Dieese questiona polêmica sobre mínimo e dólar

A polêmica entre Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB) sobre o valor do salário mínimo continua. Ciro divulgou hoje nota para sustentar que o mínimo, na época em que foi ministro da Fazenda, era próximo de U$ 100. O candidato recorreu à inflação americana para argumentar que o salário médio de US$ 82, que vigorou entre setembro e dezembro de 1994, equivale a US$ 99,50 de hoje. Mas, para o economista José Maurício Soares, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), o referencial para medir o valor real do mínimo não é a cotação do dólar, nem a inflação dos EUA, mas o poder de compra no Brasil.

Por esse critério, o salário valia menos na época em que Ciro era ministro do que hoje.

Utilizando o Índice de Custo de Vida (ICV) do Dieese como parâmetro, por exemplo, o salário-mínimo médio de 1994 valia o equivalente a R$ 171,51, ou seja, 14,2% a menos do que os atuais R$ 200. Se considerarmos o salário médio dos quatro meses em que o candidato do PPS foi ministro (R$ 138,37), a diferença é maior ainda (30,8% a menos).

Nas séries históricas do Dieese, o salário mínimo de dezembro de 1994, quando Ciro deixou o ministério, é o nono pior desde 1940. O menor dos últimos 62 anos foi verificado em abril de 1992, durante o governo Collor de Mello, quando valia o equivalente a R$ 117,41 de hoje.

Apesar da valorização de cerca de 20% do salário-mínimo ao longo do Plano Real, ele ainda está muito abaixo do que foi em períodos anteriores. Quando foi criado, em julho de 1940, o salário-mínimo valia 220 mil-réis em São Paulo, o que equivale a R$ 754 de hoje. Em 1959, o salário chegou a valer R$ 826,39. Comprava 1.180 passagens de ônibus na capital paulista. Hoje compra apenas 142 passagens.

A queda no valor real do mínimo é histórica. O governo do ex-presidente José Sarney, por exemplo, iniciou-se com um salário médio valendo o equivalente a R$ 368,35, em 1985, e o deixou cair para o equivalente a R$ 281,61 em 1989. No governo Collor, o salário mínimo teve seu melhor valor médio em 1991, quando equivalia a R$ 210,19. Esse valor caiu nos anos seguintes, inclusive durante o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, e só recuperou-se em 2001, quando teve o aumento mais significativo, de 19,2%.

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