Deral projeta alta de 28,2% na safra de café do Paraná

O Paraná espera colher este ano 2,5 milhões de sacas de café, o que representa uma safra 28,2% maior que a do ano passado (1,95 milhão de sacas), conforme projeção do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Já a safra brasileira 2004/2005 – colhida em 2004 e comercializada até 2005 – está estimada em 35,5 milhões de toneladas, 24,5% acima da colhida em 2003 (28,5 milhões de sacas). Segundo a engenheira agrônoma Margorete Demarchi, do Deral, a safra paranaense terá um crescimento superior em função da maior utilização do sistema de plantio adensado, que apresenta produtividade média de 40 sacas de 60 quilos por hectare – contra 15 sacas do sistema tradicional.

Por ser uma cultura perene, o café costuma alternar um ano de maior produção (chamado de “safra cheia”) com outro de menor volume, em virtude do esgotamento da planta. Em 2002, o Brasil colheu 46 milhões de sacas e, no ano passado, 28,5 milhões. No mesmo período, a produção de café no Paraná recuou de 2,3 milhões para 1,95 milhão de sacas. “Por causa do plantio adensado, a produção do Paraná não oscila tanto quanto a das lavouras tradicionais do Brasil”, cita Margorete.

Com a opção dos produtores pelo sistema adensado, o Paraná está conseguindo aumentar a produção mesmo com redução da área. “Nos últimos anos, está havendo erradicação de cafezais velhos no Estado. Mesmo havendo pontualmente plantios novos (a maioria de café adensado), o plantio está praticamente paralisado. Não há comércio de mudas”, relata a técnica do Deral. No ano passado, a área de produção no Paraná somou 126 mil hectares, dos quais 45% com café adensado – que respondeu por 58% do volume produzido. Neste ano, a área produtiva do Estado está estimada em 118 mil hectares.

O Paraná já foi o maior produtor de café do País na década de 60 – chegando a 21 milhões de sacas produzidas em 1,8 milhão de hectares em 1961. “Nessa época não havia nada de café adensado”, lembra Margorete. No início da década de 90, o Estado plantava 426 mil hectares de café. Hoje, disputa a quarta colocação com Bahia e Rondônia, os três com volumes próximos de 2 milhões de sacas. Minas Gerais lidera o ranking, com estimativa de colher 17 milhões de sacas em 2004, seguido de Espírito Santo (6,5 milhões) e São Paulo (4,3 milhões).

Margorete explica que a área plantada no Paraná tem caído em função de problemas climáticos (geadas severas em 94 e 2000) e dos baixos preços. “Uma das grandes vantagens do modelo tecnológico adensado é a maior estabilidade na oferta e na renda. Com a maior produtividade, o produtor consegue conviver com o café mesmo no período de preços baixos”, destaca a engenheira agrônoma.

Recuperação de preço

Porém nos últimos três anos, o preço do café vem se recuperando, refletindo a melhora da conjuntura internacional do produto. Em 2002, os cafeicultores paranaenses receberam média de R$ 94,00 por saca. O valor médio saltou para R$ 139,00 no ano passado e R$ 151,00 nos dois primeiros meses de 2004. E a cotação continua em alta: na última quinta-feira, o preço médio pago ao produtor era de R$ 170,00, chegando a R$ 180,00 em alguns casos. “Essa nítida recuperação de preços se deve aos baixos preços de 2001 e 2002, em função da alta produção e grande oferta no mundo”, aponta Margorete.

Em 2002, a produção mundial totalizou 122 milhões de sacas. O Brasil, maior produtor e exportador, exportou 26 milhões de sacas – gerando receita cambial de US$ 1,2 bilhão. Em 2003, a produção mundial caiu para 107 milhões de toneladas. O Brasil exportou 23 milhões de sacas, totalizando faturamento de US$ 1,3 bilhão. Como o consumo interno é de 14 milhões de sacas, a tendência é exportar 21,5 milhões de sacas neste ano. O Paraná consome 2 milhões de sacas, vendendo o excedente para Santa Catarina e Rio Grande do Sul (que não plantam café) e para o Mercosul. O Estado importa café robusta de outros estados para formar o blend do café solúvel – este sim, exportado por duas grandes empresas.

Produtores de café adensado estão conseguindo lucro na atividade. O custo variável está estimado em R$ 92,00 e o custo total de produção (incluindo construção de paiol, maquinário e juros), em R$ 120,00. Já os que plantam apenas pelo modelo tradicional estão trabalhando no vermelho, uma vez que o custo variável é de R$ 145,00 e o total, de R$ 200,00.

Produtor preocupado com a estiagem

A safra 2004/2005 de café transcorre normalmente no Paraná, na fase de enchimento de grãos. Em abril, começa a colheita de sementes para muda, mas o forte da colheita ocorre entre junho e agosto, com pico em julho. “O quadro de estiagem no Estado passa a preocupar também a colheita de café, porque essa falta de chuvas acaba antecipando a safra”, informa Margorete Demarchi, agrônoma do Deral. Só que ao contrário da soja, cujo sistema radicular é mais superficial, o café busca a água no subsolo. “Ainda não existe nenhuma perda dimensionada, mas pode haver problemas pontuais. Um déficit hídrico pode acelerar a maturação e deixar o grão menor, por exemplo”, cita a técnica do Deral.

Mesmo com a redução de área e de produção, a cultura do café continua importante para o Estado. “É geradora de mão-de-obra e renda para a pequena propriedade e entra no modelo de diversificação da propriedade. Com dois hectares de café, o agricultor tem uma fonte certa de renda”, ressalta a engenheira agrônoma do Deral. “O café pode conviver com outras atividades, como porco e fruta, e tem a vantagem de poder ser armazenado, garantindo renda durante o ano”.

A cafeicultura envolve aproximadamente 16 mil agricultores no Paraná, dos quais 83% são pequenos produtores (com área inferior a 50 hectares). A área média de café no Paraná é de 8,4 hectares por propriedade. Ainda neste ano, a Seab pretende anunciar uma proposta de incentivo para renovação do café. “O setor está cobrando”, comenta Margorete.

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