FMI alerta BCE para dívida corporativa

O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu o Banco Central Europeu (BCE) a ser rigoroso ao expor os créditos corporativos duvidosos nos balanços patrimoniais dos bancos da zona do euro. Segundo o Fundo, uma proporção alarmantemente alta de créditos bancários a empresas não financeiras na Espanha, na Itália e em Portugal, particularmente, não está fazendo pagamentos de juros ou é devida por companhias que não têm como pagar o serviço dessas dívidas.

A advertência, publicada no Relatório sobre Estabilidade Financeira Global, é uma mudança importante em relação aos últimos anos, quando o FMI se mostrava mais preocupado com os riscos associados à enorme exposição dos bancos da zona do euro a seus respectivos governos, e vice-versa.

A nova análise do Fundo sai num momento delicado para o BCE, que está se preparando para fazer uma auditoria minuciosa dos 130 maiores bancos da zona do euro antes de assumir a responsabilidade por sua supervisão.

As atas das reuniões do Conselho do FMI publicadas nesta terça-feira pelo Wall Street Journal revelam detalhes de divergências profundas sobre a maneira de lidar com a crise da dívida da Grécia. Membros não europeus do Conselho, especialmente os mais pobres, mostraram insatisfação com a dimensão do apoio que eles tiveram de dar desde 2010 a uma Europa relativamente mais rica.

O FMI qualificou sua próxima Revisão da Qualidade dos Ativos e a próxima rodada de testes de estresse entre os bancos como “uma oportunidade de ouro para realizar uma avaliação transparente e abrangente dos bancos de toda a zona do euro, que poderá ajudar a restaurar a confiança do investidor na qualidade dos balanços patrimoniais das instituições”.

Para o FMI, quase metade da dívida corporativa de Portugal é devida por companhias cujos lucros anuais (antes de juros e impostos) não cobrem nem mesmo suas contas de juros de 2012. Nos casos da Espanha e da Itália, as proporções seriam de 40% e 30%, respectivamente. O relatório nota que as empresas frequentemente tinham poucas alternativas, ao abrir espaço para fazer pagamentos de juros, a demitir funcionários e reduzir investimentos – reduzindo, dessa forma, sua própria capacidade de produzir e de crescer no futuro.

“De uma maneira geral, mais de 3/4 da dívida corporativa de Portugal e da Espanha e cerca de metade da dívida corporativa da Itália são devidos por empresas com relações dívida/ativos de 40% ou mais”, diz o documento. Segundo o FMI, a política do BCE de manter as taxas básicas de juro baixas não tem sido suficiente para contrabalançar as pressões que puxam para cima os juros dos créditos para as empresas. O relatório nota que a dinâmica frágil da dívida de muitos tomadores levou os bancos dos países estressados a manterem taxas de juro muito mais altas do que em países do “núcleo” da zona do euro, como Alemanha e França.

“Tomar medidas para reverter a fragmentação financeira vai ajudar a reduzir os juros em economias estressadas, mas isso não será suficiente para resolver o excesso de dívida corporativa”, diz o relatório. Combinados, os sistemas bancários de Portugal, Espanha e Itália têm créditos corporativos duvidosos de quase 240 bilhões de euros, de menos de 50 bilhões de euros no começo de 2008. Fonte: Dow Jones Newswires.