Desvalorização tem o seu lado bom

São Paulo

  -A desvalorização cambial não representa só problemas para a economia. Se de um lado a taxa de câmbio turbina a inflação, restringe o espaço para redução de juros e aumenta a dívida, ela também traz dividendos para a economia. A ponderação foi feita ontem pelo professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Heron do Carmo.

O professor chama a atenção para o movimento de empresas que estão aproveitando a desvalorização do câmbio para fazer do Brasil a sua plataforma de produção e exportação. “As pessoas precisam prestar mais atenção na economia real e deixar de olhar só para o mercado financeiro”, alerta Heron.

De acordo com o coordenador da Fipe, o que as empresas multinacionais produzem, se for fabricado no Brasil, terão custos em reais e poderão ser vendidas no exterior em dólares. Um bom técnico de uma multinacional com sede no Brasil e que ganhe R$ 10 mil representa um custo muito baixo para a companhia uma vez que na moeda americana este salário, na cotação do dólar hoje, seria de US$ 2,5 mil. “Isso para uma empresa internacional é quase nada”, afirma o economista. Do lado da produção, um excelente par de sapatos, por exemplo, que com o dólar a R$ 2,00 era exportado a R$ 40,00, agora pode ser embarcado a R$ 80,00. Com isso, mesmo que as empresas concedam descontos para os importadores no exterior, seus ganhos ainda seriam bem mais vantajosos do que se estivessem produzindo e exportando das suas matrizes, explica o economista. “Esses sapatos, mesmo sendo de qualidade superior aos dos concorrentes italianos ou espanhóis, poderiam ser vendidos mais baratos e remunerando bem toda a cadeia, desde a produção até o varejo no exterior”, avalia Heron.

Isso, de acordo com o economista, justifica em parte os elevados superávits que a balança comercial vem registrando no decorrer deste ano. “Empresas de autopeças, que estavam paralisadas, já estão retomando a produção. Se as pessoas estivessem olhando menos para os mercados financeiros, estariam vendo que a economia real, ainda que muito aquém do necessário para gerar empregos em massa, está apresentando crescimento, na média do ano”, diz Heron. Segundo ele, a economia brasileira só não está crescendo a uma taxa de 4% por causa da baixo desempenho da economia mundial.

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