Paraná buscará mercado para exportar mais carne

A ocorrência do ?mal da vaca louca? nos Estados Unidos pode deflagrar um novo momento de incremento nas exportações de carnes para o Paraná. A primeira fase ocorreu em 1999, após o surgimento da doença na Europa. De acordo com o diretor do Departamento de Fiscalização da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, Felisberto Baptista, o Estado poderá ser beneficiado não só com a exportação de carne bovina, mas também nas exportações de carnes de frango e suína.  

Para Baptista, o cenário favorece o Paraná e o Brasil na conquista de mercados mais exigentes e remuneradores como Estados Unidos e Canadá e da Ásia, liderada pelo Japão. ?Situações como essa justificam os investimentos que o governo do Estado vem fazendo na sanidade dos rebanhos?, alegou. Segundo o técnico, o governo vem trabalhando intensamente em programas de sanidade para garantir mercado e o aumento das exportações. ?Chegou a oportunidade também para os produtores aumentarem seus investimentos em sanidade?, orientou.

Baptista não acredita que haverá um aumento nas exportações de carne bovina de forma imediata. ?Considerando o comportamento do consumidor, a primeira reação será a de cancelar o consumo desse tipo de proteína substituindo pelo consumo de carne de frango ou de suíno. Depois é que os governos trocam de fornecedor. Nas duas alternativas, o Paraná tem chance de elevar as exportações, afirmou?.

A doença da vaca louca ocorre nos rebanhos alimentados com ração que tem como componentes resíduos de carne, como na Europa, Estados Unidos e Canadá. No Brasil, os animais são criados em pasto ou com ração vegetal à base de milho ou soja. ?São alimentos que oferecem risco mínimo ou desprezível para ocorrência do mal da vaca louca?, disse Baptista. ?O Brasil tem o reconhecimento internacional que oferece alimentação segura para o gado?, acrescentou.

BSE

A doença Encefalopatia Espongiforme Bovina conhecida como BSE ou ?mal da vaca louca? surgiu na Inglaterra em 1986. O mal é provocado por uma proteína infecciosa que ataca as células do cérebro dos animais. Os casos de BSE foram surgindo na Europa e gerou pânico em 1996, quando se soube que a doença poderia ser transmitida ao ser humano.

?Como o Paraná vem investindo na melhoria da sanidade dos rebanhos de forma geral, conseguiu elevar as exportações de carnes com a ocorrência da doença na Europa?, disse Baptista. Nos últimos quatro anos, o Estado conseguiu elevar em 50% as exportações de frango e em 508% nas exportações de carne suína. As exportações de carne bovina tiveram um incremento de 70% no período saindo de um patamar de US$ 30 milhões anuais para US$ 52 milhões anuais.

Nesses anos, o Paraná investiu na erradicação da febre aftosa, cujo reconhecimento internacional para área livre com vacinação ocorreu em maio de 2000. Além disso, foi o primeiro Estado a implantar um serviço público de rastreabilidade bovina, que vai garantir a sanidade dos animais conforme a exigência do mercado externo. ?A rastreabilidade implantada no Paraná é reconhecida como uma das mais completas porque identifica o animal desde seu nascimento?, detalhou Baptista.

Quase 30 países já suspenderam importação

Quase 30 países decidiram, ontem, deixar de importar carne americana, depois da descoberta do primeiro caso de vaca louca no Estado de Washington. Mais de dois terços das exportações de carne americana estão afetados pela proibição. Os Estados Unidos exportam aproximadamente 10% de sua produção, o que representa cerca de 3 bilhões de dólares anuais.

Os três principais importadores de carne americana, o Japão, o México e o Canadá, fecharam rapidamente suas fronteiras. O Canadá especificou que seu embargo não afeta todos os tipos de carne. O México suspendeu ?por precaução? suas importações, enquanto o Brasil, a Argentina, o Chile, o Paraguai, o Peru, a Colômbia e a Venezuela fecharam suas fronteiras. O Equador anunciou que tomará uma medida similar na próxima semana.

Na América Central, Costa Rica, Panamá e Guatemala aprovaram a mesma medida.

O Japão, maior cliente estrangeiro de carne americana com importações estimadas em 1,8 bilhão de dólares por ano, suspendeu rapidamente sua importações. Washington pediu à Tóquio que recomeçasse a comprar carne americana, garantindo que esta é ?própria? para o consumo.

Outro cliente importante, a China, com importações avaliadas em 500 milhões de dólares, também fechou suas fronteiras, assim como Coréia do Sul, Hong Kong, Cingapura, Malásia, Taiwan, Austrália, Tailândia, Vietnã e Indonésia.

No continente africano, apenas a África do Sul fechou sua fronteira. No Oriente Médio, tal medida foi aprovada pela Jordânia e pelo Qatar.

Por sua vez, a União Européia (UE) declarou estar ?acompanhando de perto a situação?, mas decidiu não impor novas restrições a suas importações, já reduzidas, de carne bovina americana. A Europa não consome muita carne americana, pois esta tem um alto nível de hormônios.

A Rússia, que importa principalmente aves, resolveu suspender ?provisoriamente? a importação de carne bovina americana, assim como a Turquia.

Prejuízo pode chegar a US$ 5 bilhões

O jornal USA today, edição de ontem, afirma que o impacto das conseqüências do primeiro caso do mal da vaca louca nos EUA pode chegar a US$ 5 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões). Segundo o jornal, o aparecimento do caso no Estado de Washington ?ocorreu em um momento de alta histórica de preços, com a oferta limitada e a demanda crescente, alimentadas pela popularidade da dieta de Atkins, de baixo teor de carboidratos?.

O jornal cita que a receita de gado bovino representa menos de 1% da atividade econômica dos EUA, que no ano passado foi de US$ 10,5 trilhões (em torno de R$ 31,5 trilhões). Segundo Brian Wesbury, economista da Griffin Kubik Stephens and Thompson, citado pelo USA Today, os impactos fora do mercado pecuário norte-americano é desprezível.

O diário americano ainda especula sobre os impactos no consumo interno. Segundo o jornal, Giant Foods planeja pendurar avisos em suas lojas para assegurar os clientes que sua carne é segura, diz o porta-voz Barry Scher.

Apesar de acreditar que seus produtos bovinos não serão afetados, Wal-Mart, Food Lion e Pathmark disseram que aceitarão devoluções dos clientes? diz a matéria. O McDonalds, maior rede de fast food do mundo, correu para explicar que não compra carne da região atingida pelo surto.

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