Planta da Renault no Paraná é subutilizada

O superexecutivo Carlos Ghosn quer fazer na Renault do Brasil o milagre que realizou na Nissan no Japão. Em 1999, quando assumiu a Nissan, a montadora japonesa estava à beira da falência, com US$ 20 bilhões de dívida e utilização de capacidade de apenas 50%. Três anos depois, a Nissan não somente dava lucro, como estava crescendo. ?No Japão, um mercado muito competitivo, isso foi feito. O que nós sabemos fazer no Japão, deveríamos fazer no Brasil?, disse Ghosn.

O executivo brasileiro assumiu em maio a presidência do Grupo Renault mundial, que agora acumula com a presidência da Nissan. Ele fica três dias no Brasil e daqui volta para a Europa. Ghosn está fazendo uma ?visita de reconhecimento? em várias fábricas do mundo.

Ele não ficou muito feliz com o cenário que encontrou na fábrica da Renault em São José dos Pinhais, no Paraná. A fábrica, de 2,8 mil funcionários, opera com ociosidade de 65%. Tem capacidade para fabricar 770 carros por dia, mas só produz 270. A Renault, que já foi a quarta maior montadora do País, hoje está em sétimo lugar em participação de mercado, atrás da Fiat, Volkswagen, GM, Honda, Toyota e Peugeot. A empresa francesa não dá lucro no Brasil.

?Usar 35% da capacidade instalada é um desperdício?, disse Ghosn, em português fluente, com carregado sotaque francês.

O executivo foi criado no Líbano e na França. ?Espero chegar a resultados bem melhores, estamos bem longe do nosso potencial.? Para isso, Ghosn pretende trazer produtos de segmentos onde a subsidiária brasileira não atua, e torná-la mais competitiva nos nichos onde já está.

No final do ano, Ghosn vai apresentar seu plano de médio prazo para a Renault mundial. ?Será no mesmo espírito do programa que implantamos na Nissan?, diz. O chamado ?revival plan? que tirou a Nissan do buraco causa arrepios nos funcionários. Ghosn fechou cinco fábricas e demitiu 21 mil funcionários (14% da força de trabalho).

Mas ele tranqüiliza aqueles que temem sua fama de ?matador? e ?demolidor de custos?. No Brasil, afirma Ghosn, a meta é investir cada vez mais. ?Vou contra a corrente?, diz Ghosn, comentando o pessimismo das montadoras brasileiras, que vêm anunciando cortes de investimentos e ameaçam até transferir fábricas para a China. ?Nós não vamos parar de investir?, diz.

?Preparamos uma segunda ofensiva Renault e Nissan no Brasil; se os outros quiserem sair, melhor, só vai facilitar.? Segundo ele, é hora de ir em frente, não reestruturar ou diminuir a operação. ?Investimento, para nós, não é um problema? disse o executivo.

?Como se sabe, a Nissan e a Renault não têm dívidas significativas.? A montadora francesa vai começar a fabricar no País o novo Megane Sedan (no final do ano) e o popular Logan (2007).

Apesar do otimismo, o executivo não deixou de criticar o chamado ?custo Brasil?. ?O brasileiro é o povo que paga mais impostos sobre carros no mundo?, disse. ?Isso tem conseqüências sobre o tamanho do mercado e tipo de carros vendidos no Brasil.? Ele apontou para o fato de os carros populares responderem hoje por 50% do mercado brasileiro porque as montadoras são obrigadas a fabricar carros com o mínimo possível. ?Eles são muito baratos mas não representam o melhor que a indústria automotiva pode oferecer?, disse o brasileiro. Segundo ele, todo mundo vende carro popular, ?mas acho que não existe montadora ganhando dinheiro com carro popular?.

Ele afirma que o ambiente de investimentos no Brasil melhorou, mas aponta para problemas de competitividade. Segundo Ghosn, 65% dos motores fabricados no Brasil pela Renault são exportados para a Europa, porque o produto brasileiro tem qualidade e é competitivo em custos. ?O motor brasileiro sai entre 15% e 20% mais barato que o da França, diz. E na China? ?Na China, Tailândia e Índia, os custos são outra coisa. E esses países estão em competição direta com o Brasil.? Ele elogiou, porém, o talento humano no Brasil, a proteção à propriedade intelectual e o sistema jurídico. Segundo ele, as grandes fraquezas do Brasil eram a inflação e o risco social, e o País melhorou muito nesses dois quesitos.

Ghosn comanda um império de mais de 100 bilhões de euros: o faturamento do grupo Renault no mundo (Renault, Dacia e Samsung) é de 40,715 bilhões de euros e o da Nissan é de 62,5 bilhões de euros no mundo. Sob seu comando, o valor de mercado da Nissan quintuplicou em seis anos.

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