Paraguai acusado de ?exportar? aftosa

Foto: Arquivo

Rebanho paranaense: livre de aftosa, mas sem mercado externo.

O Paraguai foi mais uma vez apontado como o vilão da pecuária sul-mato-grossense ao ser considerado um exportador de febre aftosa, pelo diretor-presidente da Agência Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) João Cavalléro, durante entrevista coletiva realizada ontem em Campo Grande. Ele afirmou que existem 940 propriedades rurais na fronteira com o país vizinho, consideradas áreas de risco, onde é necessário um trabalho diuturno de prevenção da doença.

O encontro foi realizado devido a uma série de comentários sobre a descoberta de novos focos do vírus em Mato Grosso do Sul, em fazendas vizinhas do chaco paraguaio, o que foi negado. Cavalléro disse estar tranqüilo quanto ao combate à doença no estado, e que o mesmo não pode dizer sobre o Paraguai. ?Na prática, não existe um programa cooperação entre os dois países, embora desde 1965 haja acordo bilateral para a questão sanitária, mas infelizmente ainda não saiu do papel.?

As conseqüências dessa falha são apontadas a partir de estudos técnicos, revelando que o último foco originado no estado foi identificado em 24 de dezembro de 1994. Os demais ocorreram devido a reintrodução da doença, como por exemplo os casos registrados no extremo sul do estado em 2005. A região ainda sente os impactos econômicos e sociais que estão sendo amenizados devido à situação de emergência decretada pelo governo do estado, ainda segundo Cavalléro.

?O pior já passou?, enfatizou, informando que na sexta-feira (11) terminará a última etapa dos conjuntos de ações adotadas contra os focos de aftosa que atingiram cinco municípios do extremo sul entre outubro último e início deste ano. Trata-se das conclusões dos resultados finais das análises sorológicas feitas a partir de materiais colhidos de bovinos de fazendas situadas na área de risco, onde não foram encontrados animais doentes durante aquele período.

A expectativa nesse sentido é a melhor possível, conforme o superintendente federal de Agricultura no Mato Grosso do Sul, José Antônio Felício. Lembrou que os frigoríficos do MS estão normalizando as cotas de abates e recontrataram mais da metade dos 10 mil trabalhadores dispensados nos últimos 10 meses. ?Atualmente não existe mais aftosa no Mato Grosso do Sul, a prova maior é a reação positiva do mercado e o acrescente preço da arroba do boi gordo.?

Ele lamentou as interpretações errôneas sobre o trabalho de pesquisa em torno do material de análise enviado para o Rio Grande do Sul. ?Chegaram a comentar que, em uma primeira etapa, a pesquisa apontava possibilidade de novos focos de aftosa no estado. A abordagem do assunto não foi correta, a sorologia tinha dado resultado positivo para o reagente. Refizemos os exames e esclarecemos o mercado sobre o assunto, agora, não existe nenhum resultado que confirme que há aftosa, então, realmente fica a impressão de interpretação errada.?

Para o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Leôncio Brito, são boatos que surgem justamente quando a arroba do boi alcança alta acumulada de 17% no mês de julho. ?Vale lembrar que somente os produtores locais investem R$ 500 milhões em sanidade animal e agora querem impedir a evolução do estado e dos nossos negócios.?

Paraná ainda impedido de vender para a Rússia

A suspeita de novos focos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul não atrapalha os planos do governo e da iniciativa privada de pedir a reabertura do mercado russo para a carne fornecida pelo Brasil. ?Com exceção de Mato Grosso do Sul e do Paraná, os demais estados podem receber autorização para voltar a vender para a Rússia?, afirmou ontem o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Alves Maciel. Em relação a esses dois estados, Maciel disse que ?não existe a menor perspectiva de reabertura neste momento, porque os trabalhos sanitários não foram concluídos?.

Dois veterinários russos estão no Brasil desde o começo de agosto para vistoriar laboratórios, serviços de defesa sanitária e as regiões de Mato Grosso do Sul e do Paraná onde foram diagnosticados focos de febre aftosa a partir de outubro do ano passado. Só em Mato Grosso do Sul foram confirmados 33 casos da doença. Em resposta ao problema sanitário, o governo russo barrou as importações de carnes e subprodutos de oito estados brasileiros.

Os estados que não podem vender animais vivos, carne suína, bovina, produtos e subprodutos de carne crua de suínos e bovinos para a Rússia são Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. Em abril, o Rio Grande do Sul recebeu autorização para retomar as vendas para Moscou. Atualmente, além do Rio Grande do Sul apenas Tocantins e Rondônia estão habilitados a vender carnes para a Rússia.

Maciel contou que os veterinários russos e técnicos da Secretaria de Defesa Agropecuária terão uma reunião final na próxima segunda-feira (dia 14) na sede do Centro Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa), no Rio de Janeiro. Ontem, a missão realizou o segundo dia de visitas à chamada ?zona de risco? de Mato Grosso do Sul, que inclui parte dos municípios de Japorã, Eldorado e Mundo Novo. Os focos de aftosa foram diagnosticados nessas regiões.

Anteontem, o ministério confirmou que um primeiro exame para identificação da febre aftosa realizado em bovinos de Mato Grosso do Sul mostrou o resultado ?reagente? para a doença. Os animais são de fazendas localizadas na área de risco para a doença, o que, na avaliação de técnicos da secretaria, é ?normal?. Uma segunda coleta foi feita no dia 3 de agosto e o material está sendo analisado no Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) de Porto Alegre. Os resultados dessa análise devem ser conhecidos na sexta-feira (11).

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