Lula diz que economia vai surpreender

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o crescimento da economia brasileira neste ano ?vai surpreender outra vez?. A afirmação ocorre um dia após o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgar que o PIB cresceu apenas 0,3% no primeiro trimestre deste ano, em relação aos últimos três meses de 2004. Foi a menor taxa de crescimento em quase dois anos.

No mesmo dia da divulgação – terça-feira -, vários setores da economia, como a construção civil, revisaram suas estimativas de crescimento para 2005. O governo, entretanto, ainda acredita em uma expansão do PIB entre 3,5% e 4%.

Lula não fez uma previsão, mas prometeu ?surpresas?. ?Este ano a gente vai surpreender outra vez?, afirmou o presidente durante a abertura do Salão de Turismo em São Paulo. ?Nós estamos crescendo há oito trimestres consecutivos. Isso é uma coisa que não acontece há dez anos no Brasil.?

No ano passado, a economia brasileira cresceu 4,9%, um índice que superou as estimativas de analistas de mercado e do próprio governo.

Inflação

O presidente também afirmou que não vai deixar a inflação voltar a subir. ?Muitos gostariam de ter de volta a inflação porque muita gente ganha com ela. Mas o povo já ganha só de não ter muita inflação.?

Lula se referia às pressões de empresários, sindicalistas e até de políticos aliados ao governo para que o Banco Central reduza a taxa de juros básica da economia brasileira (Selic). O BC elevou os juros nos últimos nove meses, para o patamar atual de 19,75% ao ano.

A medida visa combater a inflação. Por outro lado, foi apontada por economistas, empresários e políticos como a responsável pelo resultado decepcionante do PIB.

Além de defender o combate à inflação, o presidente também reafirmou o compromisso com o ajuste fiscal do governo. Neste ano, o setor público deve economizar 4,25% do PIB (ou mais de R$ 70 bilhões) para o pagamento de juros da dívida.

De acordo com Lula, é a primeira vez que a economia do País tem saldo de conta corrente sem recessão. Ele ressaltou que o governo conseguiu aumentar as exportações sem sacrificar o mercado interno. ?Nós conseguimos combinar aquilo que é possível combinar do País crescer sem que o mercado interno tenha uma retração?, destacou.

Palocci diz que resultado do PIB comprova acertos

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, disse ontem em entrevista coletiva, que o fraco desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano não coloca em xeque o acerto da política monetária. De acordo com dados do IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do País teve variação de apenas 0,3% no primeiro trimestre deste ano. ?Não penso que o resultado do PIB questiona a política monetária. Ao contrário, mostra a correção da política?, afirmou Palocci.

O ministro explicou que o BC agiu corretamente ao atacar a inflação no momento em que ela ainda nem era perceptível, mas os indicadores de variação de preços dos primeiros meses do ano revelaram que o problema era real e o BC agiu corretamente.

?Não trocaremos na política econômica um eventual ganho de curtíssimo prazo por uma perda de longo prazo?, avisou.

Palocci não quis projetar números sobre o crescimento da economia brasileira este ano, mas disse que, assim como o presidente Lula, está otimista e acredita que o País ?terá um crescimento bom? este ano.

Ele destacou que foi o oitavo trimestre consecutivo de crescimento da economia. Segundo ele, apesar de a economia ter tido um desempenho fraco no início deste ano em comparação com o fim do ano passado, os fundamentos da economia estão sólidos e há mostras de que a política monetária tem surtido efeito, já que há sinais de arrefecimento da inflação.

?É uma trajetória muito importante, que vai ganhando sustentabilidade. Há sinais importantes no campo da inflação. Penso que o esforço vai conseguir seu objetivo em termos de inflação e na trajetória da dívida?, afirmou.

Recursos

O ministro Palocci disse ainda que nos próximos dias serão liberados recursos contingenciados do orçamento para a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Segundo ele, os recursos serão liberados no decreto orçamentário que será publicado nos próximos dias, mas não citou números.

Mais cedo, o diretor-geral interino da ANP, Haroldo Lima, reclamara do corte de recursos, afirmando que as próximas rodadas de licitação de áreas de produção e exploração de petróleo poderiam ficar comprometidas devido à falta de dinheiro.

Juros vão baixar só quando inflação arrefecer

Após a divulgação do crescimento econômico decepcionante no primeiro trimestre, o ministro José Dirceu (Casa Civil) defendeu a política monetária do governo e afirmou que a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) será reduzida quando a inflação ?arrefecer?. ?Devagar com o andor, os juros estão aí para combater a inflação. O governo está fazendo a parte dele. Temos que aguardar o resultado da inflação. A autoridade monetária vai adotar o comportamento também de reduzir os juros quando a inflação arrefecer?, afirmou.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou anteontem que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu só 0,3% no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses de 2004. Foi a menor taxa de crescimento em quase dois anos. E no mesmo dia, vários setores da economia, como a construção civil, revisaram suas estimativas de crescimento para 2005. Empresários em geral culparam a alta dos juros – que subiram nos últimos nove meses, para 19,75% ao ano ? pelo desaquecimento da economia.

Dirceu, no entanto, lembrou que em 2003, quando o governo também foi criticado por travar o crescimento, o Banco Central adotou a ?política de juros que era necessária e depois reduziu os juros e o País cresceu 5,2% em 2004?. O ministro cometeu um equívoco ao anunciar o índice de crescimento do ano passado, já que ontem o IBGE revisou o dado para 4,9%.

Apesar do momento de desaceleração, Dirceu também afirmou que o Brasil vai crescer mais de 4% neste ano e que vai criar 1 milhão de empregos. ?O país tem condições de crescer 4% e não é um crescimento baixo.?

Siderurgia

Dirceu participou da posse do novo presidente do IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia), Luiz André Rico Vicente, na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria), em Brasília.

O ministro admitiu que o câmbio atual representa um ?momento de apreensão? para o setor siderúrgico.

O dólar tem sido vendido nos últimos dias por cerca de R$ 2,40, o menor patamar dos últimos três anos. O real valorizado tende a prejudicar as exportações brasileiras, inclusive as de aço.

Voltar ao topo