Quase um mês de greve

Para Volks, resultado ideal não é mais possível

Embora a diferença do valor reivindicado para a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) 2011 dos trabalhadores da Volkswagen em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), represente menos de 1% (R$ 4,34 milhões) dos prejuízos gerados pela greve na montadora, que já deixou de arrecadar R$ 608,4 milhões, o fim do impasse continua incerto. A greve completa 30 dias nesta sexta-feira (3).

Matematicamente, a empresa reconhece essa disparidade, porém, deixa clara a intenção de fazer desse conflito um divisor de águas nas negociações trabalhistas daqui para frente.

“A questão não está no nível de compensar ou não. Precisamos restabelecer a lógica do processo de negociação dentro de parâmetros de razoabilidade que levem em consideração a estabilidade do processo produtivo, avanços para os trabalhadores e a competitividade da empresa”, aponta o diretor de relações trabalhistas da Volkswagen do Brasil, Nilton Júnior. “A greve é uma ação extremada que deveria ser o último recurso nessa relação entre as partes e, não o primeiro, como vem sendo”, avalia.

Segundo ele, sem contar com a greve atual, que completará um mês nesta sexta-feira, a interrupção da produção como recurso de negociação já paralisou 39 dias em cinco anos. “Nas unidades de São Paulo, oficialmente, não registramos um dia de greve no mesmo período. Essa instabilidade precisa acabar”.

Pelos dados da direção da Volkswagen, a unidade de São José dos Pinhais foi a que apresentou o maior percentual de reajuste salarial dos últimos cinco anos: 40% de aumento, contra 33% de outras unidades. Quanto a PLR, ele aponta para uma evolução de 128% no total pago para a unidade de São José dos Pinhais, embora admita que a PLR de 2010 ficou em R$ 9 mil para os trabalhadores do Paraná, e R$ 10 mil para os funcionários do ABC paulista. “A inflação do mesmo período foi de 22% e o reajuste no preço final dos veículos produzidos pela Volkswagen ficou em 15%”, pondera.

Contudo, o diretor de relações trabalhistas diz não possuir a evolução do faturamento da Volkswagen ao longo desse período, que contou com o superaquecimento do mercado interno, com consequência direta nas vendas recordes de carros no país.

Quanto ao fim da greve e em que moldes, o diretor diz que é impossível prever. “A negociação se desenvolve em mesa. Resultado ideal não é mais possível. Todos os envolvidos já tiveram prejuízos, os trabalhadores já foram descontados e a empresa também registra perdas”, explica. Pelo acompanhamento do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, em 29 dias de paralisação, 17.010 carros deixaram de ser produzidos, o equivalente a R$ 680,4 milhões que deixaram de ser arrecadados.

Flexibilização da jornada de trabalho

Um dos pontos que fez os grevistas recusarem a nova proposta da Volks, no início da semana, foi o aumento na jornada de trabalho para mais sete sábados em 2011 e outros dez em 2012. O argumento do SMC é que a unidade de São José dos Pinhais opera no limite da capacidade e possui muitos casos de afastamento médico. Entretanto, o diretor de relações trabalhistas afirma que isso não é condizente com a realidade da empresa. “Seguimos padrões de segurança e de ergonomia. Nenhum índice de afastamento médico é aceitável, mas não concordamos que a montadora esteja com algum problema nesse sentido”, avalia Nilton Júnior.

Quanto a ampliação da jornada, ele explica que faz parte do processo de planejamento da empresa. “Precisamos acordar isso, para o nosso planejamento de volume adicional de produção. A empresa precisa poder contar com seus funcionários para gerar esse volume complementar”, defende.

De acordo com o diretor, os dias a mais tem uma situação diferenciada de pagamento e há compensações nos feriados por conta dos sábado extras.