Pesquisa e paciência podem dar resultado

Muita cautela, pesquisa exaustiva de preços e taxas e prazo máximo de 36 meses. Essa é a receita para quem quer fazer um negócio com tudo para dar certo, segundo o diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Frank Storfer. Para ele, os financiamentos de autos em prestações que se estendem de 84 a 99 meses precisam ser muito bem estudados.

O representante da Anefac entende que só daqui três ou quatro anos será possível ter uma idéia de possível inadimplência decorrente da atual postura do mercado automobilístico. ?Tudo vai depender de uma série de variáveis, como perda de emprego ou redução da renda do comprador e, ainda, outros percalços.?

Storfer argumenta ainda que, embora tenham recuado, as taxas de juros ainda são elevadas. Os 2,5% ao mês do ano passado baixaram hoje para uma média de 1,15%. Mas mesmo quem fizer por 1,8% ao mês um financiamento de R$ 26.700 em 60 meses vai gastar R$ 43.700, um acréscimo de 64%. ?Se a inflação for totalmente dominada a taxa de 1,2% para um financiamento de 99 meses será considerada muito alta.? Por tudo isso, o diretor da Anefac recomenda cautela redobrada ao decidir-se por uma compra financiada. ?Não se deixe levar pela emoção ou pela pressão de vendedores que dizem ?é só hoje?. Peça simulações e fuja definitivamente de decisões que façam você pensar que depois dá um jeito.?

Storfer tem um argumento definitivo contra a compra parcelada de um veículo em até 99 vezes. ?Um carro no valor de R$ 25 mil, com uma taxa de 1,15% ao mês, terá parcela de R$ 852 num plano de 36 meses; de R$ 579 em 60 meses, e de R$ 424 em 99 meses.? Ou seja, a diferença do plano de 36 vezes em relação ao de 60 prestações é de R$ 273 por mês (32%), caindo para R$ 155 por mês (26%) na opção de mais longo prazo, em relação ao plano de 60 meses.

Quadro é de inadimplência generalizada

Os muitos e-mails que recebe de pessoas desesperadas ou arrependidas por terem feito dívidas longas na compra de um carro levam o consultor financeiro Cláudio Boriola a ver um quadro de inadimplência a caminho no setor. ?Não quero ser pessimista, mas uma compra de carro em 84 ou até 99 parcelas é de alto risco e me remete à atual crise do setor imobiliário americano.?

Para quem está atrás de uma fórmula para se livrar do problema, ele sugere a pronta devolução do bem. ?Não adianta querer brigar. Tem de fazer a coisa de comum acordo. E só se lançar a uma nova compra depois de planejar bem, pesquisar muito, pechinchar e, de preferência, pagar à vista.? Boriola faz questão de deixar claro o peso dos juros. ?Numa compra de R$ 10 mil, se financia R$ 8 mil, você vai pagar R$ 19 mil lá na frente. Seu gasto é sempre infinitamente maior.?

Outra dica: ?Nunca atrase o pagamento da parcela. Eu mesmo atrasei uma mensalidade de R$ 400 e ela subiu para R$ 700?, diz Boriola. Depois do pesadelo, conta, nunca mais recorreu a uma compra parcelada. ?Tenho um Vectra 95 e um 98. Estão velhos, mas pagos, e são meus. Não quero nenhuma dor de cabeça.?

Antes de definir uma parcela de financiamento, o consumidor precisa relacionar todos os seus ganhos e gastos. ?Tem de relacionar as despesas fixas e as variáveis. E já deve especificar quanto terá de gastar com IPVA, seguro, estacionamento, combustível e manutenção do carro. É preciso reservar ainda 10% dos ganhos para despesas emergenciais?, ensina.

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