Desprezo por moedas de um centavo

As moedinhas de um centavo vêm sendo desprezadas tanto por comerciantes quanto por consumidores. Por considerá-las de valor insignificante ou pequenas demais para serem guardadas no bolso ou na carteira, muitas pessoas deixam de pegá-las no momento do troco ou mesmo ao receber por uma compra.

O comerciante José Alberto Kuntz, que é proprietário de uma mercearia, admite que não dá importância as mesmas e que geralmente as tem em pouca quantidade em seu estabelecimento. ?Se vou ao mercado e a conta totaliza, por exemplo, R$ 50,48, já dou R$ 50,50 e nem espero para receber dois centavos de troco. O mesmo faço em minha mercearia. Nem me incomodo em cobrar os trocadinhos de meus clientes. Não vale a pena?, afirma.

Este tipo de comportamento é comum mesmo nas lojinhas de R$ 1,99, onde geralmente os comerciantes anunciam o preço em letras garrafais e acabam cobrando R$ 2,00 pelos produtos. ?Na loja em que eu trabalho, R$ 1,99 é só no nome. A maioria dos produtos custa mesmo R$ 2,00?, confessa o atendente Bruno Barros. ?Fazemos isto justamente porque são raras as pessoas que possuem moedas de um centavo na carteira?.

Segundo Bruno, quando o troco é de um a quatro centavos, muita gente prefere recebê-lo em balas do que em moedas. ?Algumas pessoas nem as balas querem. Quando alguma coisa custa, por exemplo, R$ 2,39, muita gente nem espera pelo troco?, diz. ?Nós mesmos não deixamos de vender alguma coisa porque falta ao cliente dois ou três centavos. É melhor arredondar a conta para um valor um pouquinho inferior do que perder a venda?.

Na opinião de Inês Kloss Martins, que é proprietária de uma panificadora, o desprezo pelas moedas de um centavo é mais comum entre os jovens. ?Noto que os mais velhos sempre têm as moedinhas e normalmente não as dispensam no momento do troco. Os mais jovens é que acham que elas são fáceis de perder e não gostam de carregá-las. Eles geralmente não têm muita consciência do valor do dinheiro?.

Ao contrário de outros comerciantes, Inês conta que sempre tem as moedas em caixa e revela que não as considera de valor desprezível. ?Vendo muitos produtos por quilo e acontece bastante de não dar valor redondo. Preciso das moedas e, ao contrário de muita gente, sei que elas têm valor. Sempre as aceito e também as passo para frente quando as tenho comigo?, diz.

Menosprezo leva à desvalorização

A presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região Metropolitana, Marisa Stédile, reconhece que o desprezo existe e informa que este é o primeiro passo para que uma moeda se desvalorize. ?É por aí que começa a desvalorização?, declara. ?As pessoas deveriam ser mais rigorosas com o troco e não menosprezar valores, por menores que eles sejam. A moeda de um centavo não deve ser vista de forma isolada, pois ela faz parte do conjunto do real?.

Atualmente, de acordo com o Banco Central, existem 3.155.329.615 moedas de um centavo em circulação, que totalizam R$ 31.553.269,15. ?O desprezo por estas moedas é um comportamento generalizado no Brasil. O Banco Central as coloca em circulação e a maioria das pessoas as jogam no fundo das gavetas ou no porta-luvas do carro. O resultado é que os gastos do Banco com a produção de moedas aumentam, sendo que quem financia isto é a própria população?, explica o chefe-adjunto do departamento de meio circulante do Banco Central, no Rio de Janeiro, João Sidney Figueiredo Filho. (CV)

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