Eles estão vindo!

Falta de qualificação intensifica a contratação de estrangeiros

Toda a agenda de investimentos que o Brasil precisa cumprir, seja por conta dos eventos esportivos (Olimpíadas e Copa do Mundo), seja pela demanda do pré-sal, configura-se em sinônimo de oportunidades. Porém, um dos melhores endereços para o capital financeiro no mundo, não fez várias lições de casa, dentre elas a melhoria da educação. Com isso, o apagão de mão-de-obra qualificada é uma realidade que está sendo driblada pelos empresários de diversas formas, dentre elas, a contratação de estrangeiros. Tal recurso é cada vez mais empregado e os números de autorizações de trabalho concedidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) crescem ano a ano no Brasil.

Somente nos três primeiros meses deste ano, já foram concedidas 13.034 autorizações, 10% a mais do que o mesmo período de 2010, ano que superou em mais de 30% o total de 2009, saltando de 42.914 vistos de trabalho para 56.006 registrados no ano passado. Outro dado que chama a atenção é ranking dos países que mais fornecem mão-de-obra para o Brasil. Os Estados Unidos ocupa o topo da lista, seguido por Filipinas, Reino Unido e Alemanha, o que torna clara a migração de profissionais para vagas com ganhos maiores, em uma faixa inicial de R$ 2 mil a R$ 4 mil para técnicos.

“Não é de hoje que o governo transferiu a responsabilidade de formação da mão-de-obra técnica para o empresário. Porém, com todo esse cenário de investimentos no País, fatalmente, precisamos recorrer a outros países para viabilizar parte desses empreendimentos”, analisa o gerente de desenvolvimento organizacional e de pessoas da Arcelormittal Gonvarri do Brasil, Paulo Cavalcanti.

Arte: Edgar Larsen

 

Há dez anos com uma unidade instalada em Curitiba, a gigante mundial da siderurgia (com sede na Bélgica) desenvolve projetos em todo o país. Segundo Cavalcanti, no ano passado, somente um dos projetos desenvolvidos pela empresa exigiu a contratação de oito profissionais estrangeiros de nível técnico e seis para cargos gerenciais. “Era uma fábrica de torres eólicas em Recife (PE). Precisamos transferir de outras unidades da Arcelomittal no mundo desde profissionais para área de solda, pintura até parte do corpo gerencial. Tudo isso porque não existiam profissionais com a preparação necessária para a atividade”, justifica.

No novo empreendimento da Arcelormittal, que envolve um aporte financeiro da ordem de R$ 100 milhões para a instalação de uma fábrica de flanges (tubos que conectam os cilindros às hélices nas torres eólicas), a situação irá se repetir. “Teremos que trazer técnicos europeus para formar a mão-de-obra que irá montar as máquinas em um primeiro momento e, depois, terá que aprender a operá-las”, prevê.

É importante notar que há uma série de exigências do MTE, inclusive a comprovação de que o estrangeiro contratado realmente é necessário por não haver brasileiro qualificado, para se obter a autorização de trabalho temporário. “Além de toda a burocracia, gasta-se pelo menos o dobro ao trazer um profissional de fora, porém, neste momento, não há alternativa. É isso ou desistir do projeto”, atesta.

Arte: Edgar Larsen

O empresário italiano Bruno Rossi, que inaugurou, em 2009, a Refinarte Group Ltda, que fabrica máquinas de painéis de MDF, afirma que a carência de profissionais qualificados no Brasil já era notada desde a década de 90, quando o cenário econômico brasileiro era completamente diferente. “Minha decisão de escolher o Brasil e Curitiba também teve relação com a oportunidade que vi de desenvolver um negócio inovador, tamanha a carência de inovação e tecnologia no país. Comecei como representante de uma empresa, na década de 90, e já sentíamos a necessidade de trazer os profissionais de fora, quando comprávamos uma máquina do exterior. Passadas duas décadas, o problema é o mesmo”, constata Rossi. “A única coisa que mudou foi a facilidade de contratar estrangeiros com o advento da Internet”, acrescenta.

De acordo com o advogado trabalhista Edson Cardoso, do escritório Becker, Pizzatto & Advogados Associados, o procedimento online encurtou em pelo menos quatro meses o tempo para a obtenção da autorização de trabalho. “Antes, era necessário mandar pelo correio toda a documentação exigida, o que consumia pelo menos seis meses. Agora, se a documentação estiver completa, dá para obter o visto de trabalho em até 60 dias”, conta Cardoso.