O lixo que pode proporcionar grandes lucros

O que é lixo para alguns pode servir como matéria-prima para outros. Dentro desta linha, um número cada vez maior de empresas estão vendendo ou mesmo doando os resíduos gerados ao longo do processo de produção – incluem-se aí desde plásticos, papéis, madeira, metais, até itens mais peculiares como óleo de fritura. Na outra ponta, estão as indústrias interessadas nesses materiais e dispostas a pagar por eles um bom preço.

?Costumamos dizer que o resíduo é a matéria-prima no lugar errado?, afirmou Reinaldo Tockus, coordenador de Serviços Técnicos e Tecnológicos do Senai-PR (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial no Paraná), que faz parte do Sistema Fiep. Há cerca de seis anos, o Senai-PR criou o programa Bolsa de Reciclagem, cujo objetivo é aproximar as duas pontas da cadeia: quem tem os resíduos e quem precisa deles.

O programa, que conta com mais de 4 mil cadastrados, já realizou cerca de 6 mil operações ao longo desses anos. ?Quem compra são indústrias não só do Paraná, mas de São Paulo e Santa Catarina. Também já houve negócios com o Mato Grosso e Minas Gerais?, afirmou. De acordo com o coordenador, a bolsa serve como uma espécie de ?vitrine? que aproxima as empresas. Ele não soube informar em valores monetários o montante de negócios fechados dentro do programa. ?Nós fazemos a aproximação, mas as empresas negociam à parte. Não entramos nessa parte financeira?, afirmou.

Entre os resíduos que têm compradores garantidos estão plásticos, madeira, papel, vidro e metais. ?Existem alguns resíduos que, pela peculiaridade, têm uma colocação mais difícil. Mas outros (citados anteriormente), a demanda é muito maior do que a oferta?, apontou.

Todos os meses, segundo Tockus, são comercializados entre 200 e 300 toneladas de resíduos através da bolsa, mas esta quantia já chegou a 500 toneladas. ?É um segmento que vem crescendo muito. As pessoas estão percebendo que se trata de uma ferramenta importante e que há retorno financeiro?, observou.

Mas não basta ter um bom estoque de resíduos para começar a vender. De acordo com o coordenador do Senai-PR, os fornecedores têm que prestar informações seguras sobre a composição dos materiais, ensaios laboratoriais, indicação se há componentes químicos como magnésio, potássio e outros. ?A empresa é responsável por aquilo que ela comercializa e pela garantia do resíduo?, explicou.

Plásticos

A Tegmen Plásticos S.A, do grupo Kapersul, é uma das empresas que vêm investindo no setor de reciclagem. Desde 2002, ela recolhe polietileno de baixa densidade (plástico-filme, utilizado na fabricação de embalagens, sacolas) de indústrias, depósitos e cooperativas de catadores de papel e executa todo o processo de reciclagem. ?São quase 400 toneladas processadas por mês?, apontou o gerente comercial, Alexandre Furuta. Com a aquisição de mais uma máquina – a terceira neste segmento -, que deve estar funcionando plenamente em outubro, a quantidade deve passar para 800 toneladas por mês. ?Com esta quantidade, será uma das maiores do País?, apontou Furuta. A Tegmen tem 70% de seus clientes concentrados em São Paulo.

As mil e uma utilidades do óleo vegetal ?queimado?

Quando se fala em reciclagem, logo vem à mente produtos como papel, lata, vidro e plásticos. Poucos sabem que itens mais peculiares também podem ser reciclados; é o caso do óleo vegetal utilizado em frituras.

Produzido aos montes nas cozinhas dos restaurantes, bares, pastelarias, cadeias de fast food e indústrias alimentícias no geral, o óleo de fritura normalmente representa um problema para quem o utiliza: não pode ser jogado no esgoto, sob o risco de entupir os encanamentos públicos, nem ser descartado em rios ou no solo.

De olho neste nicho, o empresário Marcos Dalcin, de Itaperuçu, na Região Metropolitana de Curitiba, decidiu apostar alto e fundou a Ambiental Santos – empresa que recicla atualmente cerca de 160 toneladas de óleo vegetal usado por mês. ?Pegamos o óleo desde em restaurantes, fast-food, padarias, pastelarias, até indústrias como a Elma Chips?, conta Dalcin.

Segundo ele, a empresa oferece desde serviço 24 horas -que funciona de segunda a sexta, basta que o estabelecimento ligue dizendo que há óleo disponível -, até serviço semanal ou quinzenal. ?Na Cidade Industrial, por exemplo, passamos recolhendo toda quinta-feira. No Centro, é toda sexta-feira, às 7h?, explicou Dalcin.

Tamanha demanda exigiu um planejamento de logística e investimento pesado: cerca de R$ 1,5 milhão. Hoje a empresa conta com seis caminhões, com plataformas especiais, e atende não apenas a Grande Curitiba, como a região de Campos Gerais, e parte do estado de Santa Catarina. ?Nós deixamos nos restaurantes, padarias, embalagens de 50 a 200 litros, conforme a necessidade?, explicou. Os grandes estabelecimentos, segundo o empresário, não cobram pelo óleo usado – apenas exigem a certificação sobre o destino do resíduo. Já os pequenos trocam o óleo por detergentes e sabão em pasta.

Além de ser utilizado na fabricação de sabão, o óleo – depois de ?lavado?, filtrado e classificado – é usado nos setores da construção civil (como desmoldante), ração animal e fertilizantes. ?Atendemos entre 20 e 30 empresas de vários portes, entre elas a J. Malucelli, a Cesb?, contou. Segundo ele, o óleo vegetal reciclado representa economia de, no mínimo, 35% em relação ao óleo novo.

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