Governo abafa posição da Camex sobre Argentina

Brasília (AE) – O Ministério das Relações Exteriores surpreendeu-se com a ameaça anunciada anteontem pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) de uma eventual retaliação do Brasil, por meio da restrição das importações de cinco produtos argentinos, em resposta à decisão argentina de barrar a entrada de mercadorias brasileiras. Ontem, ao dar-se conta dessa posição da Camex, o chanceler Celso Amorim declarou a assessores que "não é com o espírito da retaliação que o Itamaraty vem atuando e vai continuar a negociar" com a Argentina.

Essa posição acentua o racha dentro do próprio governo brasileiro sobre o assunto. Em princípio, o consenso que ainda existe no governo brasileiro é de que a adoção de medidas de salvaguardas no comércio entre os sócios do Mercosul é uma demanda que não será aceita pelo Brasil. Essa determinação foi ditada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última terça-feira, durante reunião com os ministros Amorim, Antônio Palocci (Fazenda), Roberto Rodrigues (Agricultura) e José Dirceu (Casa Civil).

Segundo um assessor do gabinete do chanceler, o desafio do Itamaraty será negociar um acordo que corresponda ao meio-termo entre o pedido argentino de salvaguardas e a negativa brasileira. Na visão do Itamaraty, a reunião entre negociadores argentinos e brasileiros, na última sexta-feira, em Buenos Aires, foi positiva e caminhou no sentido desse meio-termo.

Ambos os lados concordaram que seria necessário criar algum mecanismo para impedir o aumento expressivo de exportações que causem dano nas relações comerciais dentro do bloco e que o assunto não seria tocado na reunião de rúpula do Mercosul, quinta-feira e sexta-feira, em Ouro Preto. Brasil e Argentina também se puseram de acordo em continuar as conversas bilaterais e em se reunir novamente em meados de janeiro.

Em princípio, o governo brasileiro ainda trabalha com a expectativa de chegar a um consenso sobre a realização de um profundo estudo sobre a estrutura industrial de cada país do bloco, como meio de traçar políticas de desenvolvimento para o setor. Também se dispõe a facilitar as condições de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Programa de Financiamento às Exportações (Proex) a projetos que integrem a produção de setores brasileiros e argentinos.

Mas não foi descartada a proposta argentina de adoção de regras de conduta para a ação de multinacionais no bloco, de forma a impedir que os investimentos se concentrem em um país em detrimento dos demais.

O Itamaraty está convencido que o Brasil não pode "virar as costas" para a Argentina, especialmente para o fato de que o país vizinho sofre as conseqüências de um longo processo de desindustrialização, aprofundado na década de 90, e contabiliza déficits no comércio bilateral nos últimos anos. "Mas isso não significa que vamos aceitar tudo o que eles queiram. Tanto que dissemos não às salvaguardas", afirmou o assessor.

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