Intervenções da China reduzem apelo do yuan nas transações globais

O yuan está perdendo seu brilho como meio de realizar transações entre fronteiras, o que as companhias de trading atribuem em parte à relutância do governo da China em afrouxar seu controle sobre a moeda.

Questões burocráticas e a falta de ativos denominados em yuan nos quais investir desencorajam as companhias que não são chinesas a usar a moeda no comércio com seus parceiros chinesas. As intervenções recentes de Pequim no mercado reduziram ainda mais o apelo pela divisa, segundo importadores e exportadores chineses.

A popularidade do yuan fora da China diminuiu 0,2% no ano passado, segundo índice compilado pelo Standard Chartered desde o fim de 2010, seu primeiro declínio anual já registrado, ainda que ele tenha avançado no primeiro mês de 2016. Os pagamentos com o yuan recuaram para 21% do comércio total com a China em outubro, antes de se recuperarem para 30% em janeiro, mas ainda abaixo do pico de 37% em agosto.

“Diante da volatilidade do yuan e das intenções políticas obscuras das autoridades, é difícil ter interesse em usar a moeda entre nossos clientes”, disse Zhou Lin, diretor financeiro do Ningbo United Group Import & Export Co., companhia da costa leste chinesa que exporta produtos de aço e vestuário e importa carvão e madeira. Na avaliação dele, a demanda pelo yuan para negócios deve recuar ainda mais. A companhia de Zhou só usa o yuan em 5% de seu comércio com o exterior, na maioria dos casos com empresários chineses que operam no Japão e na Coreia do Norte. O restante é denominado em dólares e euros.

O yuan é usado em menos de 3% dos pagamentos globais, enquanto o dólar é usado em 45% deles, segundo a Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication.

Pequim permitiu o uso do yuan fora da China em julho de 2009. Isso gerou previsões de que a moeda acabaria desafiando a proeminência do dólar no comércio global, porém o aumento da presença do yuan no comércio global segue como um projeto de longo prazo.

Neste ano, a China continua a registrar saída de capital, ainda que a uma taxa mais baixa em fevereiro que em meses recentes. A prioridade política de Pequim tem sido estabilizar o yuan, segundo analistas. O presidente do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês), Zhou Xiaochuan, disse recentemente que o processo de internacionalização do yuan iria progredir “como as ondas”. Segundo ele, conforme o mercado gradualmente volta a um “estado relativamente normal, a internacionalização do yuan continuará a avançar”.

O valor do yuan offshore se recuperou e está em linha com a moeda no próprio país nas últimas semanas. Mas a intervenção de Pequim deixou um gosto amargo. “A maneira como eles mataram o mercado de yuan em Hong Kong e sinais conflitantes que têm sido enviados por suas intenções políticas certamente não ajudarão a restaurar a confiança das pessoas na moeda”, disse Howard Wang, empresário de 43 anos que comanda uma companhia de comercialização em Nanjing. Wang vende vestuário e escovas de dentes para o Brasil e importa carne e soja do País. Segundo ele, seus clientes não têm incentivo para usar o yuan. “Eu não tenho a paciência para a burocracia exigida por nossos reguladores, enquanto os brasileiros não sabem o que fazer com a moeda chinesa em São Paulo”, relata Wang. Fonte: Dow Jones Newswires.

Voltar ao topo