Dilema de morar: aluguel ou casa própria?

Comprar ou alugar um imóvel? A pergunta é recorrente e tem respostas diferentes para cada situação. No caso da compra, as alternativas estão indo cada vez mais além do velho financiamento que vem cobrando juros cada vez menores e do consórcio. Já na locação, há previsões de que os preços, em Curitiba, têm pouco espaço para aumentar, até mesmo nos contratos já em vigor.

Mesmo com os preços do aluguel estáveis, ultimamente as pessoas têm trocado cada vez mais a locação pela compra. Dados do Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR) dão conta de que, em janeiro, 20% das pessoas que deixaram um imóvel locado mudaram para uma residência comprada. Em agosto, a proporção aumentou para 28% salto que a entidade atribui principalmente à implantação do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.

Para o consultor Raphael Cordeiro, financiamentos como os do programa de habitação do governo são bastante atrativos, mas contemplam apenas uma parcela da população. Quem não se enquadra nas condições para participar do programa, ou pretende comprar imóveis com valor além do limite máximo que atualmente é de R$ 100 mil para Curitiba, mas deve subir em 2010 para R$ 130 mil tem que buscar outras alternativas.

“Os financiamentos normais estão com juros que vão de 8% a 14% ao ano”, diz Cordeiro, lembrando que, além dos juros, os bancos incluem também a Taxa Referencial (TR) na conta. Mas as taxas, que estão baixas, ao menos se comparadas com as cobradas há poucos anos, nem sempre devem ser o principal fator na hora da escolha. “Ao comprar, o ideal não é comparar a taxa de juros, mas o valor final das parcelas”, recomenda o consultor.

Mesmo com os juros baixos, Cordeiro ressalta que nem sempre comprar é a melhor escolha. “Não é porque a taxa de juros caiu que as pessoas estão obrigadas a comprar imóvel agora”, frisa. Para ele, locar um imóvel, em muitos casos, não é mau negócio. “Se for comprar e não der uma entrada razoável, a prestação será maior que o aluguel”, completa.

No caso de optar por locar um imóvel e, paralelamente, guardar dinheiro e investi-lo, obviamente para comprar um à vista em alguns anos, o consultor alerta para um possível prejuízo. “A estratégia pode não ser boa se o valor do imóvel subir muito durante esse tempo”, diz. Um exemplo disso vem acontecendo em Curitiba nos últimos anos, quando os valores dos imóveis dispararam e os bens valorizaram mais que muitos outros investimentos.

Mobilidade

O vice-presidente de administração de imóveis do Secovi-PR, Luiz Valdir Nardelli, acredita que a locação continua tendo suas vantagens, tanto para o locador como para o inquilino. Para o primeiro, o fato de ter um investimento sólido, que complementa a renda mensal e dá retorno quase certo. Para o segundo, a vantagem é da mobilidade e flexibilidade: eventuais mudanças ficam mais fáceis de serem feitas, e o valor que seria colocado em uma entrada na compra de um imóvel pode ser usado para a aquisição de outros bens, por exemplo.

“Muitas pessoas, antes de comprar imóvel, querem aproveitar a vida, gastar com lazer, comprar um carro, por exemplo. Nesse caso, é melhor alugar mesmo”, observa Nardelli. “O importante é que você more bem e ganhe o suficiente para pagar o aluguel”, completa. Ele lembra, ainda, que, com as dificuldades de mobilidade cada vez maiores em Curitiba, locar um imóvel próximo ao local de trabalho pode ser uma ótima alternativa. “Imagine morar na Barreirinha e ter que trabalhar no Xaxim”, exemplifica.

Espaço

Para Nardelli, ainda há espaço, nem só em Curitiba mas no País, para au,mento de pessoas procurando locar imóveis. No Brasil, 15% das famílias moram de aluguel. Em Curitiba, são cerca de 17%. “Em países desenvolvidos, a porcentagem chega a 35%”, informa. A diferença, para ele, é um dos motivos para se apontar uma tendência de crescimento na procura pela locação.

Por outro lado, o executivo do Secovi-PR avalia que o espaço, hoje, é pequeno para aumentos. “O valor do aluguel chegou onde deveria chegar. Deve no máximo acompanhar a inflação”, prevê. Ele lembra que alguns indicadores bastante usados para a correção de aluguéis, como o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV), vêm inclusive tendo taxas negativas nos últimos meses.

Financiar para lucrar no aluguel

O vice-presidente de administração de imóveis do Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), Luiz Valdir Nardelli, diz que muita gente tem aproveitado os juros mais baixos de financiamentos para comprar imóveis com o objetivo de alugá-los. A ponto do número de imóveis disponíveis para locação ter aumentado consideravelmente em Curitiba nos últimos anos. Se, em janeiro de 2007, o número era próximo de 3 mil, em agosto deste ano passou para cerca de 4 mil. A entidade calcula que, no mesmo período, o valor dos aluguéis também passou por um bom aumento, de cerca de 30%. Ao mesmo tempo, a inadimplência vem caindo. Se, em agosto do ano passado, a taxa de aluguéis com mais de 30 dias de atraso era de 4,3%, um ano depois ela caiu para 3%.

Crédito planejado ganha confiança

Quem quer comprar um imóvel e não precisa imediatamente do bem tem mais uma alternativa além do consórcio e da poupança. Trata-se do autofinanciamento, ou crédito planejado, modalidade que, aos poucos, vem quebrando a desconfiança dos curitibanos. Pelo sistema, o consumidor, como em um consórcio, paga uma mensalidade, acrescida de uma taxa de administração. Em no mínimo seis meses (como se fosse um período de carência), sem qualquer sorteio, já pode receber o crédito para a compra do imóvel. Para o diretor de Marketing Alan Richard, da empresa Casa Própria Brasil, que trabalha com o sistema, não há segredos: à medida que o cliente paga as mensalidades em dia, sua posição em um ranking global melhora. Quando ele alcança o maior percentual integralizado no ranking, fica apto a receber o crédito. A posição pode ser melhorada mais rapidamente, caso mais de uma mensalidade por mês seja paga no limite de até quatro por vez. A taxa de administração, no caso, é de 25% sobre o valor do crédito. No ato do contrato, o participante também deve pagar de 3% a 7% do total do investimento, para custos contratuais o valor, porém, pode ser parcelado. No mais, o cálculo é simples: para um crédito de 80 mil, por exemplo, paga-se 200 parcelas de R$ 500, já com a taxa de administração. Enquanto ainda há parcelas a serem pagas, o imóvel fica alienado. A aprovação do crédito também é diferente, segundo Richard. “Não pedimos comprovação de renda. Mas fazemos uma entrevista completa antes de aprovarmos o contrato.” O sistema, afirma, é regulado por um Termo de Conduta elaborado pelo Ministério Público.