Quem disse que mulheres não gostam de contabilidade?

Ao receber um convite para a formatura de uma turma de Ciências Contábeis tive a oportunidade de confirmar uma tendência marcante: o número de contadoras era bem superior ao de contadores. Os cursos de Ciências Contábeis vêm efetivamente colocando mais mulheres do que homens no mercado, alterando, sob este aspecto, o perfil secular da profissão contábil.

Como a solenidade foi dia 2 de março, próximo ao Dia Internacional da Mulher, refleti: na verdade, as mulheres vêm protagonizando uma verdadeira revolução, alterando o seu modo de vida e de toda a sociedade, na esteira das lutas por igualdade, liberdade, respeito às diferenças, cidadania, dignidade e inclusão social.

No caso do direito de exercer uma atividade e em condições humanas – luta que registra inclusive tragédias, como a de 8 de março de 1857 – importa dizer que o trabalho se firmou como o modo por excelência de auto-afirmação da pessoa, tanto em relação à natureza como no plano social.

Com garra, as mulheres vêm derrubando uma a uma as muralhas erguidas por uma civilização eminentemente de homens. Uma leitura rasante do passado, até onde há registros, mostra o domínio do macho. A começar pela representação, nas culturas ocidentais, do ser supremo como entidade masculina.

O regime cristalizado, na civilização ocidental, foi aquele em que o pai exerce a autoridade na família, o patriarcado. Só há registros de matriarcados em mitologias, como a das guerreiras que combateram na Guerra de Tróia, conforme conta Homero na Ilíada (século VIII aC); e em lendas, como a das amazonas que uma expedição espanhola teria encontrado, na Amazônia, em 1542.

Não cabe aqui debater a natureza divina, mas parece clara, no passado, a interinfluência entre sistemas de crenças e sistemas sociais, com indisfarçável sobreposição da força física como princípio de superioridade e de poder.

Se no plano religioso permanecemos presos a conceitos discutíveis, na dimensão social, sexo e força física há muito deixaram de ser critério de poder político-social e de orientação profissional. Hoje o que conta é a competência.

Passando por cima de preconceitos, tabus e discriminações, as mulheres estão avançando em todas as frentes. Vêm competindo ombro a ombro com os homens. Está desaparecendo a figura do homem que quer a mulher em casa, cuidando da prole e da cozinha.

Não faz muito que as brasileiras sonhavam em ser professoras. Não havia alternativas. Agora, ocupam vagas na indústria, no comércio, no setor de serviços. Trabalham na polícia, no exército, na construção civil, em oficinas mecânicas, pilotam avião, dirigem caminhão, conduzem cavalos de corrida, jogam bola… Elas já são maioria em diversas atividades antes consideradas feudos masculinos, segundo o IBGE e o Ministério do Trabalho. Já são mais de 50%, nas áreas jurídica, médica, odontológica, entre outras.

As contabilistas, por sua vez, somam cerca de 111 mil em um universo de 330 mil profissionais ativos. No Paraná, elas são quase seis mil para um pouco menos de 22 mil profissionais. Mantendo-se a tendência acima mencionada, nos cursos de Ciências Contábeis, que passam de 500, no País, no futuro não distante elas serão a maioria, nos escritórios, nas empresas e mesmo nas entidades de classe (atualmente, dos 36 conselheiros do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná -CRCPR, apenas seis são mulheres).

Não é verdade, portanto, que as mulheres não gostam de números. Elas estão descobrindo o mito, difundido no passado, de que a contabilidade é uma ciência exata. Não é. É sim uma ciência social. A moderna contabilidade é mesmo extremamente interessante, gratificante, abre um leque imenso de áreas de trabalho, como consultoria e assessoria empresarial e gerenciamento de negócios.

Saudamos o avanço feminino, no meio contábil. Tanto é que criamos, nos conselhos de contabilidade, programas especiais voltados à mulher. Já foram realizados quatro encontros nacionais da Mulher Contabilista, debatendo questões como: a participação feminina na política e no mundo dos negócios, aprimoramento técnico-cultural, mercado de trabalho, competitividade, desigualdade salarial, dupla jornada, ocupação de funções de mando. A propósito, no mês de maio será realizado, em Londrina, o I Encontro da Mulher Contabilista e Empresária Contábil do Paraná.

Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, parabenizamos as brasileiras que, com seu esforço, determinação, inteligência, sensibilidade, virtudes, qualidades, vêm ajudando a construir um Brasil onde impera mais justiça, coerência, solidariedade, compreensão, paz e beleza.

Maurício Fernando Cunha Smijtink Presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná E-mail: presidente@crcpr.org.br

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