Pitangueiras quadruplica produção

Trabalhadora rural transformada em empresária de confecções, agricultor familiar em professor de informática e um potencial favelado urbano em viável proprietário rural são exemplos das mudanças sociais ocorridas no município de Pitangueiras, Norte do Estado. Esta é a síntese do trabalho de inserção econômica de 10 anos, deflagrado pelo Plano de Desenvolvimento do município de economia agrícola, que comemorou em dezembro o seu 11.º aniversário de emancipação política. Nesse período, foi quadruplicado o seu valor bruto da produção e a sua arrecadação municipal de ICMS.

O desempenho favorável é resultado do trabalho da extensão rural oficial, em conjunto com a municipalidade, e o segmento rural da sociedade civil organizada local, de materializar sonhos em concretas realidades. Localizado em solo de transição do basalto para o arenito caiuá, o então distrito de Pitangueiras pertencia a Rolândia, distante 64 km de Londrina, e dependia da cultura de algodão.

O produto era cultivado em mais de 4 mil hectares, 40% da área agricultável do recém-criado município, e dava sustentação econômica de renda e emprego para a maioria dos trabalhadores, proprietários rurais e arrendatários, até o setor entrar em paulatina crise. Na safra 1993/94 a área de cultivo foi reduzida para 2.490 hectares com 120 produtores, gerando R$ 2,43 milhões e já por volta de 96/97 eram 10 hectares cultivados por apenas três produtores, não chegando a R$ 10 mil reais.

O restante dos 12.373 hectares do território de Pitangueiras era tomado pela sede e complementado por uma cafeicultura decadente, mantida no sistema tradicional de quadra com cafezais velhos e improdutivos e pastagens degradadas, com baixíssima taxa de lotação de gado de corte por área. O êxodo rural crescia em função da falta de oportunidades de trabalho.

Foi então que a então administração municipal e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Agrícola, constituído de 30 membros, demandaram à Emater-Paraná o desafio de superarem as dificuldades e implementarem um programa de intervenção planejada de inserção econômica da agricultura, de médio e longo prazo. Emater, conselho e Prefeitura unidos em construir uma proposta de trabalho e decidir cada ação depois da análise de viabilidade técnica e que garantisse resultado financeiro aos produtores rurais participantes, com propostas voltadas à diversificação agropecuária, gestão da propriedade agrícola, organização do produtor rural e da produção colhida, novas oportunidades de agroindustrialização e controle da degradação ambiental, profundamente sentida nos desmatamentos ciliares e na erosão do solo agrícola.

Para o extensionista Cristovon Ripol, os desafios atuais impostos pelo Plano de Desenvolvimento de Pitangueiras passam, em especial, pelo investimento no capital humano, com a recomposição e qualificação dos membros na melhoria da representatividade e participação do Conselho Municipal e no estabelecimento de novas metas, tendo como referencial o Índice de Desenvolvimento Humano, que é de 0,754, colocando Pitangueiras na 145.ª classificação dentre os 399 municípios do Paraná e em 1.764.ª dos 5.500 municípios brasileiros existentes. ?Queremos seguir o exemplo de Quatro Pontes, considerado como o melhor IDH do interior e o segundo do Paraná, depois de Curitiba.?

A baixa produção agropecuária, a falta de diversificação agrícola, o desemprego e as geadas severas eram componentes da realidade que exigia pronta intervenção. O primeiro passo previsto no plano foi a organização da base produtiva e a imediata capacitação do agricultor pitangueirense, tendo como referência os dinâmicos e interativos sistemas de produção e em cada um deles o dimensionamento e a gestão dos fatores terra, capital e mão-de-obra.

Município comemora resultados

O município ocupa 9,5 mil hectares, explorados com lavouras anuais e permanentes de forma intensiva, utilizando modernas técnicas de produção. São 376 produtores rurais, destes 91% constituídos de agricultores familiares, com 668 trabalhadores rurais volantes. O Valor Bruto da Produção, que em 1993 chegava a R$ 4,749 milhões, proporcionando uma agregação de renda média de R$ 395,00 por hectare produtivo, no ano de 2002 totalizou R$ 21,367 milhões passando a agregação de renda para R$ 1.780,00 por hectare produtivo. Estes avanços colocam Pitangueiras na 4.ª posição dentre os 20 municípios integrantes da Amepar.

O ICMS, que é uma das fontes de arrecadação do município, passou de R$ 130 mil para R$ 524 mil, dando capacidade de reinvestimentos nos equipamentos sociais de saúde, educação e lazer. Como a sede está estrategicamente localizada no centro do município, a população atual de 2.418 habitantes tem 1.091 domicílios na cidade e 777 habitações no campo.

Apoio governamental

O apoio do governo federal e estadual foram fundamentais para a municipalidade mudar a realidade de Pitangueiras. Somente o Programa Paraná 12 Meses do governo do Estado, através da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento com o Banco Mundial, alocou recursos no valor de R$ 722 mil, incluídas aqui as contrapartidas das parcerias conveniadas, para atender com repetição 432 famílias de produtores e de trabalhadores rurais. Do Pronaf foram realizados 42 contratos de investimentos e 179 contratos de custeio, superando R$ 900 mil. Criadas três vilas rurais, onde é verificada melhoria da qualidade de vida de 14% da população.

Entre as conquistas estão a instalação do Terminal do Trabalhador, que atende desde 1999 diariamente 150 trabalhadores volantes com a primeira refeição do dia, antes da lida no campo e a empresa VR Confecções, que emprega 16 pessoas moradoras de vilas rurais (VR). A distribuição de quase duas mil toneladas de calcário aumenta a produtividade das lavouras.

Foi viabilizada a estrutura e funcionamento da Associação dos Cafeicultores de Pitangueiras – Acapi, com 55 associados que fazem uso do barracão para armazenamento e beneficiamento do café colhido no município. Além disso um Centro de Educação Infantil abriga 160 crianças filhos de agricultores e de trabalhadores rurais, e o Centro de Educação e Esporte atende 120 jovens, ocupando-os durante o dia em contraturno escolar com atividades de artesanato, informática e esportes.

Vencedores confirmam

Produtor de café no sítio  Nossa Senhora Aparecida, de sua família, de 5 alqueires, na microbacia Magnólia-Canaby, Marcos Paulo Sgorlon, 27 anos, viu sua vida mudar. A começar pela sua rotina de trabalho na nova ocupação não agrícola, a de professor de informática, que o faz se deslocar todas as noites de 2.ª a 6.ª feira, três tardes e duas manhãs e atender numa sala do prédio do Centro de Educação e Esporte os seus 120 alunos da quinta a oitava série da rede estadual de ensino. ?Aqui completo a renda com um salário bruto mensal de R$ 379,00 e a minha felicidade como cidadão?, afirma.

Luzia Helena Moreira da Cruz, 39 anos, casada, mãe de 3 filhos, ex-empregada doméstica, moradora da Vila Rural Antônio Pinguelli, é presidente de uma associação criada para viabilizar a pequena empresa de facção de roupas. Ela presta serviços para indústrias de fora e já começa a assinar com a empresa VR as produções alternativas de bolsas promocionais. Ela não tinha casa e emprego, levava uma vida difícil, ?que desde 1996 vem mudando, mudando a cada dia?, assegura.

Vida difícil mesmo era a de João de Almeida Nabarro, 44 anos, enfrentada na lida de sua chácara São Bom Jesus, de apenas 1,5 alqueires. Vendo ruir todo seu esforço no cultivo do tomate e sem condições de garantir um financiamento bancário pela pouca área, resolveu vender tudo e ir embora com a família. No entanto, ele conseguiu financiar um barracão para seis criadas anuais de frango de corte, plantar 3 mil pés de café, que já estão dando a primeira colheita, cultivar amora e no novo barracão do bicho-da- seda tirar 8 criadas por ano.

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