Dólar dispara, bolsa cai e risco-país já preocupa

São Paulo (AG) – O dólar comercial fechou ontem cotado a R$ 2,658 na compra e R$ 2,660 na venda, com alta de 1,95%. Foi a quarta alta consecutiva da moeda americana, que bate novo recorde no ano. Na máxima do dia, a cotação de venda chegou a R$ 2,675, a maior desde 1º de novembro do ano passado. Com o resultado de ontem, o dólar acumula alta de 5,72% no mês e de 14,85% no ano. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 3,79%, com o Índice Bovespa em 12.112 pontos. Foi a quinta queda consecutiva da bolsa paulista, que acumula baixa de 5,8% em maio e de 10,7% no ano.

O dia foi de grande nervosismo, apesar de o número de negócios ser reduzido. As operações estiveram concentradas nas tesourarias bancárias, que direcionam suas sobras de caixa à segurança do dólar, sempre com uma boa dose de especulação. A disparada do risco-país, que ultrapassou os 1.200 pontos e a queda acentuada do C-Bond foram dois dos ingredientes que embalaram a pressão do dólar. Segundo informações de alguns operadores, já houve hoje um movimento de fuga de capital externo no país, e com volumes expressivos.

O Banco Central anunciou mais um leilão de troca de títulos pós-fixados longos por curtos, mas o anúncio e a realização do leilão não provocaram nenhum impacto sobre o dólar. O objetivo do leilão é encurtar o prazo dos títulos que estão dando prejuízos às instituições financeiras, devido à antecipação das novas regras dos fundos. Segundo operadores, a chamada ‘crise das LFTs’ ampliou sua abrangência e atinge em cheio o risco-país e o C-Bond, que sofre uma fuga de recursos. Há pouco, o C-Bond tinha queda de 1,96%.

“O mercado está sofrendo com o chamado ‘efeito manada’, onde os ativos financeiros não se comportam de acordo com os fundamentos da economia do país. A decisão do Banco Central de antecipar os ajustes dos fundos, da maneira como foi feita, está levando à deterioração dos ativos num momento em que o cenário era favorável, com inflação sob controle, safra recorde e expectativa de queda de juros”, disse João Medeiros, diretor da corretora Pioneer.

O economista e ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, considera que o mercado financeiro tem motivos para o nervosismo que vem tomando conta dos investidores nos últimos dias. Para ele, o mercado tem razões objetivas para isso, embora as situações fiscal, da dívida pública e da balança de pagamentos não justifiquem toda a agitação e as últimas desvalorizações cambiais que geraram uma “verdadeira situação de quase pânico”. Durante entrevista concedida hoje à Rádio Eldorado AM, de São Paulo, o ex-ministro explicou o conjunto de circunstâncias que originaram este processo. “É o receio gerado a partir de maio, nos mercados financeiros brasileiro e internacional, com a provável vitória do Lula. Para quem olha o Lula light – e falando que ele é moderado -, e dá uma olhada no programa do PT e nas declarações recentes do próprio Lula, começa a se assustar. Não é verdade, por exemplo, o que protestou ontem o PT, que o Banco Central tenha dito que o risco político influenciou-se da situação”, opinou.

O dólar paralelo negociado em São Paulo fechou hoje cotado a R$ 2,68 na compra e R$ 2,73 na venda, com alta de 1,11%. No Rio, o ‘black’ ficou em R$ 2,62 na compra e R$ 2,68 na venda, com valorização de 0,75%.

Apesar de toda confusão, o FMI deu ontem um voto de confiança ao Brasil. Segundo o Fundo, o Brasil tem uma “trajetória excelente na condução de sua economia” que o ajuda a enfrentar o nervosismo dos mercados em relação às eleições de outubro, disse ontem o porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), Thomas Dawson. “Certamente há uma boa dose de nervosismo” por causa das eleições presidenciais de outubro, o que é “compreensível” já que “os mercados reagem e sobrerreagem”, disse Dawson. Entretanto, “achamos que as autoridades brasileiras têm uma boa compreensão e (um bom) marco” econômico, acrescentou, e por isso o FMI confia nelas e as apóia. “Temos confiança em que têm as ferramentas, a habilidade e a vontade para buscar as políticas necessárias”, assinalou Dawson.

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