FGV: promoções de roupas levam a recuo na inflação

O recuo na inflação sentida por famílias mais pobres, detectado pelo Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1) de julho a agosto (de 0,24% para 0,20%) foi provocado por promoções em lojas de roupa, o que derrubou os preços de vestuário (de 0,04% para -0,84%); e por queda nos preços dos medicamentos (-0,39%).

A informação é do economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e responsável pelo cálculo do indicador, André Braz. O IPC-C1 abrange famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos mensais.

Ao detalhar o cenário da inflação entre os mais pobres em agosto, Braz chamou a atenção também para a movimentação comportada de preços no grupo Alimentação (de 0,02% para 0,01%).

De acordo com ele, alimentos de grande peso no cálculo da inflação medida pelo IPC-C1 tiveram queda ou desaceleração de preços de julho para agosto. É o caso de arroz e feijão (de 1,34% para -2,68%); laticínios (de 3,16% para -5,36%); adoçantes (de 3,26% para 0,63%); carne de frango (de 0,81% para -0,95%); e massas e farinhas (de 0,22% para -1,18%). “Estes cinco itens representam mais de 50% dos gastos com alimentos das famílias de baixa renda (pesquisadas pelo IPC-C1)”, afirmou Braz.

O economista comentou que os preços dos alimentos poderiam estar em queda, não fosse o comportamento do limão, cuja taxa de elevação de preços disparou, de julho para agosto, ao sair de 5,65% para 129,56%. “Se excluísse a taxa de variação de preços do limão, o IPC-C1 teria sido zero em agosto”, acrescentou o economista.

Ele comentou, porém, que o impacto do limão é sazonal, e provavelmente reflete a influência de problemas climáticos na oferta do produto no mercado interno. “A alta no preço do limão foi intensa, mas não vai durar. Da mesma maneira que ele subiu muito, de um mês para o outro, ele pode cair na mesma intensidade”, disse o economista.

Braz considera as quedas e desaceleração de preços em outros alimentos de maior peso na inflação, como laticínios e frango, mais importantes do que a elevação intensa no preço do limão no varejo em agosto.

Isso porque as sucessivas quedas e desaceleração de preços em alimentos mais procurados do que o limão para o consumo das famílias de baixa renda foram frequentes ao longo de 2009.

Isso fez com que a taxa acumulada em 12 meses do IPC-C1 até agosto, de 4,51%, fosse muito próxima à taxa acumulada no mesmo período do IPC-BR, que mede o impacto da inflação em famílias com renda maior, entre 1 e 33 salários mínimos mensais, e subiu 4,73% até agosto.

“Provavelmente, as taxas dos dois índices vão encerrar 2009 com resultados anuais muito próximos, graças ao bom comportamento dos preços dos alimentos”, afirmou o economista, acrescentando que essa proximidade de resultados entre os dois índices “é muito rara”.