Obras no aeroporto permanecem no papel

Há três anos, O Estado publicava uma matéria sobre os projetos previstos à época para o Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. A Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) havia acabado de dar permissão à abertura dos processos licitatórios para três projetos que já estavam prontos: a construção de um edifício-garagem, do aeroshopping e reforço nas pistas. Esta semana a reportagem voltou ao aeroporto para verificar o andamento das obras – e constatou que, desde janeiro de 2004, apesar das previsões otimistas, pouca coisa saiu do papel.

As razões envolvem uma série de fatores, explica o superintendente do aeroporto, Antônio Filipe Barcelos. A começar pelo edifício-garagem, que, mesmo sendo necessidade antiga do Afonso Pena, teve de ser rediscutido. ?Ainda não temos uma definição da diretoria com relação à modalidade de contratação (da empresa que executaria a obra)?, afirma. ?Estamos envidando esforços para que achem uma solução, mas ainda não há certezas com relação a este assunto?. Prazos, portanto, também não existem. A única coisa que Barcelos adianta é que o projeto continuaria o mesmo, contemplando a implantação de 2,6 mil vagas contra as atuais 670 – apesar do aumento anual verificado na circulação de passageiros. Conforme o projeto, após o início das obras, são 18 meses até a conclusão dos trabalhos.

Já o aeroshopping está em andamento. O projeto teve de ser remodelado, mas, no ano passado, seu principal objetivo foi concluído: a transferência das lojas de varejo aeroportuário para o piso de baixo, onde se localizam os balcões de check-in das companhias aéreas. ?Os dois lados do piso estão praticamente tomados. Fizemos isso pela necessidade de incrementar o movimento, que está relacionado ao perfil do usuário, executivos que não permanecem muito tempo no aeroporto?, justifica. Segundo Barcelos, a simples descida fez com que uma das lojas do aeroporto aumentasse seus rendimentos em até 30%. ?E ainda há outra parte do projeto que contempla o reposicionamento do check-in. A idéia é que fique em L, no meio do saguão, para que em um terceiro momento façamos um novo incremento na área comercial, aproveitando o espaço que utilizam atualmente?, adianta. O superintendente estima que a transferência dos balcões custará à Infraero cerca de R$ 500 mil e que deve ser concluída ainda este ano. A área comercial, lembra, é uma de suas fontes de receita mais importantes.

Pista

Com relação à principal demanda do aeroporto, a ampliação da pista, com atuais 2.216 metros, o superintendente lembra do anúncio feito no ano passado. ?Divulgamos a intenção de ampliá-la em 375 metros, além de fazer um reforço com obras complementares, como um pátio novo?, cita. As obras, entretanto, não têm prazo para começar, uma vez que ainda estão sendo feitos estudos de impacto ambiental para posterior licenciamento e, só então, abertura de licitação de projeto e execução. A medida promoverá ganho operacional, uma vez que aeronaves cargueiras poderão pousar e decolar com maior peso – o que hoje é limitado pela extensão da pista. ?Mas ainda não é a situação ideal, como seria sair um vôo direto daqui para Europa e Estados Unidos?. Devido à pista curta, os aviões têm de abastecer ou ser preenchidos com mercadorias em outros aeroportos. A solução definitiva existe, está no papel desde a época do anúncio dos projetos e tem inclusive área desapropriada para este fim. É uma terceira pista, com 3,4 mil metros – mas que, segundo Filipe Barcelos, deve voltar a ser discutida somente depois da ampliação prevista para a pista já existente.

Sem mudanças, dentro de cinco anos será o caos

Foto: Fábio Alexandre
Antônio Azevedo, da Abav: fluxo justifica investimentos.

O presidente da regional paranaense da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV), Antônio Azevedo, acredita que, se intervenções consideráveis não forem feitas no Afonso Pena, dentro de cinco anos o aeroporto deve estar ?estrangulado?. ?Teremos congestionamento de pessoas, problemas com embarque e desembarque, falta de lugar para acomodar os passageiros?, prevê. Para Azevedo, a infra-estrutura atual é considerada básica para as demandas paranaenses, o que resultaria em perdas no curto prazo. ?Curitiba é um dos principais pólos de negócios do País, mas para poder se firmar como um centro econômico é necessário ter um aeroporto adequado, e o nosso está acanhado?, considera.

O dirigente afirma que muito pouco tem sido investido pela Infraero no aeroporto de Curitiba, um dos principais arrecadadores da empresa. ?Em comparação a outros aeroportos, há alguns com fluxo muito menor que vão ficar mais amplos. É o caso de Florianópolis, que tem praticamente a metade de embarques e desembarques; Foz do Iguaçu também vai superar Curitiba, além de Natal, onde há menos que um terço do fluxo de passageiros daqui e, mesmo assim, vão fazer um aeroporto novo?, cita. O que se faz por aqui hoje, define, é insuficiente. ?Os investimentos em Curitiba são muitíssimo baixos; só maquiagens e pequenas obras.?

Sem luxo

Nada de cascatas ou fontes luminosas. O que Antônio Azevedo reivindica para o Afonso Pena são ampliações que comportem o crescente fluxo de passageiros. ?Vamos para onze anos da inauguração do terminal e ainda estamos do mesmo jeito. Temos salas de embarque lotadas em muitos horários, não há cadeiras suficientes, faltam balcões de atendimento e pontes de acesso. E tem horas em que o estacionamento fica lotado?, alerta. Ele atribui à falta de visão estratégica os rumores de que o Afonso Pena acaba de perder a chance de se transformar em um dos aeroportos internacionais brasileiros com pousos e decolagens da companhia portuguesa TAP. ?É a companhia aérea que tem maior numero de vôos estrangeiros no País, cerca de 60 semanais. Mas já estou sabendo de fontes secretas que vamos perder para o aeroporto de Brasília.?

Azevedo defende ainda a construção imediata da terceira pista. ?Custaria em média R$ 130 milhões, contra cerca de R$ 80 milhões a serem gastos com a ampliação, que constitui uma medida paliativa?. Mas o superintendente do aeroporto, Antônio Filipe Barcelos, afirma que, apesar de haver interesse em investir na ampliação do aeroporto de Curitiba, outros estão na fila de espera. ?A Infraero administra 67 aeroportos no Brasil inteiro. Há demandas nacionais e é necessário seguir uma seqüência dentro das prioridades estabelecidas.?

Free shop não tem data para ser implantado

À época do anúncio dos projetos, a Infraero também previa um free shop para o Afonso Pena. Entretanto, devido ao não cumprimento das expectativas com relação ao aumento do fluxo de passageiros internacionais, a idéia foi abandonada. ?O free shop depende de autorização da Receita Federal, que só considera viável a instalação quando há circulação acima de 90 mil passageiros/ano. E nós fechamos 2006 com 69,5 mil?, compara o superintendente Antônio Filipe Barcelos.

Apesar de o número atual ser mais que o triplo de 2003 (22,4 mil), o congelamento da quantidade de vôos internacionais diários (cinco, no total) e a constante oscilação no número de passageiros desde aquela época resultaram em crescimento aquém do esperado com o agravante que alguns destinos saíram de linha. ?Hoje não temos vôos diretos para Europa e Estados Unidos (havia anteriormente para Miami e Frankfurt). Infelizmente não houve demanda que os justificasse?, explica. Atualmente, saem vôos diretos do Afonso Pena somente para Assunción, no Paraguai, e Buenos Aires, na Argentina.

Incremento

Prova da inconstância em termos de passageiros internacionais foram os números de 2004, quando quase 85 mil pessoas advindas de outros países passaram pelo Afonso Pena, cumprindo as previsões otimistas para aquele ano. No entanto, o ano seguinte viu este número cair para 55 mil e fechar 2006 com certa recuperação. Ainda assim, longe do recorde de três anos atrás.

Já os passageiros de vôos domésticos aumentaram acima da média nacional em 2005, passando dos 2,7 milhões em 2004 para 3,3 milhões no ano seguinte, motivados especialmente pelas promoções e maior procura pela aviação como meio de transporte. Em compensação, no ano passado, a movimentação total no aeroporto cresceu somente 4,10%: ?Logicamente esperávamos uma acomodação depois de tamanho crescimento, mas a crise no mês de dezembro (apagão aéreo) afetou nossas projeções?. Ainda que não o suficiente para mexer no faturamento da Infraero com o Afonso Pena, que fecha 2006 na casa dos R$ 58 milhões e com movimentação total de 3,53 milhões de passageiros, números auxiliados pelo aumento nas taxas de embarque, maior movimentação de cargas e incremento na área comercial. Do montante, R$ 30 milhões devem ser aplicados na manutenção do aeroporto e outra parte, destinada à reformulação da área de desembarque de passageiros internacionais, desafogando as salas atuais.

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