Dirceu diz que não há motivo para juro subir

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem não ver pressão inflacionária que justifique o aumento da taxa de juros. Em palestra para empresários na abertura do I Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, Dirceu disse que não deveria falar sobre a política econômica, mas não se conteve.

“Não sou robô que só faz o que mandam. Além de ministro, sou cidadão, deputado federal por São Paulo e não posso deixar de expressar minha opinião sobre os juros. Não vejo motivos para que as autoridades monetárias do País aumentem a taxa de juros. É preciso tirar o véu dessa discussão”, disse o ministro-chefe da Casa Civil, que não deu entrevistas e não falou sobre as eleições e as críticas que vem fazendo aos tucanos.

José Dirceu afirmou, porém, que “essa não é a opinião de quem tem o poder de tomar a decisão legal para o País (sobre o juro). O senhor dessa decisão, de certa forma, é o Copom (Comitê de Política Monetária)”, acrescentou.

Ele negou, entretanto, que haja ingerência do governo nas decisões sobre juros, apesar de sinalizar que não acha que essa independência seja positiva. “O problema é que com a autonomia do Banco Central, a autoridade monetária tem autonomia para exercer seu papel em relação ao juro.”

Para Dirceu, o BC já tem autonomia real. “Não vejo como o País possa ter dúvida da autonomia do Banco Central. Ela é real, ainda que não seja constitucional.”

O ministro disse ainda que tinha a expectativa de que o juro básico da economia chegasse em dezembro em 13% ao ano.

Projeções

Às vésperas da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central), que começa hoje e termina amanhã, o mercado elevou a projeção da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) ao final de 2004 para 16,5% ao ano. A previsão faz parte da pesquisa semanal Focus, realizada pelo Banco Central junto a instituições financeiras. A estimativa representa um aumento de 0,5 ponto percentual em relação à atual taxa de 16%. Até a semana passada, a expectativa era de que a Selic ficasse estável até dezembro.

No entanto, representantes do BC e até do alto escalão do governo reforçaram nos últimos dias o discurso de que uma alta de juros pode ser necessária para conter a recente escalada da inflação. A ameaça repercutiu no mercado, que reviu suas projeções.

O mercado também elevou as projeções de crescimento da economia e da inflação para este e para o próximo ano.

No caso da inflação, pela quarta vez consecutiva os bancos aumentaram a previsão para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que alcançará 7,37% neste ano, contra 7,29% do levantamento anterior. Esse índice é utilizado pelo governo para as metas de inflação. Para 2005, o mercado elevou de 5,60% para 5,70% a expectativa de inflação. A meta para 2005 é de 4,5%.

Pelo décima vez seguida, o relatório apontou uma elevação na expectativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). No último relatório, subiu de 4,23% para 4,31% a expectativa de crescimento da economia neste ano. Para 2005, o crescimento passou de 3,5% para 3,6%.

Ainda de acordo com o relatório do BC, o superávit da balança comercial ficará em US$ 31 bilhões até o final do ano e a produção industrial deve crescer 6,50%, contra expectativa de 6,30% na semana passada.

Para o dólar, o mercado manteve a projeção de que a moeda encerrará o ano em R$ 3,05.

Alencar volta defender mudanças

O Brasil precisa trocar o atual regime de juros – que “pretende achatar o consumo para combater a inflação” – e partir para uma alternativa que reduza o custo de capital e favoreça o setor produtivo. A opinião foi dada ontem pelo vice-presidente da República, José Alencar, que voltou a criticar o nível dos juros no País, na véspera do primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

“Normalmente não critico as decisões do Copom. É um órgão eminentemente técnico. O que nós queremos é uma mudança da filosofia brasileira de regime de juros”, afirmou, pouco depois de participar da abertura da Expo Abras, feira anual da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), no Rio. Alencar também comentou que “o Brasil é um País de ?subconsumo? e não se pode achatar o consumo de quem não consome”.

Para ele, o País precisa de uma “política diferente de combate à inflação”. “Ou seja, deixar o Brasil crescer na produção com custo de capital mais econômico para que as atividades produtivas possam ser mais competitivas e vender produtos cada vez mais baratos para a população”, argumentou.

O vice-presidente evitou fazer um prognóstico sobre a decisão que o Copom deverá tomar amanhã. Hoje ocorre o primeiro dia reunião. “A decisão do Copom está embasada em uma filosofia de política monetária que provavelmente leve a mexer na taxa de juros para cima ou para baixo. O que digo é que precisamos nos conscientizar de que o Brasil precisa alterar esse regime de juros”, afirmou.

Citando um estudo da consultoria GlobalInvest, que mostra que o Brasil lidera o ranking global de taxa real básica (Selic menos a inflação em 12 meses), em torno de 9,5%, Alencar argumentou que as atividades produtivas não têm como contrair financiamentos para suas expansões, ao contrário do que ocorre em outros países.

“No exterior, as empresas trabalham com grau de endividamento de 80% e se viabilizam, porque as taxas são outras. Isso (o juro alto) perturba o desenvolvimento”, afirmou. Logo em seguida, Alencar deu a entender que o País poderia reduzir os níveis de seus juros, ao afirmar que “há espaço para que o Brasil busque se situar em patamar compatível com suas características de dimensão”.

Alencar qualificou como “um despropósito” as taxas de juros com que o País tem rolado suas dívidas. E informou que, para fazer face ao pagamento dos juros da dívida pública, foram gastos R$ 145 bilhões no ano passado. Durante sua apresentação, o vice-presidente disse à platéia que o pagamento desses valores impede que o País tenha recursos para investir em outras áreas, como infra-estrutura de energia e transportes.

Presente ao evento, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Luiz Fernando Furlan, preferiu não fazer comentário sobre juros.

Presidentes da CUT e Fiesp rejeitam alta

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, e o empresário Paulo Skaf, recém-eleito e ainda não empossado presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), defenderam o crescimento econômico e se declararam contrários a uma política econômica de elevação da taxa de juros básica da economia, a Selic, para combater a inflação.

Segundo o presidente da CUT, seria “um desastre” um aumento da taxa Selic. Ponderou, no entanto, que a possibilidade de um aumento de apenas 0,25 ponto “seria ruím, mas poderia ser compensado caso houvesse uma previsão de queda a médio ou longo prazo”.

O presidente eleito da Fiesp, Paulo Skaf, por sua vez, disse que “os juros sem dúvida atrapalham o investimento e sem investimento não há crescimento”. Opinou que a pressão inflacionária atual não se dá por crescimento de demanda.

Em sua avaliação, o crescimento da economia acontece principalmente porque o ano passado foi ruim e por causa das exportações. Sem se declarar explicitamente contrário ou favorável ao aumento da taxa Selic, Skal informou que “se fosse escolher apostaria nos investimentos, aumento de produção, aumento do consumo e da oferta”, sugerindo a manutenção ou redução da taxa.

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