Queda do PIB sinaliza que País está em recessão

A economia brasileira entrou tecnicamente em recessão no primeiro semestre de 2003. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas do País) teve uma queda de 1,6% no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre deste ano. Em relação ao mesmo período do ano passado, o PIB apresentou queda de 1,4%.

Ambos os resultados são piores do que o esperado. No mercado financeiro, a expectativa era de queda de 0,5% no segundo trimestre. Além disso, o IBGE revisou a queda do PIB registrada no primeiro trimestre de 0,1% para 0,6%.

Para a maioria dos economistas brasileiros e estrangeiros, dois trimestres seguidos de retração no total de riquezas produzidas por um país configura um cenário de recessão.

Juros

A economia brasileira encolheu nos dois primeiros trimestres do governo Luiz Inácio Lula da Silva devido principalmente ao forte aperto monetário imposto pelo Banco Central para conter a inflação.

No período, a taxa básica de juros da economia brasileira – a Selic – chegou a atingir 26,5% ao ano, o maior patamar desde 1999.

Essa política de juros altos, apesar de ter se mostrado eficiente para baixar a inflação, teve como efeitos colaterais a drástica redução dos investimentos no setor produtivo e o forte desaquecimento do consumo. Com isso, o país entrou em recessão.

Semestre

No primeiro semestre do ano ficou praticamente estável, com uma pequena variação positiva de 0,3%, na comparação com o primeiro semestre de 2002. Contribuíram para esse resultado positivo o crescimento de 5,7% no PIB da agropecuária e 0,4% no setor de serviços.

A indústria brasileira, no entanto, registrou uma queda de 0,5% no período. Dentro dos subsetores da indústria, a construção civil foi a única que teve queda, de 6,5%.

Nota explica

A assessoria econômica do Ministério do Planejamento divulgou ontem, nota técnica em que explica que a queda no PIB no segundo trimestre deste ano de 1,4% em relação ao mesmo período do ano passado, e de 1,6% na comparação com o primeiro trimestre deste ano é decorrente “dos ajustes monetário e fiscal que o governo foi obrigado a implementar para debelar os choques adversos ocorridos em 2002 e conter as expectativas inflacionárias dos agentes econômicos”.

A nota ressalta, porém, que o resultado da política monetária e fiscal no primeiro semestre tem sido a “melhoria significativa de todos os fundamentos macroeconômicos”. Esse fato, conforme a nota, vem “permitindo reversão gradual das políticas contracionistas desde junho último”. A assessoria econômica do Ministério destaca que “políticas monetária e fiscal mais expansionistas e inflação cadente começam a se fazer sentir pela elevação do poder de compra dos salários e aumento das vendas”.

Queda é a maior da história

Os juros altos, a dificuldade de acesso ao crédito e a renda em queda levaram a uma piora no consumo interno brasileiro. De acordo com as contas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o consumo das famílias caiu 4,7% no primeiro semestre do ano na comparação com o primeiro semestre do ano passado. Essa é a taxa mais baixa da série histórica do IBGE.

O consumo das famílias tem grande peso na formação do PIB (Produto Interno Bruto).

Comércio exterior

A balança comercial brasileira teve um desempenho favorável no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado. As exportações de bens e serviços apresentaram aumento de 25,3%. As importações caíram 5,3%.

No mesmo período de 2002, as exportações haviam tido queda de 6,1% e as importações, queda de 17,1%.

Também caiu a formação bruta de capital fixo (-5,4%). Já o consumo do governo cresceu 0,35 na mesma comparação.

BC prevê retomada neste semestre

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) avaliou, em sua última reunião, que a atividade econômica não se encontra em quadro recessivo. Apesar da utilização da capacidade instalada na indústria estar estabilizada em 80% e a taxa de desocupação estar em 13%, para o BC, “não se trata propriamente de um quadro recessivo na atividade econômica”.

De acordo com a ata da reunião do Copom, divulgada ontem pelo Banco Central, a desaceleração ainda não é generalizada e algumas atividades importantes, como a agricultura e setores ligados à exportação, estão apresentando taxas elevadas de crescimento.

A avaliação feita é de que as perspectivas para o desempenho da economia no segundo semestre deste ano são melhores que as dos primeiros seis meses do ano. “A atividade econômica, particularmente no último trimestre de 2003, deverá se beneficiar dos efeitos dos cortes na taxa de juros básica nas últimas três reuniões do Copom (junho, julho e agosto) e da redução recente no recolhimento compulsório sobre depósitos à vista (de 60% para 45%)”, diz a ata da reunião.

Além disso, o Copom vê no aumento dos rendimentos reais, o que deverá ocorrer com a queda da inflação, um fator importante para a sustentação da retomada da atividade econômica.

Esse crescimento esperado para o segundo semestre, de acordo com ata, se dará a partir de uma base de comparação mais deprimida. “Isso permitirá que a recuperação ocorra de forma balanceada, com retomada do consumo e investimento e sem geração de pressões inflacionárias significativas”, diz o documento.

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