Perspectivas melhores para 2004

Rio e São Paulo  – Além do crescimento do emprego em 2004, economistas que acompanham o mercado de trabalho acreditam que a qualidade da ocupação tende a melhorar no ano que vem, ancorada na produção da indústria. O setor de bens duráveis, principalmente eletrodomésticos e automóveis, vai liderar esse processo de abertura de vagas, pois foi o primeiro a reagir à queda da taxa básica de juros (a Selic) este ano, de 26,5% em maio para os atuais 17,5%, dizem os analistas.

Bastante otimista, o economista Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que a grande mudança em 2004 virá com o aumento do emprego com carteira assinada:

– Conforme o crescimento econômico for alimentando o mercado, a taxa de desemprego vai cair (atualmente está em 12,9% da força de trabalho), aumentando o poder de barganha do trabalhador. Com isso, o rendimento vai subir mais rapidamente (em outubro, a renda do trabalho caiu 15,2%).

Para o economista, a indústria será a locomotiva do emprego, rebocando o resto do economia, depois de um ano que entrará para a história como um dos piores para o mercado de trabalho. Este ano, a ocupação deve crescer 3%, segundo Ramos, taxa invejável num momento em que as projeções para o crescimento da economia estão em mísero 0,2%. Ramos, no entanto, afirma que a abertura de vagas veio pelo emprego precário. Em outubro frente ao mesmo mês de 2002, a ocupação formal aumentou apenas 0,2%, enquanto a contratação sem carteira subiu 8,7% e o número dos conta-própria cresceu 11,1%:

– Das cerca de 600 mil vagas criadas nos últimos 12 meses, a quase totalidade veio da subocupação por insuficiência de renda (quando o trabalhador ganha menos que o salário mínimo/hora).

Para ele, já no segundo trimestre de 2004 o emprego vai reagir e a renda, a partir do segundo semestre. Na opinião de Ramos, como o salário já vai para o sexto ano seguido de queda, atingindo um nível muito baixo, a recuperação poderá ser mais rápida.

– Mas essa reação será gradual. O mercado de trabalho está na UTI. Somente depois de dois a três anos de crescimento sustentado a reação será mais significativa.

Voltar ao topo