Crise

Mercado brasileiro já sente os efeitos da crise internacional

O mercado de crédito brasileiro já sente os efeitos da crise financeira nos mercados internacionais. Dados apresentados pelo Banco Central (BC) mostram que a piora do quadro externo tem dificultado a captação de recursos em outros países pelas instituições financeiras do Brasil. Além disso, a taxa paga pelos bancos para obter esse dinheiro, inclusive no mercado interno, tem ficado mais cara. Com isso, a autoridade monetária reafirma a previsão de que o ritmo de crescimento dos empréstimos, que desacelera desde junho, deve continuar caindo.

O chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes, afirmou que o crédito atingiu o pico de crescimento em junho, quando apresentou expansão de 33,5% no acumulado em 12 meses. Em agosto, essa taxa já havia recuado para 31,8%. “Embora haja uma desaceleração, as taxas em 12 meses ainda são muito elevadas”, disse Altamir.

Esse arrefecimento deve ser liderado pelo crédito para pessoa física, avaliou o chefe do Depec, que atribuiu o fato à “acomodação” do crédito consignado. “Isso tem relação com o esgotamento dos tomadores e com a redução da oferta. Tempos atrás, havia um posicionamento dos bancos em ofertar crédito consignado. Hoje, já não há mais tanta ênfase porque a taxa de juros (cobrada nessa linha) é muito baixa e o custo de captação aumentou e tem reduzido a margem (de lucro) para os bancos”, disse.

Ele também reafirmou a previsão de que a participação do crédito na economia deve ficar em 40% do Produto Interno Bruto (PIB) no fim do ano. Em agosto, o porcentual estava em 38%, o mais alto da série histórica. Ele explicou que a previsão foi mantida porque o número já leva em conta a piora do cenário externo.

Captação externa

Dados do próprio BC mostram, no entanto, que a crise fez com que bancos brasileiros não conseguissem captar recursos no exterior em setembro, conforme levantamento até o dia 15. Nesse período, a participação dos empréstimos com recursos obtidos no exterior diminuiu, na conta em dólares, 2,6% na comparação com igual período de agosto.

Na prática, isso quer dizer que as instituições que operam no País com dinheiro do exterior pagaram compromissos no período e, ao mesmo tempo, não conseguiram captar novos recursos. Por isso, a participação caiu. Apesar dessa diminuição, Altamir minimizou o impacto do fato no total das operações de crédito. “A participação do funding externo é pequena”, disse.

Após a queda, os empréstimos com recursos externos correspondiam a R$ 80,7 bilhões de um montante total de R$ 628,6 bilhões das operações referenciais para juros em 15 de setembro.

Além de mais difícil, o dinheiro disponível no mercado está mais caro. A taxa de captação passou de 13,9% de agosto para 14% até o dia 15 de setembro. “O custo tem se elevado e tem sido repassado ao tomador”, disse. Na média, a taxa cobrada nos empréstimos passou de 40,1% em agosto para 40,4% ao ano em setembro. Nos empréstimos para as empresas, a taxa passou de 28 3% para 28,4%. Nas operações para as famílias, houve aumento de 52,1% para 52,8%.