O que fazer com o décimo terceiro salário

O final de ano está chegando e com ele o 13.º salário. Aguardado com ansiedade pela maioria esmagadora de trabalhadores, o ?décimo? vem para aliviar um pouco as contas, refrescar o cartão de crédito estourado ou o cheque especial ?no vermelho?. Para os poucos privilegiados que encerram o ano sem dívidas, o salário extra pode servir para realizar um sonho de consumo, como uma viagem, a compra de um televisor ou a troca do carro. Mas, antes que a empolgação venha à tona, é importante lembrar que o início de ano vai chegar repleto de contas, como o IPTU, o IPVA, licenciamento e seguro do veículo, matrícula escolar, uniforme, entre outras despesas extras.

?Muita gente aproveita o 13.º para realizar sonhos de consumo. Porém, para não gastar tudo de uma vez só, acaba parcelando as compras no cheque ou no cartão de crédito. Esse pode ser o primeiro passo para iniciar o ano com novas dívidas?, alertou o consultor financeiro Cláudio Boriola, especialista em economia doméstica e direitos do consumidor. ?A melhor forma é comprar o que for necessário e à vista. Também é importante controlar a ansiedade para que as parcelas não se tornem um pesadelo.?

O consultor disponibilizou em seu site (www.boriola.com.br) uma enquete perguntando o que a pessoa irá fazer com o 13.º salário. Os dados parciais, informou Boriola, são de que 72,55% dos entrevistados irão pagar dívidas, 5,88% vão aplicar o dinheiro na poupança, 3,92% irão comprar presentes, 3,92% já anteciparam a quantia no banco e 13,73% ainda não sabem.

Boriola afirmou que quem vai usar o salário extra para quitar dívidas deve ficar atento aos juros cobrados. ?Os juros não podem ser superiores a 1% ao mês. Se forem, são considerados abusivos, e o melhor é pedir socorro ao Poder Judiciário para discutir isso?, apontou. Para quem pretende usar o décimo terceiro para comprar presentes, o consultor lembrou que é aconselhável, primeiramente, saldar os débitos anteriores. Também é bom pesquisar antes de efetivar qualquer compra. ?Há casos em que é possível encontrar diferença de preço de até 60% de uma loja para outra.?

Para aqueles que pensam em antecipar o 13.º para pagar dívidas, Boriola não recomenda. ?Meu conselho é para que a pessoa não entre nessa armadilha. Se me perguntam se é vantajoso antecipar o 13.º com juros de 3,5% ao mês para pagar os juros de um cheque especial, de 8,7%, minha resposta é não. Não recomendo fazer uma dívida para pagar outra?, disse, contrariando a opinião de muitos economistas. Para Boriola, o ideal é que o brasileiro consiga guardar o 13.º em poupança, o máximo valor possível. ?Para o bom uso do salário extra, o ideal é utilizar parte como pagamento das contas do novo ano, lembrando que poupança é uma grande alternativa sempre?, recomendou.

Aplicação

Para o economista e vice-reitor do UnicenP, José Pio Martins, é necessário dividir os trabalhadores em dois grupos: aqueles que têm dívidas e os que não têm. ?Para quem tem dívidas, o melhor é se livrar dos juros. Já para quem não tem, meu conselho é de gastar metade e guardar a outra metade?, recomendou Martins, acrescentando que o País tem uma economia de risco e que a possibilidade de ficar desempregado e ver a renda cair é muito grande.

Quanto às aplicações, Martins sugere fundos de renda fixa para quem tem um bom montante e pode deixar o dinheiro aplicado por um longo tempo. ?Fundos de renda fixa nada mais são do que títulos do governo federal, que rendem cerca de 19,5% ao ano?, explicou. Para quem não dispõe de muito dinheiro e precisa de liquidez, Martins recomenda a caderneta de poupança. ?A poupança é uma boa opção, mas a taxa de juros é muito pequena.?

Para aqueles que estão pagando juros do cheque especial ou do cartão de crédito, antecipar o 13.º pode ser um ?grande negócio?, segundo Martins. ?O ideal é negociar os juros com o credor para ter um abatimento, um desconto. O juro no Brasil é extorsivo?, criticou.

Como muitos trabalhadores costumam aproveitar o período de final ou início de ano para tirar férias, um terço do salário a mais pode se somar ao 13.º. O economista, porém, recomenda cautela. ?O melhor é tirar férias modestas. Fazer dívida para pagar uma viagem de férias é suicídio?, arrematou Pio Martins.

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