Mercado espera US$ 5 bi do BC para a exportação

Brasília  – Com o novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central deverá aumentar a atuação no mercado para suprir a demanda por linhas de crédito de comércio. A expectativa do mercado é de que o BC oferte algo entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões para resolver um dos principais motivos da alta da cotação da moeda estrangeira nas últimas semanas: a escassez de recursos para que empresas exportadoras e importadoras brasileiras possam rolar suas dívidas.

Esses recursos usados pela autoridade monetária não seriam incluídos no cálculo do piso de reservas internacionais líquidas, definido pelo FMI. Desde a segunda metade de julho, a falta de crédito para o setor privado se intensificou por causa das turbulências no mercado doméstico. O crédito comercial, que normalmente não é afetado em momentos de crise, secou.

Segundo fontes do governo, as matrizes de bancos estrangeiros que operam no País não renovaram as linhas de créditos e, com isso, houve uma forte retração na oferta. Além disso, a alta do dólar incentiva o exportador a fechar a operação para aumentar os seus ganhos em reais.

Fila

Essa procura extra foi direcionada para o Banco do Brasil que, da noite para o dia, viu crescer a fila de candidatos ao financiamento comercial. O BB, entretanto, não teve condições de atender a essa demanda adicional. Primeiro porque, com a desvalorização do real, o orçamento da instituição para essa modalidade de crédito, que é em reais, minguou. Depois porque o banco já responde por 22% do mercado e tem outras áreas para atender como o microcrédito.

Com a desculpa de ser um banco oficial e, por isso, ter sua atuação mais visível do que a das demais instituições que operam no País, a direção do BB se nega a dar informações detalhadas sobre o volume atual dessas linhas voltadas para o comércio exterior. O presidente da instituição, Eduardo Guimarães, chegou a admitir que os recursos diminuíram, mas garantiu que as linhas não secaram.

O presidente do BB desmentiu a informação de que a instituição estaria emprestando recursos apenas para as grandes empresas. Guimarães assegurou que, na medida do possível, o BB vem atendendo indistintamente seus clientes, inclusive os pequenos e médios. Ele também disse que o banco continua de olho no mercado internacional, o que pode significar uma nova captação assim que surgir uma brecha. Recentemente, o BB captou US$ 300 milhões.

Crédito mais fácil para as pequenas

O Banco Central vai criar um mecanismo pelo qual as micro e pequenas empresas brasileiras a exemplo de pessoas físicas – poderão requerer da rede bancária o seu histórico de crédito, que será aceito como garantia para empréstimos e financiamentos no sistema financeiro.

A facilitação do acesso ao crédito faz parte do pacote de medidas que estão sendo estudadas para atender propostas apresentadas em relatório produzido por um grupo de trabalho, criado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O relatório foi entregue anteontem ao presidente do BC, Armínio Fraga, pelo presidente do Sebrae, Sérgio Moreira, em visita inédita do mais alto dirigente do sistema financeiro à sede do órgão.

Segundo o presidente do BC, o sistema de histórico de crédito, que deve ser implementado em pouco tempo, é uma idéia simples que, para o microempresário, funcionará muito bem. Entre as sugestões para melhoria do acesso ao crédito está a inclusão, na nova Central de Risco do BC, de um cadastro com informações positivas sobre as micro e pequenas empresas adimplentes e a criação de uma companhia de seguro de crédito privada para atender às micro e pequenas empresas.

“Nós do Banco Central temos um especial carinho por questões ligadas à capilarização do crédito. Esse grupo que trabalhou e produziu esse documento não poderia ter nos dado subsídio melhor”, ressaltou Armínio.

Ele prometeu que até amanhã estará constituído o grupo de trabalho que vai coordenar, dentro do órgão, a implementação das medidas.

AEB projeta superávit de US$ 6,2 bilhões

Rio

(AE) – A expectativa de aumento do ritmo de desaquecimento da economia levou a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) a revisar ontem, pela primeira vez desde o fim do ano passado, sua projeção para os resultados da balança comercial no ano. A estimativa de superávit subiu para US$ 6,2 bilhões, ante US$ 4,1 bilhões da previsão anterior. As importações deverão ter queda maior (-12,7%) do que as exportações (-6,1%), na comparação com o ano passado.

O diretor da entidade, José Augusto de Castro, disse lamentar que o resultado projetado, que “poderia ser considerado excelente” não seja conseqüência de um aumento das exportações, mas de queda das importações. “Um superávit provocado por redução nas importações não cria empregos ou desenvolvimento”, disse. A AEB projeta crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1,5% e 2%, ao contrário dos 2 5% a 3% estimados em dezembro de 2001, com “forte retração das importações e, como conseqüência, elevado superávit comercial”.

Para a AEB, somente as exportações de produtos básicos serão um pouco maiores neste ano (0,7%) em relação ao ano passado. Nesse caso, os destaques de alta serão do petróleo em bruto (50%) e da carne suína (35%). Por outro lado, caem as vendas externas de industrializados (-8,2%), com destaque para os produtos manufaturados (-10,9%). As principais reduções deverão ser registradas em aviões (-30%), em conseqüência da já anunciada queda nas encomendas da Embraer, óleos combustíveis (-45%) e chassis com motor e carroçarias (-35%).

O economista explica que a queda das exportações está relacionada a fatores como a redução abrupta do comércio com a Argentina, a queda das vendas dos aviões da Embraer e o desaquecimento da economia mundial. No caso das importações, a estimativa da entidade aponta que um aumento ocorrerá apenas em petróleo (0,2%), enquanto cairão no período as compras de bens de capital (-14,2%); matérias primas e intermediários (-12%), bens de consumo (-16,9%) – especialmente de duráveis, com redução prevista de 28,8% – e combustíveis e lubrificantes em geral (-7,6%). A reduzida demanda de consumo interna e a queda da produção industrial diminuíram as compras feitas pelo País.

O comércio do Brasil com outros países apresentará trajetórias bem diversas, com quedas expressivas das vendas para a Argentina e aumento do superávit com os Estados Unidos. O déficit comercial do País com os argentinos em 2002 deverá chegar a cerca de US$ 2,9 bilhões, comparativamente a US$ 1,2 bilhão do ano passado, em conseqüência da queda de 60% prevista nas exportações e redução de 20% nas importações daquele país no período.

Na balança comercial com os Estados Unidos, a AEB projeta um superávit para o Brasil de US$ 3,8 bilhões neste ano, ante US$ 1,3 bilhão obtidos em 2001.

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