Quem ganha ou perde com o dólar?

A queda do dólar esta semana – na sexta-feira, a moeda fechou cotada a R$ 2,0220 para venda, o menor patamar desde março de 2001 – está obrigando muitas empresas a repensar a gestão para continuarem competitivas. Por outro lado, companhias que trabalham com matéria-prima importada estão tendo a oportunidade de aumentar a margem de lucro, com o dólar mais baixo. Afinal, quem ganha e quem perde com a atual cotação da moeda norte-americana?  

?Quem ganha, em primeiro lugar, é o importador, que consegue comprar com menos reais mais mercadorias no exterior?, apontou Nelson de Oliveira, vice-presidente de Relações Institucionais do Ibef/PR (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Paraná). Nesse grupo estão produtos como fertilizantes, defensivos, derivados de petróleo, além de insumos de informática de alta tecnologia que não têm similares nacionais. ?O real valorizado faz com que o fluxo de produtos e serviços entre com preço mais baixo no País?, apontou.

Por outro lado, a indústria tradicional exportadora, como de calçados, têxtil e de madeira, vem amargando prejuízos. No caso do setor têxtil, a crise se agrava quando acrescida a concorrência de produtos vindos da China e da Índia. ?Esses produtos importados vêm de países em que o custo de produção é mais baixo do que no Brasil. Eles chegam com preços bem mais baixos, causando sérios problemas?, apontou.

Agregando valor

Para Nelson de Oliveira, empresas devem se ajustar para não se tornarem reféns do ?modelo antigo? nem do câmbio. ?A empresa tem que oferecer produtos com maior valor agregado, mais tecnologia, e não ser muito dependente da commodity?, afirmou. Nesse sentido, o setor agropecuário é outro que perderia com a valorização do real, se não fosse o aumento do preço internacional em dólar. Além disso, o grande volume produzido consegue contrabalançar a desvalorização da moeda estrangeira.

?A empresa tem que estar se reinventando sempre, seja na tecnologia, na gestão, na busca de novos produtos e mercado. Não é uma tarefa fácil num mundo dinâmico em que vivemos, mas a verdade é que hoje ninguém mais está numa situação tranqüila?, afirmou o analista.

Câmbio

Para Nelson de Oliveira, são poucas as chances de que o dólar volte a subir em curto ou médio prazo. ?Enquanto a remuneração da renda fixa no Brasil for alta como é em relação a qualquer outro lugar do mundo, é difícil que haja valorização do dólar no atual modelo de fluxos internacionais?, acredita. Em outros países, lembrou, o baixo rendimento da renda fixa leva muitos investidores a optarem pelo mercado de ações. ?Ninguém vai querer investir na produção para ganhar menos?, lamentou. Para ele, o Brasil está apenas ?surfando a boa onda da economia mundial?, mas poderia aproveitar melhor o momento atual da economia.

Turismo comemora desvalorização

Se há um setor que tem pouco a reclamar do câmbio atual é o de turismo. Com o dólar cotado a R$ 2,02, esta está sendo a oportunidade para muitos brasileiros viajarem para o exterior pela primeira vez. Os pacotes de viagens estão com preços bem interessantes, e o mercado interno está precisando rever os valores para não perder a competitividade.

?A queda do dólar é a esperança para que as agências e operadoras recuperem os prejuízos da ?crise aérea,? apontou o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Paraná (Abav-PR), Antônio Azevedo. Segundo ele, o prejuízo para o setor é de aproximadamente 40%. Só no feriado da Páscoa, afirmou, agências do Paraná tiveram perdas de 15%, já que muitos preferiram viajar de carro a enfrentar possíveis transtornos nos aeroportos.

De acordo com Azevedo, as vendas de pacotes de viagens devem aumentar entre 10% e 15% em relação ao mesmo período do ano passado, por conta do dólar mais baixo, mas poderia aumentar ainda mais. ?Não será aquela explosão de vendas. O problema é que há um limite na capacidade do transporte aéreo?, explicou, referindo-se à falta de aeronaves em rotas para o exterior.

Por outro lado, o destino Brasil se tornou mais caro para os turistas estrangeiros, o que é negativo para o turismo receptivo. ?O País vai perder competitividade porque os custos são mais altos. Há muitos turistas desistindo de vir ao Brasil e preferindo o destino asiático, por exemplo?, apontou. De maneira geral, porém, Azevedo acredita que o câmbio atual mais favorece do que prejudica o setor. ?Quase 80% das agências de viagens são emissivas (vendem pacotes de viagens) e apenas 10% são receptivas (recebem turistas de fora)?, explicou. Em todo o Paraná, há aproximadamente 1,1 mil agências de viagens.

Quase 70%

Na operadora de turismo CVC, pacotes internacionais estão respondendo por quase 70% das vendas, segundo o representante da empresa em Curitiba, Ricardo Luz. Segundo ele, com o câmbio atual é possível, por exemplo, passar 4 noites e 5 dias em Paris por US$ 928,00, aproximadamente R$ 1.870,00. Já um pacote para a Costa do Sauípe, na Bahia, também de 5 dias, custa R$ 1,5 mil. ?Por causa de R$ 300,00, muitos preferem ir para Paris?, exemplificou. Ele lembrou, no entanto, que os custos na ?Capital da Luz? são muito maiores do que no Brasil.

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