OMC rejeita encontro de chefes de Estado

A Organização Mundial do Comércio (OMC) praticamente enterrou de vez a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de organizar uma cúpula de chefes de Estado para desbloquear as negociações da Rodada Doha. Em uma conversa com internautas de todo o mundo promovida ontem, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, afirmou que esse não seria o momento adequado para uma cúpula, mas admitiu que o Brasil, ao lado de Índia e China, serão ?os elefantes do comércio mundial no século 21?.

A proposta de Lula foi feita no final de 2005, quando a reunião ministerial da OMC em Hong Kong estava sob o risco de um fracasso diante da falta de entendimento entre os países. Lula, então, ligou para o premiê inglês, Tony Blair, para pedir ajuda na organização do evento. Falou também com o presidente americano, George W. Bush.

?Cúpulas desse estilo, cujo formato levaria um bom tempo para se definir, podem ser úteis se há uma falta de energia política para negociar. Eu não acredito que esse seja o caso no momento. O que precisamos fazer é negociar números e textos, o que chefes de Estado não farão de qualquer maneira?, afirmou Lamy.

O diretor da OMC, porém, não é o primeiro a descartar a idéia de Lula. Há uma semana, em Moscou, os ministros das Finanças do G-8 (grupo dos países mais ricos do mundo) não aceitaram a proposta do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, de incluir na declaração final do encontro uma referência à necessidade da cúpula. Thierry Bretton, ministro das Finanças da França, chegou a dizer que a Europa não tinha uma posição fechada sobre a utilidade dessa cúpula.

Na OMC, Lamy também virou as costas para outra proposta de Lula: a de estabelecer uma votação para as decisões sobre as negociações. Na semana passada, na África do Sul, o presidente defendeu que a OMC passasse a tomar decisões por maioria, e não por consenso, como é a tradição no momento. O chanceler Celso Amorim, mais tarde, afirmou que se tratava apenas de um desabafo de Lula diante da dificuldade de fazer com que os países ricos aceitassem uma liberalização no setor agrícola.

Apesar de rejeitar ambas propostas de Lula, Lamy deixou claro que não acredita que as eleições no Brasil terão um impacto negativo no compromisso do País nas negociações da OMC. ?Estou convencido de que o compromisso do Brasil com a rodada e com o sistema multilateral do comércio é compartilhado por todo o espectro político brasileiro. Portanto, não espero mudança substancial, seja qual for o resultado das eleições, disse.

Já sobre as negociações, Lamy acredita que a OMC conseguirá cumprir o prazo de abril para chegar a um acordo preliminar sobre como realizar os cortes tarifários para produtos agrícolas e industriais. Para ele, as ofertas de redução de subsídios dos países ricos são grandes e beneficiará as economias em desenvolvimento. O Brasil, porém, não vê a situação da mesma forma e quer mais concessões.

Para Lamy, o acordo será obtido quando os europeus se mostrarem flexíveis sobre suas tarifas agrícolas, quando os americanos aceitarem reduzir seus subsídios agrícolas e quando Brasil, Índia, China e África do Sul reconhecerem que precisam cortar suas barreiras para bens industriais.

Voltar ao topo