Deficientes preferem atendimento pessoal

Foto: Lucimar do Carmo
Portas giratórias em bancos: primeira barreira ao portador de necessidades especiais.

Uma pesquisa de 2006 feita pela Febraban em parceria com a i-Social, uma consultoria especializada em inclusão, mostra que 78% das pessoas com deficiência se relacionam com o banco sem intermediários. ?Tento ir direto ao banco, não gosto que nenhuma pessoa, além do banco e do Ministério da Fazenda, saiba de minhas finanças?, diz o psicólogo Marcos Sousa, deficiente auditivo de Belo Horizonte.

 Para Neivaldo Zovico, diretor da Feneis-SP, cuidar das finanças sem precisar pedir ajuda significa autonomia. ?Quebrando as barreiras de comunicação, podemos expressar o que queremos, sem pedir ajuda a outras pessoas.?

Visitar a agência bancária é a forma de relacionamento preferida por 71,4% das pessoas com deficiência. Elas costumam ir ao banco mais de três vezes por mês. É neste ambiente, no entanto, que deficientes físicos, visuais e auditivos encontram mais dificuldades de acesso. ?Não há indicações claras de como proceder quando procuramos atendimento preferencial?, relata Sousa.

Atenta às reclamações, a Febraban estimula e acompanha as iniciativas das instituições financeiras. ?Os bancos estão dispostos a mudar e a conciliar o desejo dos deficientes com o que é factível dentro dos prazos?, comenta o diretor de Relações Institucionais da federação, Mário Sérgio Vasconcelos. As transformações começam a aparecer. Segundo o executivo, todas as agências do Santander Banespa inauguradas recentemente no Rio de Janeiro já atendem aos critérios de acessibilidade.

O Banco do Brasil iniciou em 2001 a reforma de suas agências em todo o País. ?Hoje 99% delas estão adaptadas para cadeirantes, com rampa ou elevador?, diz o gerente de divisão da Diretoria de Distribuição do banco, Clóvis Castro Júnior, referindo-se aos usuários de cadeira de rodas. Até agosto, a meta é equipar o banco com piso tátil, para orientar os deficientes visuais da porta de entrada até o ponto de atendimento preferencial.

O cartão também deve se adaptar aos clientes especiais, trazendo em alto-relevo a bandeira do banco – de acordo com o logotipo de cada instituição – e a função – de débito, crédito ou múltiplo. ?Em no máximo um ano o deficiente visual que solicitar vai ter o cartão com essas marcas?, prevê Vasconcelos.

Tecnologia facilita acesso

A tecnologia torna mais eficiente o atendimento a pessoas com deficiência ou dificuldade de mobilidade. No Brasil, já existem 25 mil terminais de auto-atendimento universal, equipamentos com altura e ergonomia adequadas para cadeirantes, entrada para fones de ouvido, pictogramas em alto-relevo e inscrição das teclas em braile. A máquina realiza todas as operações de um caixa eletrônico e também pode ser usada por pessoas sem deficiência.

O estudante carioca de jornalismo Anselmo Rammos, de 24 anos, usuário de cadeira de rodas, aprova o terminal universal. ?O teclado e a tela estão no meu nível de visão. Tenho autonomia para usar o caixa?, diz o universitário, cliente da agência Dias da Cruz, do Unibanco, no Méier, zona norte do Rio. O Unibanco tem 24 máquinas, 14 em São Paulo, seis no Rio, duas na Bahia, uma no Paraná e uma no Distrito Federal. De acordo com a assessoria de imprensa do banco, nos próximos meses serão instaladas outras 231.

Em breve, o equipamento estará também nas agências do Bradesco, onde 330 terminais adaptados para deficientes físicos estão sendo instalados. Um aplicativo audível permite que deficientes visuais consultem saldo e façam saque e transferência entre contas. Para ativar o recurso, o cliente insere o plugue do fone de ouvido ao conector da máquina e, automaticamente, a tela da máquina se apaga. Todo o procedimento é feito por meio de comandos de voz.

Mudanças

O esforço para inclusão de deficientes no sistema financeiro tem sido percebido com otimismo. O diretor da Febraban afirma que as ações trazem um sentimento de dignidade às pessoas com deficiência. ?Queremos incluí-los na vida financeira e trazê-los para dentro da sociedade.?

A reivindicação dos deficientes para cumprimento do direito de acesso a locais públicos ajuda a conscientizar a sociedade e acelera mudanças. ?É mais fácil eu me adaptar ao mundo do que o mundo se adaptar a mim, mas preciso colocar meu bloco na rua e exigir meus direitos, senão nada muda?, afirma Rammos.

Bancos se preparam para atender deficientes

São Paulo (AE) – Imagine um banco com piso tátil especial para deficientes visuais, balcão de atendimento na altura ideal para alguém de cadeira de rodas e funcionários capazes de se comunicar por meio da linguagem de sinais. O quadro pode se tornar realidade em três anos. A previsão é da Federação Brasileira de Bancos, que coordena uma iniciativa nacional para tornar as mais de 27 mil agências do País acessíveis para portadores de necessidades especiais.

?Os bancos estão mergulhados na adaptação de suas agências?, garante o diretor de Relações Institucionais da Febraban, Mário Sérgio Vasconcelos, em entrevista à Agência Estado. Longe das sedes dos grandes bancos, no entanto, os deficientes ainda sofrem com a falta de estrutura. ?Nunca vi um banco se preocupar com atendimento diferenciado?, protesta, em entrevista por e-mail, o psicólogo mineiro Marcos Antônio de Sousa Júnior, de 30 anos, surdo desde os seis.

O tema é recente. Entrou na pauta de debates de instituições públicas e privadas quando passou a vigorar o Decreto-lei 5.296, de 4 de dezembro de 2004. Conhecido como Lei de Acessibilidade, o decreto pretende assegurar atendimento prioritário e acesso, com segurança e autonomia, para qualquer espaço urbano às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

?Essas coisas corrigem um comportamento secular. O governo e a sociedade estão mudando aos poucos?, diz Vasconcelos. ?É um contexto enorme, que envolve melhorias de transporte, sinalização e calçamento.? Entre o leque de iniciativas, desde 1991, as empresas privadas com mais de cem funcionários devem oferecer cotas de vagas para deficientes.

Acessibilidade

Mais do que se adequar à lei, os bancos vêem na adaptação das agências um bom negócio. De acordo com o Censo 2000, 14,5% da população possui algum tipo de deficiência. São 24,6 milhões de pessoas, conforme apurou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. ?Cada deficiente convive com no mínimo dois parentes, então estamos falando de cerca de 70 milhões de brasileiros que consomem produtos e gastam dinheiro?, afirma Vasconcelos.

Segundo a Febraban, este universo de clientes movimenta quase R$ 100 bilhões ao ano. ?Acessibilidade também é questão de marketing e negócios.? O diretor reitera a importância de os bancos mudarem. ?É uma exigência de negócio, uma exigência legal da cidadania.? Para o superintendente de sistemas da Área de Automação de Banco Eletrônico do Itaú, Adriano Alonso, ?mais que uma demanda, acessibilidade é uma tendência?.

De olho no segmento, o Banco do Brasil prepara novos produtos direcionados a seus cerca de 2 mil clientes portadores de necessidades especiais. A instituição estuda uma linha de financiamento com taxas mais acessíveis. ?O crédito serviria para compra de cadeira de rodas, automóveis adaptados, próteses e aparelhos?, explica o gerente-executivo da Diretoria de Relações com Funcionários e Responsabilidade Socioambiental, Antonio Sérgio Riede.

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