Especialista quer planejamento para pequenas empresas

Ter um planejamento e pensar como empresário e não apenas como empreendedor. Esse é o caminho do sucesso quando o assunto envolve as micros e pequenas empresas, é o que afirma o diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae/PR), Allan Marcelo Campos Costa.

Em entrevista para O Estado, Costa comentou sobre a influência da crise mundial nas empresas paranaenses e qual deve ser o caminho para que o pequeno empresário tenha sucesso em seu negócio.

O Estado – Como as micros e pequenas empresas estão enfrentando a crise financeira que abalou os mercados internacionais?

Allan Costa – A crise não chegou ao Brasil com a intensidade que todos esperavam. Felizmente, no ambiente de micro e pequena empresa, a crise foi ainda menos intensa. Isso se deve a alguns fatores: o primeiro deles é que a micro e pequena empresa não tem tempo para pensar em crise. A crise foi um problema muito mais psicológico do que real. Muitos se prepararam com antecedência para o momento de crise que viria. No entanto, as micros e pequenas empresas não tiveram tempo para fazer isso, pois essa é uma característica do setor: trabalhar sendo mais criativa do que as grandes empresas. Isso fez com que ela passasse mais tranquilamente pela crise. Tanto é que não ouvimos falar num grande número de pequenas empresas demitindo ou até em fechando as portas. Portanto, o tamanho e a criatividade foram fatores que contribuíram para que o setor sentisse menos a crise.

OE – Como está o desenvolvimento dos pequenos negócios no Paraná?

AC – O Paraná é a região que mais registra novas empresas e, o melhor disso, é que a maior parte desses registros são provenientes das micro e pequenas empresas. O Paraná é também o estado que mais tem gerado empregos formais com carteira assinada. Então, podemos deduzir que alguns aspectos estão favorecendo o ambiente das micros e pequenas empresas no Paraná. Exemplo disso é que essas pequenas empresas não pagam ou até mesmo pagam muito pouco imposto. Aliado a isso, temos um ambiente institucional muito propício para esses pequenos negócios no Estado.

OE – As micros e pequenas empresas do Paraná estão preparadas para concorrer de igual para igual com os grandes grupos?

AC – Sim. Falando em Brasil, temos dados que informam que 50% das empresas que abriam fechavam antes de concluir dois anos de atividade. Já no ano passado, quando fizemos a última pesquisa, esse número de morte empresarial baixou para 25%. No Paraná, as empresas que passaram pelo Sebrae tem esse índice de sobrevivência maior que 80%. Isso se deve a uma mudança no perfil do empreendedor, ele está mais consciente da necessidade de se preparar e buscar apoio. A pesquisa mostra ainda, que todas as empresas que fecharam não buscaram apoio de instituições como o Sebrae, sindicatos, associações comerciais, dentre outros.

OE – Quais os desafios que as micros e pequenas empresas ainda têm pela frente em termos de políticas públicas?

AC – No Brasil, até alguns anos atrás, o micro e pequeno empresário tinha que ser um super-herói para poder progredir e se desenvolver no ambiente hostil como é o empresarial. Essa dificuldade passava pela inexistência de tratamento diferenciado, grande processo burocrático, dificuldade para se obter linhas de crédito com valores favoráveis, burocracia e inúmeros outros fatores que dificultavam o desenvolvimento de pequenos negócios. No entanto, isso vem mudando muito nos últimos anos. Novas medidas trouxeram muitas vantagens para os pequenos empresários, como a simplificação do processo de abertura de empresas e tratamento tributário.

OE – No início desse mês entrou em vigor a figura do empreendedor individual. Como isso pode ajudar a melhorar o número de negócios formais no Estado?

AC – O empreendedor individual é um ganho fantástico para a economia. No Brasil, por exemplo,, temos um número estimado de 11 milhões de empreendedores informais, já no Estado, esse número chega a 565 mil empreendedores que estão, de certa forma, completamente à margem da economia formal, pois eles não têm direito a nada, ou seja, para todos os efeitos eles não existem.

OE – Quais são as desvantagens da informalidade?

AC – A informalidade é ruim para todo mundo. O informal não vende para grandes empresas por causa da nota fiscal e também não tem acesso a financiamentos e empréstimos com taxa de juros de pessoa jurídica, que são bem menores. Além disso, é ruim para o empresário formal, pois o informal estabelece uma competição desigual, já que ele não paga imposto e não tem nenhum gasto com as obrigações legais. Esse empreendedor não contribui para desenvolver a economia do estado e deixa de cumprir o seu papel social. Sabemos que ninguém é informal por escolha, mas com a lei do empreendedor individual, o informal terá menos burocracia, poderá fazer seu registro online, ter CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), emitir nota fiscal e ter acesso às linhas de crédito, ou seja, passa a ter cidadania empresarial. Com isso, ele passa a existir e receber benefícios. Isso torna a mudança para a formalidade viável. Até o final de 2010, calculamos que cerca de um milhão de empreendedores deverão se formalizar, desses, cerca de 50 mil só no Paraná.

OE – Ainda sobre os informais, a grande maioria é formada por trabalhadores que, sem emprego, buscam alternativas para sobreviver. Qual é o maior desafio em torná-los empreendedores com visão empresarial?

AC – O maior desafio é conscientizar o micro e pequeno empresário que, além de empreendedor, é preciso que ele seja um empresário e pense com cabeça de empresário, independente de se tratar de uma micro ou pequena empresa. Isso pressupõe que ele se prepare para uma atividade empresarial, busque informações sobre o setor de atividade no qual ele quer trabalhar, de que forma ele pode vender melhor o seu produto, bem como se preparar para enfrentar a concorrência. E o melhor para atingir esses pontos é o planejamento.

OE – Qual recado o senhor pode passar para que microempresários obtenham sucesso em seus negócios? Tanto para os que estão começando para aqueles que já estão consolidados?

AC – Procure, use e conheça o Sebrae/PR. Saiba o que podemos fazer para ajudar as empresas a ter sucesso e alcançar seus objetivos. Não só o Sebrae, mas também outras instituições de apoio que podem fazer muita diferença. O planejamento também é essencial: pensar como empresário independente do tamanho da empresa é o caminho mais curto para levar sua empresa ao sucesso. Finalmente, algo que não precisa ser dito para os microempresários: acredite. Não se deixe abater pelas crises, pois elas chegam e vão. Geralmente, quem aproveita a crise para tirar proveito do ciclo de prosperidade é que acaba se dando melhor no mundo empresarial. Essa é palavra de ordem, enxergar a crise como uma oportunidade.