorrer com as academias locais, a Cia. Athletica trouxe equipamentos importados de última geração e as últimas tendências em ginástica, musculação e lutas. A previsão, segundo França, é atrair 2 mil alunos no primeiro ano de atividade. Quanto à mensalidade, ela é de R$ 179,00 para os primeiros mil inscritos. Depois disso, o preço de balcão será de R$ 219 ao mês para planos semestrais.
Também de olho neste nicho, a empresária Luciane Beira investiu cerca de R$ 200 mil e se tornou franqueada da academia norte-americana Contours Express. Abriu a unidade no bairro Batel há cerca de vinte dias. Voltada apenas para o público feminino, a academia é perfeita para executivas que não dispõem de tempo para malhar. É que as aulas acontecem em forma de circuito e duram apenas 30 minutos. ?É uma aula rápida e com resultado?, garante. O valor da mensalidade é de R$ 97,00 (plano anual) ou R$ 157,00 (mensal). (LS)