Governo dá à Vasp direito de voar por mais 6 meses

Com base na proposta apresentado pelo Ministério da Defesa, a Casa Civil prorrogou por seis meses a concessão para Vasp continuar voando. Neste período, a Vasp terá de apresentar tanto o plano de recuperação da empresa quanto a certidão de débitos negativa em relação às dívidas com a União. O decreto prorrogando a concessão da Vasp deverá ser publicado hoje no Diário Oficial da União. A prorrogação da Vasp foi feita pelo mesmo período concedido à Varig, ou seja, ela tem até 10 de abril de 2005 para cumprir as exigências do governo.

Segundo nota divulgada pelo Ministério da Defesa, a decisão baseou-se nas informações contidas no plano estratégico de gestão apresentado pela empresa ao Departamento de Aviação Civil (DAC), no qual estão definidos os objetivos a serem cumpridos para regularizar a situação da companhia; no ajuste de novos horários de transporte, decorrente da parada definitiva de seis aviões Boeing 737-200; e na proposta de renovação da frota da empresa, a começar pela importação de seis aeronaves Boeing 737-300.

No final da tarde, o presidente da Vasp, Wagner Canhedo, se reuniu com o ministro da Defesa José Viegas, para discutir a crise na companhia aérea. Antes de entrar para a audiência, Canhedo disse aos jornalistas que iria entregar ao ministro “um plano de reestruturação, desenvolvimento e crescimento da empresa”. Ele não quis mencionar detalhes do plano, mas garantiu: “A Vasp não pára de voar na segunda-feira. Essa possibilidade é zero.” Na quarta-feira, o ministro Viegas afirmou que a Vasp seria impedida de voar” se até hoje não apresentasse certidões negativas de débito.

De acordo com Canhedo, se a Infraero exigir o pagamento dos débitos, a Vasp pagará. Ele alegou que a Vasp “tem milhões a receber do governo federal referentes à erosão tarifária” e que o processo já está no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Se nós temos débito, temos também crédito. A empresa está em dificuldade, mas é viável”, afirmou Canhedo.

Condições mínimas

A lei de concessões prevê que, para assinar um contrato definitivo de renovação da concessão, a empresa tem de estar em dia com suas obrigações com a Previdência, com a Receita Federal e com empresas estatais. No domingo, vence o prazo para a assinatura do atual contrato de concessão da Vasp com o Departamento de Aviação Civil (DAC), que regulamenta o setor.

O ministro disse esperar que a empresa possa dar uma mostra do seu plano básico e do seu plano de importação de aviões, “de que é capaz de superar esse momento”. Segundo José Viegas, o governo acompanha com “atenção” a situação da empresa, mas lembrou que a Vasp é uma companhia privada que tem que administrar seus próprios problemas. “Quem tem que substituir aviões é a própria empresa. Nós, evidentemente, acompanhamos com muita atenção a evolução desta situação com o objetivo de que não haja dano para os usuários, sobretudo”, afirmou. Para tanto, anunciou que reorientará a prestação dos serviços para outras companhias aéreas.

Empresa reintegra 184 demitidos

Em audiência com dirigentes do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), ontem, na Delegacia regional de Trabalho (DRT), em São Paulo, a Vasp se comprometeu a pagar os salários de setembro e a reintegrar os 184 aeronautas demitidos no início desta semana. A Vasp concordou também em abrir um programa de demissões voluntárias (PDV) como meio para ajustar seu quadro de pessoal à diminuição da frota.

Embora tenha quebrado sua palavra ao demitir mais de 300 funcionários nos últimos dias, entre eles os 184 aeronautas, a companhia ainda assegurou na DRT-SP que cumprirá o compromisso firmado semana passada de garantir 90 dias de estabilidade aos empregados. “Mas o grande medo dos funcionários é acreditar no que a empresa diz, porque geralmente ela não cumpre o que fala”, disse um funcionário da Vasp que não quis se identificar.

Passagens

Passageiros da Vasp que não conseguirem embarcar, têm como primeira alternativa, recorrer a uma outra companhia aérea. Para que isso aconteça, a passagem precisa ser endossada pela Vasp. Algumas empresas, como a Varig e a Gol, já anunciaram que não estão aceitando mais passagens endossadas pela Vasp. “Neste caso, cabe à Vasp negociar e encontrar uma maneira para que o passageiro possa embarcar. Esta obrigação é da Vasp”, afirma a assistente de direção do Procon-SP, Sonia Cristina Amaro. Além de garantir que o passageiro embarque em outra companhia, a Vasp deve arcar com todas as despesas que o passageiro possa ter com hospedagem e alimentação, até que o problema seja resolvido.

Companhias partem para nova rodada de reajustes

Rio (AE) – As companhias aéreas estão partindo para uma nova rodada de reajuste de tarifas, em razão do aumento dos preços do querosene de aviação. Ao contrário do que ocorre com o preço da gasolina, a Petrobras vem atualizando o querosene e o nafta petroquímico conforme a cotação do petróleo no mercado internacional. Ontem, foi a vez da Varig fazer seu reajuste (8,29%). TAM e Gol estão avaliando o impacto do aumento.

No dia primeiro de outubro, o preço do querosene subiu 8,6%. Segundo o Sindicato Nacional de Empresas Aéreas (SNEA), o querosene de aviação já acumula alta de 33,2% até setembro.

A Varig informou que o aumento nos preços das tarifas dos vôos internos refletiu a elevação do preço do combustível da aviação, semana passada. Na ponte aérea Rio-São Paulo, a variação de preços foi diferenciada. Durante os dias de semana, o preço da ponte aérea subiu de R$ 339,00 para R$ 367,00, um valor 8,26% superior. Já para os fins de semana, o aumento foi menor. A passagem estava em R$ 229,00 e evoluiu para R$ 239,00, uma variação de 4,4% – metade do aumento para os dias de semana.

Os executivos da Gol estavam analisando os efeitos do aumento de custo na tarde de ontem. Na TAM, a infomação era semelhante. Segundo a assessoria de imprensa da companhia aérea, a TAM estava “avaliando o impacto do aumento do querosene de aviação”. Até o fechamento desta matéria, as duas empresas ainda não haviam definido seus aumentos.

Pacote de ajuda será anunciado em novembro

Rio (AE) – O pacote de ajuda ao setor aéreo, atualmente em análise no governo federal, deverá ser conhecido pela sociedade brasileira no início do mês que vem, estima o presidente da Infraero, Carlos Wilson Campos. Uma das possibilidades é a capitalização da Varig e da Vasp, mas o executivo ressaltou que o governo “não vai jogar dinheiro a fundo perdido”. “O setor aéreo precisa de uma solução conjunta, e não individual”. Mesmo com a flexibilização nas concessões, a Infraero vai manter o prazo até o próximo dia 13 para a Vasp pagar uma dívida de R$ 11 milhões, referente a tarifas aeroportuárias e taxas de embarque que são cobradas dos passageiros e que não estão sendo repassadas para a Infraero. Campos diz que a Infraero tem sido extremamente tolerante com as companhias aéreas e que o objetivo não é “quebrar” nenhuma delas.

“A taxa de embarque é o passageiro que paga e não pertence à companhia. Ela foi criada para que os aeroportos ganhem modernidade e conforto. Se apropriar da taxa de embarque é apropriação indébita”, afirmou o presidente da Infraero. Caso a Vasp não quite seu débito até a próxima quarta-feira, terá de pagar diariamente as taxas para poder voar.

A Varig, que tem uma dívida total de R$ 335 milhões, também tem pendências relativas a tarifas aeroportuárias de R$ 108 milhões, este ano. Os R$ 227 milhões restantes já foram securitizados. Campos admitiu que, se não houver um acordo, a Varig também poderá ter de pagar, diariamente, a taxa para poder voar, mas ele espera que a situação não chegue a esse ponto.

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