FGV: IGP-M menor deve-se a matérias-primas brutas

A deflação nos preços das matérias-primas brutas no atacado (-0,44%) foi a principal responsável pela taxa menor da segunda prévia de abril do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que desacelerou para 0,50% após ter apresentado alta de 0,91% na segunda prévia de março. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, houve vários exemplos de quedas e desaceleração de preços no atacado que ajudaram a manter em desaceleração a taxa da segunda prévia de abril; mas o comportamento de preços das matérias-primas brutas foi destaque entre os produtos usados no cálculo da inflação atacadista. “Foi uma mudança muito forte; os preços das matérias-primas brutas subiam 1,61% na segunda prévia de março”, lembrou o economista.

De acordo com Quadros, um dos produtos que mais contribuíram para a taxa negativa de preços de matérias-primas brutas no atacado foi a laranja – que saiu de uma elevação de 28,39% para uma queda de 15,81% entre a segunda prévia de março e a segunda prévia de abril. O especialista lembrou que a oferta deste produto foi afetada por rumores de uma quebra de safra na Flórida (EUA). Isso elevou o preço do item por semanas no mercado doméstico brasileiro. “Parece que a quebra de safra que houve não foi tão intensa como as suspeitas apontavam; agora, a oferta começa a se regularizar, e os preços estão caindo”, afirmou Quadros. Outros produtos que também estão ajudando a manter em queda os preços das matérias-primas brutas são aves abatidas frigorificadas, e cana de açúcar, que mostram quedas, respectivamente, de 2,91% e de 1,22%.

Entre os bens intermediários no atacado, Quadros comentou que a inflação dos materiais para manufatura também está enfraquecendo (passou de 1,31% para 0,99% na mesma base de comparação). Isso porque estes produtos estão sofrendo “ondas” de aumentos de preços, beneficiados pelo reaquecimento das demandas nos mercados interno e externo no cenário pós-crise. “Estamos agora em uma curva menos acentuada desta onda, por assim dizer, e os preços estão subindo menos; mas isso não significa que não vão voltar a subir de forma intensa nos próximos meses”, alertou.

Já em relação aos bens finais, o especialista informou que houve queda e desaceleração de preços, respectivamente, em alimentos processados (de 0,36% para -0,05%) e em alimentos in natura (de 11,01% para 6,34%), o que também ajudou a manter baixa a taxa da segunda prévia do IGP-M de abril.

Minério de ferro

O impacto do reajuste no preço do minério de ferro ainda não foi captado pelos Índices Gerais de Preços (IGPs), segundo Quadros. “O impacto do reajuste na inflação está por vir a qualquer momento, mas ainda não foi captado”, afirmou o especialista. Na segunda prévia do IGP-M de abril, o minério de ferro ainda registra deflação no atacado, de 1,06%. Quadros reiterou que a influência do reajuste será muito forte no cálculo da inflação atacadista. Em abril, ocorreu a utilização de novas ponderações para os produtos pesquisados no atacado. Com isso, o peso do minério de ferro no atacado aumentou de 1,06% para em torno de 2,5% a partir deste mês.

No entanto, não é possível calcular o impacto, em pontos porcentuais, do reajuste no preço do minério de ferro na inflação atacadista. Isso porque o porcentual exato do reajuste não foi divulgado oficialmente. Além disso, o especialista informou que, mesmo com o anúncio de reajuste, há um período de defasagem entre o anúncio do aumento e a implantação deste no preço do produto. Ou seja: o repasse não é imediato. “O que sei do reajuste é o que tenho lido nos jornais é que alguns dizem que foi de 100%, outros, de 80% a 90%; mas nada foi divulgado oficialmente. Mas quando vier (o repasse), será um impacto bem forte na inflação”, assegurou. Ele reiterou que a FGV não revela o nome nem o número de empresas usadas como informantes para a coleta de dados.

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