Paralisação dos auditores fiscais da RF já afeta indústrias

A paralisação por tempo indeterminado iniciada na última semana pelos auditores fiscais da Receita Federal já começa a afetar o fornecimento de matéria-prima para indústrias do Paraná. Com a operação-padrão desenvolvida pelos fiscais – que consiste no aumento da quantidade de carga fiscalizada nas alfândegas de portos, aeroportos e estações aduaneiras – a liberação de mercadorias importadas e exportadas torna-se bem mais lenta que o prazo normal.

“A operação-padrão no aeroporto Afonso Pena, na EADI (Estação Aduaneira de Interior) localizada na Cidade Industrial de Curitiba, e no Porto de Paranaguá incomoda as montadoras e começa a ter repercussão maior nas empresas que trabalham em tempo real, sem estoque”, constata Norberto Antunes Sampaio, presidente da Delegacia Sindical do Unafisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal) em Curitiba.

Na fábrica da Volkswagen/Audi, em São José dos Pinhais, a linha de produção foi prejudicada na semana passada devido à falta de peças importadas. Na quarta-feira pela manhã, não houve produção, e na quinta, foram fabricados cerca de 200 carros, menos da metade da média diária de 450 veículos. Segundo informações da comissão de fábrica, nessa semana a linha de montagem somente não está sendo prejudicada porque não haverá trabalho amanhã e sexta-feira, devido ao feriado. O estoque de peças é suficiente para manter as operações até hoje, conforme a comissão.

A fabricante de tratores e colheitadeiras Case New Holland confirma que está enfrentando problemas em decorrência da greve da Receita Federal, porém não quis fornecer detalhes das conseqüências da paralisação para a empresa.

Preocupação

As indústrias que ainda não sentiram impacto da operação-padrão temem pelos reflexos da continuidade do movimento. A Siemens, fabricante de centrais telefônicas públicas e ERBs (estações rádio base) para telefonia celular localizada na CIC, informou que “por enquanto a greve da Receita não está interferindo na produção, porque a empresa tem estoque”. Mesmo importando cerca de 20% dos componentes da Alemanha, assegurou que não está havendo atraso na entrega dos materiais.

A fábrica de ônibus e caminhões Volvo relatou que “no momento não sofre nenhuma implicação direta da greve da Receita”, mas destacou que o setor de logística está fazendo uma avaliação diária do volume de peças.

Na Renault, não houve atrasos na produção. “Até agora a fábrica não teve nenhuma parada por esse motivo (greve da Receita), mas se o movimento perdurar por muito tempo, a exemplo dos outros anos, é capaz de ter algum problema”, diz Núncio Manalla, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba. “Agora com o almoxarifado, eles trazem peças para estocar. Antes, a situação ficava complicada se ficasse dois dias sem vir peças do Porto”.

Apesar de não haver reflexo da operação-padrão na Renault, quase a metade dos funcionários (cerca de 700 pessoas) está de folga nesta semana. A montadora francesa está readequando as áreas de carroceria, pintura e parte da montagem para a fabricação dos novos modelos do Scénic e do Clio.

Auditores

O objetivo da paralisação dos auditores é pressionar o Congresso a votar o relatório do projeto de conversão em lei da Medida Provisória 2.175-29, que rege a carreira dos servidores. “Estamos em fase de queda de braço. Não conseguimos vencer a resistência do governo para abrir a negociação, mas com essa pressão, parece que o Executivo vai se mexer”, comentou Sampaio, que estava ontem em Brasília realizando contatos com parlamentares. (Olavo Pesch)

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