Produtores de leite em crise com a baixa do produto

Os produtores de leite de Rondônia, na região norte, suspenderam na última semana a entrega do produto aos lacticínios por tempo indeterminado. A medida é para pressionar as empresas a aumentar o preço de R$ 0,38 para R$ 0,58 o litro, valor do custo de produção. No Paraná, a situação não é diferente, já que o custo gira em torno de R$ 0,65 e os produtores não estão recebendo mais de R$ 0,60 pelo litro do leite. Se a situação persistir eles admitem que pode haver descarte do produto.

A informação foi confirmada pelo presidente da Associação Regional dos Produtores de Leite do Noroeste do Estado (Arproleite), Adriano Aparecido Sala. “Se for para produzir para dar para o setor industrial vender, eu prefiro jogar fora”, disse Sala, acrescentando que essa deverá ser a saída se a crise no setor continuar.

Segundo ele, só nos últimos dois meses o preço do litro do produto baixou R$ 0,14, valor que os produtores não conseguiram alcançar em um ano de trabalho. O presidente da Arproleite entidade que reúne 130 produtores, dos quais 90% dependem diretamente da venda do leite -, afirmou que o produtor não aceita a alternativa de reduzir a produção diminuindo a alimentação dos animais. “Dessa forma vamos matar nossa fonte de renda, pois quando precisar aumentar a produção, a vaca não irá conseguir responder”, esclareceu.

Já o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Leite (Associação Leite Brasil), Jorge Rubez, está mais pessimista com o atual cenário, e aposta que se não forem tomadas medidas emergenciais o preço do leite pode sofrer um aumento substancial ou até faltar nas prateleiras. “O produtor vai parar, ou migrar para outros setores, como a cana-de-açúcar”, ponderou. Segundo ele, a produção brasileira de leite em 2007 atingiu cerca de 27 bilhões de litros, e a previsão para esse ano era aumentar 5%. No entanto, só no primeiro semestre de 2008 o consumo interno caiu em torno de 7% enquanto a produção no período cresceu 11%. Esse aumento estaria ligado a uma promessa de aumento no valor o litro, o que não aconteceu.

Propostas

Para Jorge Rubez, o governo federal precisa implantar medidas emergenciais para impulsionar o setor. Entre elas, aumentar os recursos do Empréstimo do Governo Federal (EGF) para que as empresas possam fazer capital de giro. Além disso, desburocratizar o acesso a esses recursos. Rubez defende ainda condições para estimular a exportação. Segundo ele, apenas 3% -cerca de US$ 500 milhões – do que é produzido no Brasil vai para o mercado externo. “Só para a Venezuela e Cuba nós vendemos US$ 250 milhões, mas eles estão dando preferência para comprar da Nova Zelândia que dá um prazo de um ano para pagar, pois lá o setor recebe apoio do governo”, ponderou.

Outra medida que ajudaria a impulsionar o setor seria aumentar o consumo interno de leite. O presidenta da Leite Brasil sugere campanhas publicitárias e compra em larga escala do produto para creches e escolas. Segundo pesquisa do consumo de bebida no Brasil feita pela Tetra Pak Marketing Service o leite aparece em quarto lugar, com 40%, atrás da cerveja (68%), café (61%) e do refrigerante (55%). O consumo de leite per capta no País é de 78 litros/ano, enquanto na Europa e EUA passa de 100 litros/ano.

Paraná precisa estimular crescimento da indústria

O Paraná e o Rio Grande do Sul disputam a segunda posição no ranking dos estados produtores de leite, com cerca de 2,7 bilhões de litros. Ficam atrás de Minas Gerais, que produz 7,9 bilhões. Do total de 9,5 milhões de cabeças do rebanho do Estado, 2,5 milhões de cabeças são leiteiros, sendo que a atividade está presente na vida de 100 mil produtores e 377 laticínios com inspeção federal, estadual e municipal. A grande maioria da produç&ati,lde;o se concentra em pequenas e médias propriedades, sendo que a agricultura familiar responde hoje por quase 50% da produção estadual de leite.

Para o presidente da Arproleite, Adriano Aparecido Sala, o Paraná precisa estimular o crescimento da indústria. Além disso, resolver a questão tributária que tira a competitividade do produto estadual. Sala comentou que o decreto de julho deste ano que reduziu o valor do ICMS do leite no Paraná ajudou, mais veio tarde. “O produtor já estava endividado”, comentou. Para ele, a solução definitiva seria uma intervenção do governo do Estado para reestruturar toda a cadeia produtiva.

A engenheira agrônoma do Departamento Técnico Econômico da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Maria Silvia Digiovani, também defende a melhoria na cadeia, pois acredita que só dessa forma será possível evitar novas crises no setor. Para ela, a redução na produção neste momento terá impacto pesado no preço para o consumidor.

“Em um primeiro momento não sentirá porque tem estoque, mas a longo prazo isso será refletir no preço de venda”, finalizou. (RO)