Governo aciona térmicas no Nordeste

O governo acionará usinas térmicas movidas a óleo combustível e óleo diesel no Nordeste para preservar os reservatórios das hidrelétricas da região. Conforme o boletim diário do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios do Nordeste estão em 26,5% da capacidade de armazenamento, o que indica uma folga de 16,5 pontos porcentuais em relação à curva de aversão ao risco, mecanismo criado pelo governo no final do racionamento de 2001/2002 para dar garantias extras ao sistema elétrico. Teoricamente, com a folga na curva de aversão, não haveria motivos para o acionamento dessas térmicas.

Desde o início de dezembro, porém, o ONS acionou sete usinas térmicas no Nordeste, o que só deveria ocorrer se os reservatórios da região estivessem em patamares considerados críticos, ou seja, ao redor de 10% da capacidade de armazenamento. Por determinação legal, o operador evita acionar as térmicas devido ao custo mais alto de geração dessas usinas. O custo extra desse acionamento extemporâneo será diluído para todos os consumidores e só será conhecido posteriormente.

O ONS despachará três térmicas movidas a óleo combustível (TermoCabo, com potência de 48 MW; Petrolina, com 128 MW; e Bahia I, com 30,6 MW), com autorização para o funcionamento imediato das três. Além dessas há outras três unidades movidas a óleo diesel (Camaçari, com potência de 350 MW; grupo de térmicas do grupo Enguia, no Piauí, com potência de 52 MW; e outros 95 MW de térmicas do mesmo grupo Enguia, no Ceará). A partir de janeiro será acionada a térmica Jaraguari, com potência de 100 MW, também movida a óleo diesel.

O funcionamento dessas usinas visa evitar um maior deplecionamento (esvaziamento) do reservatório de Sobradinho, um dos principais do Nordeste e que fica no início da cadeia de cascatas de hidrelétricas do rio São Francisco. Na semana passada, o nível de água em Sobradinho caiu para 12,55%, aproximando-se do nível de 10%, considerado o ‘piso’ pelo governo para acionar as térmicas. O reservatório Luiz Gonzaga (logo a seguir), porém, estava com 42,02% do nível de armazenamento, fazendo com que, na média, o nível no Nordeste estivesse em 26,5%. Teoricamente, nesse patamar, o ONS não deveria acionar as térmicas movidas a óleo combustível ou óleo diesel. Com o acionamento das térmicas e a transferência de energia do Sudeste para o Nordeste, porém, Sobradinho voltou a ganhar água e ontem estava em 14,06% da capacidade de armazenamento.

A situação é peculiar pois a curva de aversão ao risco prevê que as térmicas devem ser acionadas somente quando os reservatórios da região, como um todo, atinjam os 10% mínimos; e não um reservatório específico. Essas térmicas constam no boletim do ONS, mas ainda não há uma classificação de qual o motivo pelo qual estão operando. O operador lista 10 razões para autorizar os despachos das térmicas, mas essas unidades ainda estão marcadas com um asterisco, com a explicação de que "a razão desse despacho será ainda classificada", o que ilustra o inusitado da situação.

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