Aprender a poupar e a planejar os gastos desde cedo. Esse é o objetivo de famílias que usam métodos de educação financeira para as crianças em casa. E essa tarefa pode ser simples. Os responsáveis podem, por exemplo, organizar um quadro de tarefas para cumprir e remunerar quando objetivos são alcançados ou dar um cofrinho para as crianças guardarem moedas.

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O envolvimento das crianças com as finanças pode começar aos 3 anos de idade, como explica o especialista em Planejamento Financeiro e diretor da Allea WM, Francisco Levy. Segundo ele, o envolvimento com o tema deve ocorrer aos poucos, na medida da compreensão das crianças sobre o dinheiro.

Para começar a trabalhar a educação financeira em casa, Levy sugere que para crianças pequenas, com idades entre 3 e 5 anos, seja adotado o clássico cofrinho para guardar moedas. A criança deve ser ensinada que para ter um brinquedo ou um passeio é preciso economizar.

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Dos 6 aos 8 anos, a dica é já dividir os recursos recebidos em uma parte para gastos, outra para poupar e uma terceira para doar para pessoas mais necessitadas, compartilhar ou mesmo usar em presentes para amigos e familiares. Segundo Levy, nessa idade o senso de solidariedade também deve ser introduzido.

Aos 9 anos é hora de evoluir para uma conta bancária onde a criança vai começar a colocar suas economias. “É só aos 12 anos que a semanada se torna mesada, pois a criança já tem alguma noção de como gerir o dinheiro e já deve começar a aprender a fazer planos mais longos, como para uma viagem no fim do ano, por exemplo”, explica Levy.

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“É fundamental também ao longo de toda infância, envolver os pequenos no orçamento familiar, mostrar restrições e objetivos, sempre em um ambiente realista e ponderado. Discussões tensas sobre o tema vão ser absorvidas pelas crianças e não ajudarão em nada”, explica. Ajudar a lidar com dinheiro e planejar o uso dos recursos desde pequenos, na opinião do especialista, vai criar adultos mais conscientes da necessidade de planejar e investir.

Aprendizado para a vida toda

“Muitos acreditam que lidar bem com o dinheiro ou ter capacidade de poupar é uma característica pessoal, mas não é bem assim. Podemos ensinar a eles como fazer isso desde muito pequenos e incentivar”, diz Levy.

Foto: Wilson Dias / Agência Brasil

O especialista acrescenta que três conceitos são fundamentais: receitas, despesas e acúmulo. Na visão de Levy, os pais devem ter a iniciativa de remunerar por pequenas tarefas, pois isso ajuda a criar o entendimento de que o dinheiro vem do trabalho. “Ajude a criar metas de acúmulo, desenvolvendo o planejamento para o alcance de um objetivo; assim, se quer um brinquedo que custa R$ 50, pode poupar R$ 10 por semana e ao final de cinco semanas terá o dinheiro para comprar”, explica.

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O especialista também orienta a definir metas para comprar coisas mais caras. “Se querem algo que custa R$ 500, que poupem R$ 250 e os pais completarão com o resto. O importante é não suavizar o impacto das falhas na poupança, não guardou, não vai dar para comprar. É importante fazer com que eles sintam o custo de não ter planejado, isso vai trazer um aprendizado importantíssimo para a vida adulta.”

Na prática

A advogada Raquel Araújo Portela conta que desde os 4 anos dos filhos tem ensinado sobre o valor do dinheiro. E há cerca de dois anos tem estimulado a poupança por meio de um cofrinho para a Ana Clara, 11 anos, e o Leonardo, 8 anos. “Eles economizam o ano todo para comprar algo que eles queiram muito e que seja mais caro. Quando nós vamos ao shopping, eles já sabem que se querem comprar algo tem que ter dinheiro. Muitas coisas que eles compravam antes e deixavam jogado em casa, hoje já nem compram porque acham caro”, contou.

Raquel disse que os filhos juntaram dinheiro desde o início deste ano para comprar um videogame. A cada semana, eles ganham R$ 10 reais e quando tiravam nota máxima em uma prova da escola, recebiam R$ 50. “Em outubro, eles completaram o plano financeiro com mais de R$ 1.500”, disse Raquel. Com todo esse forço, os pais completaram o valor do videogame, que custava R$ 1.799.

A psicóloga Juliene Azevedo Oliveira também conta que ensina o filho de 8 anos a poupar e a administrar o dinheiro. “Desde os 7 anos do Guilherme, eu faço um quadro de tarefas em casa e todo sábado a gente faz a contabilização da semana. Quando ele cumpre com todas as tarefas, ele recebe dinheiro”, disse.

Ela contou ainda que estabelece metas para o filho. “Ele queria comprar uma colcha para a irmã. Ele comprou e agora a próxima meta é um vídeogame”, disse, destacando que o filho se empenha para cumprir as tarefas. “Se cumprir tudo direito, em abril consegue comprar o videogame”.

Ao cumprir com as tarefas da semana, Guilherme recebe R$ 50 e já tem a própria carteira para guardar o dinheiro.

Antes de estimular a educação financeira em casa, Juliene conta que o filho não tinha noção do valor das coisas. “Como ganhava brinquedos sempre, não estava valorizando. E agora que ele está comprando, está conquistando, ele fica muito mais empolgado e dá mais valor”, ressaltou.

“A irmã pequena [de 5 anos] já está vendo. Ela já fica empolgada e quer participar, mas a gente está esperando um pouquinho”, disse Juliene.