Difícil crédito para o pequeno agricultor

As dificuldades que os agricultores familiares enfrentam para acessar uma modalidade de crédito, dentro do Pronaf (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar), voltada aos sistemas agroflorestais, que aliam geração de renda e preservação ambiental. Este foi o tema de uma série de discussões promovidas ontem, na sede da AABB (Associação Banco do Brasil), em Curitiba, pela Aopa (Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia).

Há cerca de três anos, o Ministério do Desenvolvimento Agrário criou o Pronaf Agroflorestal, uma modalidade de financiamento voltada a investimentos em atividades ligadas a sistemas agroflorestais. Através dele, dependendo do grupo em que estejam enquadrados, os agricultores podem obter créditos de R$ 4 mil ou R$ 6 mil (com oito anos de carência, para doze anos de pagamento, com juros de 3% ao ano). Porém, segundo o diretor da Aopa, José Antônio da Silva Marfil, é grande o número de trabalhadores que não conseguem acessar o financiamento.

?O Pronaf Agroflorestal foi lançado pelo governo federal, mas tem alguns problemas de execução que dificultam seu acesso. Há um ano e meio alguns agricultores familiares ligados à Aopa vêm tentando conseguir acessar o financiamento. Sem sucesso, eles acabam conseguindo apenas financiamentos ligados ao Pronaf comum. Discussões como as promovidas na AABB são importantes para mudar esta realidade?, diz.

De acordo com José Antônio, as dificuldades de acesso têm como causa principal a forma de interpretação do Banco do Brasil no momento de fornecer o financiamento. ?O problema é que determinados produtos não são reconhecidos como sendo do sistema agroflorestal. Além disso, o banco não contempla a idéia de diversidade da floresta, incentivando a monocultura?, afirma.

Por sua vez, o técnico da secretaria de agricultura familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Cássio Trovato, justifica as dificuldades associando-as à ausência de indicadores que validem os sistemas agroflorestais em nível econômico. ?Faltam indicadores econômicos de pagamento das dívidas. Ainda não se sabe ao certo qual o retorno econômico que os produtos envolvidos no sistema vão dar para que os agricultores possam pagar o financiamento. Estão sendo realizadas pesquisas relativas a este assunto e a partir deste conhecimento novas pessoas devem ter acesso ao crédito?.

Outro problema parte dos agricultores, que muitas vezes não enxergam que o sistema agroflorestal é rentável. O diretor da Aopa explica que muitos agricultores ainda acreditam que ter áreas de preservação dentro de suas propriedades é sinônimo de problema e não de investimento. Para que haja uma mudança de mentalidade e o sistema agroflorestal seja viabilizado, ele acredita que é importante que os financiamentos voltados à agroecologia tenham boas condições de pagamento, não resultando no endividamento dos agricultores. ?Os pagamentos precisam ser viabilizados e sair do próprio manejo. Árvores não são como pés de feijão. Levam muito mais tempo para crescer?.

As discussões realizadas pela Aopa tiveram o apoio do Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul), da CCA (Cooperativa Central de Reforma Agrária), da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e do FNMA (Fundo Nacional de Meio Ambiente). 

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