Política econômica provoca desindustrialização, diz Fiesp

Brasília (AE) – Irritado com o desempenho negativo da economia no terceiro trimestre, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, deixou ontem o ministro das Relações Institucionais da Presidência da República, Jaques Wagner, numa situação constrangedora. O ministro presidia a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) quando Skaf pediu para ler, fora da programação do evento, um ?Manifesto pelo Desenvolvimento do Brasil?, com duras críticas à política de juros e à carga tributária, ao câmbio valorizado e à falta de investimentos.

O manifesto de Skaf afirma que está em curso um processo de ?desindustrialização? do País, como conseqüência da política econômica. ?É crucial reverter esse processo?, afirmou. Wagner titubeou, demonstrando que desejava apenas que o documento fosse distribuído aos integrantes do CDES, mas teve de ceder.

?Nós estamos perdendo uma grande oportunidade de fazer o debate nesse conselho que, cujo próprio diz, é de Desenvolvimento Econômico e Social?, disse Skaf, ao iniciar sua fala, tentando mudar a pauta da reunião, que era sobre política externa. ?Diante da queda do PIB, a pauta da reunião tinha de ser alterada?, disse, depois, em entrevista. No pronunciamento, o empresário afirmou que ?há uma teimosia tremenda em não ajustar a política econômica? e isso está fazendo com que o Brasil não cresça ?mais do que 2,5% este ano?, enquanto os países emergentes crescem em média três vezes mais.

Skaf cerrou fogo na taxa de juros básica (Selic), para ele o maior vilão da queda do PIB. O representante dos empresários paulistas avaliou que o Banco Central precisa acelerar o ritmo de queda na Selic e defendeu corte de dois pontos porcentuais já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Ele considera que, se não houver cortes mais drásticos, o crescimento do País em 2006 também pode ficar comprometido.

O presidente da Fiesp disse que é preciso tirar poder do ?pequeno grupo? que comanda há anos a política econômica. ?Não podemos permitir mais que um grupo comande o País e que não esteja na direção dos interesses do povo e dos interesses maiores da nação?, afirmou. Em tom mais contemporizador, o empresário Jorge Gerdau afirmou que o problema da política econômica tem sido sua dosagem. Ele avaliou que cortes maiores nos juros são inevitáveis. ?O Banco Central vai precisar acelerar a queda dos juros para não prejudicar o crescimento econômico do próximo ano?, sentenciou.

A reunião do chamado ?Conselhão? fez o ministro Jaques Wagner passar por outro constrangimento. A professora de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, Sônia Fleury, também saiu da pauta da reunião e fez críticas incisivas à proposta de ajuste fiscal de longo prazo – proposta que provocou uma briga enorme dentro do governo. Ela analisou especialmente a hipótese de se aumentar a Desvinculação das Receitas da União (DRU) – que permite ao governo utilizar, para pagamento de juros, dinheiro que obrigatoriamente iria para outras áreas -, mudança que ?desestabilizaria ainda mais a área social?. ?Quantas mortes, violência, miséria e ingovernabilidade isso vai gerar??, questionou.

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