Governo estuda medidas contra alta do aço, diz ministro

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, considerou “inaceitável” os aumentos recentes dos preços de aço praticados pelo setor siderúrgico. Duas das maiores empresas que atuam no mercado brasileiro, a Usiminas e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), anunciaram a seus clientes uma elevação dos preços dos aços planos entre 10% e 13%. A ArcelorMittal ainda não informou nenhum reajuste, mas deve acompanhar as concorrentes, segundo fontes do setor.

“Nós vamos fazer um levantamento desses aumentos para ver que medidas nós tomaremos. Eu gostaria muito de tomar medidas porque acho esse tipo de atitude da indústria do aço inaceitável”, afirmou o ministro, após participar da cerimônia de comemoração pelos 20 anos do Guia Oesp Metal Mecânica e Eletrônica, no auditório do Grupo Estado, na capital paulista.

O ministro não quis adiantar quando as medidas poderão ser adotadas, mas disse que elas já estão sendo discutidas. “Isso está sendo discutido no governo. Eu não vou antecipá-las”, afirmou. Ele demonstrou irritação com a atitude das siderúrgicas, tomada quatro meses depois que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) elevou para 15% a alíquota de importação de oito tipos de aço que eram isentos dessa cobrança desde 2005 – na época, o governo adotou a medida para equilibrar o mercado, estabilizar os preços e evitar impactos na inflação.

Miguel Jorge lembrou ter sido contra a elevação das alíquotas, apesar dos apelos do setor, segundo os quais estaria havendo uma invasão de aço chinês no País. “Nós nunca verificamos nenhum aumento da importação do aço que devesse levar a medidas mais fortes de contenção das importações. Não só a invasão não aconteceu como talvez, exatamente porque a invasão não ocorreu, eles aumentaram o preço”, afirmou.

“Exatamente por isso, na penúltima reunião da Camex, eu, por exemplo, me manifestei contra. Mas como aceito decisões tomadas democraticamente, decidiu-se pela retirada de produtos de aço que teriam alíquota de importação zerada. Quarenta dias depois a indústria de aço anunciou aumentos”, acrescentou.

Ex-diretor da Autolatina (a companhia que reunia a Volkswagen e a Ford no Brasil), Miguel Jorge destacou ter tido “brigas homéricas” com o setor do aço. “Eu briguei muito com a indústria do aço quando eu estava na Volkswagen. Tive brigas homéricas com o setor de aço. Eu não vou poder usar outro adjetivo, então vou ter de usar setor”, disse, sugerindo considerar que as empresas formam um cartel.

Metalúrgicos

O ministro do Desenvolvimento disse que o governo não deve interferir nas negociações entre empresas e metalúrgicos de São Paulo e Paraná. Jorge argumentou que os trabalhadores, com data-base em 1º de setembro, têm direito de reivindicar reajuste salarial. Os sindicatos têm pressionado as companhias com manifestações e paralisações para obter aumento real nos salários. As fábricas oferecem apenas a reposição da inflação acumulada nos últimos 12 meses, de cerca de 4,7%.

“O governo não tem de tomar medida nenhuma, não tem de interferir. É uma questão entre as empresas e os trabalhadores. É bastante natural que ocorra esse tipo de movimento, principalmente quando há um crescimento importante da produção e quando se está próximo das negociações anuais”, afirmou.

Na opinião dele, os trabalhadores têm todo o direito de reivindicar reajuste salarial. “Isso não foi feito, por exemplo, no ano passado, porque estávamos em plena crise e não se negocia aumento de salário com crise, mas manutenção do nível de emprego, o que foi feito, inclusive com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Agora, num momento como esse, os trabalhadores têm todo o direito de reivindicar”, avaliou.

Miguel Jorge disse acreditar que o período será passageiro e que empresas e metalúrgicos entrarão em acordo. “Eles vão se acertar. Acho que é uma questão de negociação por enquanto, mas vão se acertar. Certamente, é passageiro.”

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