Mercado desaba no Brasil e real bate valor histórico

São Paulo

(AG) – O dólar comercial encerrou ontem os negócios em alta de 2,53%, a R$ 2,835 na compra e R$ 2,840 na venda, no maior fechamento do mercado desde o início do Plano Real. Em 21 de setembro de 2001, logo após os atentados contra os Estados Unidos, o dólar fechou a R$ 2,835, depois de atingir a máxima de R$ 2,840 naquele dia.

A cotação ficou praticamente paralisada na última hora de negociação de ontem. Na máxima do dia, a moeda americana atingiu R$ 2,844, batendo um outro recorde: a maior cotação já registrada nos negócios desde o meio de 1994.

Enquando isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 4,68%. O Ibovespa ficou em 10.397 pontos e volume financeiro de R$ 709,9 milhões. O Ibovespa atingiu o menor índice desde o dia 9 de outubro de 2001, quando registrou 10.284 pontos. No mês, a bolsa acumula queda de 19,1% e no ano redução de 23,4%. Uma oferta de títulos indexados ao câmbio, confirmada pelo Banco Central, ajudou a conter o mercado durante várias horas pela manhã; mas, depois, começaram a pesar outros indicadores, entre eles a perspectiva negativa das agências de classificação internacional sobre a economia do país, o que significa que novos rebaixamentos poderão ser feitos, o que afeta a venda dos títulos da dívida externa.

As autoridades brasileiras tentam transmitir mensagem de tranqüilidade. O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, assegurou que a crise do momento é “conjuntural” e que o BC tem meios para enfrentá-la. Ele garantiu que a instabilidade financeira que vive o país será passageira. “O mercado é humano, tem humores. Às vezes fica eufórico, às vezes deprimido”, afirmou Fraga. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, também deu declarações tranqüilizadoras. O mercado está sensibilizado por uma degradação da perspectiva da nota da dívida em divisas do país por parte da agência de classificação Moody’s, à qual se somou a Fitch.

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola disse que não há razões técnicas para justificar a alta do risco-Brasil, que subiu 15% na quinta-feira e um pouco mais ontem, superando até o índice da Nigéria. No seu entender, porém, houve um exagero. “Não há nada que justifique esse prêmio de risco e tenho quase certeza que esses preços vão se ajustar. A dívida brasileira e a nossa bolsa ficaram muito baratas e o dólar muito caro. No entanto, esses preços vão acabar se ajustando.”

Ontem o risco-país teve novo aumento indo para 1.700 pontos centesimais (17%), significando que os títulos da dívida brasileira têm que pagar 17% a mais que os juros pagos pelo Tesouro americano – a referência mundial de segurança. Com a nota de crédito rebaixada, muitos fundos de investimento deixam de aplicar no Brasil, colocado pelo segundo dia com a pior taxa de risco do mundo, vindo apenas depois da Argentina. A pior cotação do real desde sua criação em 1994 ocorreu no dia 21 de setembro de 2001, depois dos atentados terroristas nos Estados Unidos, quando o país enfrentava uma forte volatilidade com o temor de que se repetisse uma situação como a da Argentina, ao que se somava uma grave crise energética. O real foi cotado, então, a 2,835 por dólar, passando a estabilizar-se depois.

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