O jurista e historiador Raymundo Faoro disse hoje, após receber a medalha Ruy Barbosa, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Rio de Janeiro, que o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, terá mais chances de vencer, no segundo turno, o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, que o do PSDB, José Serra. ?Se o Serra for para o segundo turno, toda a máxima do governo virá em cima do Lula?, profetizou. ?Ele não deve responder a agressões, mas mostrar que é competente e sereno para governar o Brasil?.
Eleitor declarado de Lula, de quem recusou convite para ser vice em 1989, ele acredita que a vitória do candidato do PT mudará a política e a sociedade brasileiras. ?Pela primeira vez, em 500 anos de história, alguém saído das classes populares alcança o poder. Isso é um dado novo e pode vir para o bem ou para o mal? explicou Faoro. ?Lula só tem chances agora porque houve um racha no poder atual, cujas causas desconheço, mas certamente são internas e ligadas à economia.?
Faoro, de 77 anos, sempre foi simpático a idéias progressistas, é um crítico ferrenho do governo de Fernando Henrique Cardoso, mas nunca se filiou a partidos políticos. ?Critico o Fernando Henrique governante, que deixou o País estagnado durante oito anos, mas respeito profundamente o sociólogo?, esclareceu ele. ?Nunca me filiei a partidos porque um intelectual não pode ter limites partidários ou de classe. Precisa reservar-se o direito da crítica, sem levar em conta se o alvo é amigo ou inimigo.?
Apesar disso, ele citou como seus maiores feitos dois fatos políticos, do tempo em que ocupou a presidência nacional da OAB (entre 1977 e 1979), período em que o presidente Ernesto Geisel promoveu a abertura política, o Ato Institucional nº 5 foi extinto e a anistia concedida aos opositores do regime militar. ?Meu primeiro orgulho foi desligar a OAB do Ministério do Trabalho, torná-la independente?, citou Faoro. ?O segundo foi ter sido interlocutor entre a sociedade civil e o governo militar e depois ter promovido a reconciliação deste com o partido de oposição, que não era levado em conta.?