Declarações de Meirelles “embaralham” os juros

São Paulo

– As declarações recentes do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, embaralharam as apostas no mercado financeiro sobre a trajetória dos juros na próxima reunião do Copom, marcada para os dias 17 e 18. Na segunda-feira, em Berlim, o presidente do BC reafirmou a preocupação com a inércia inflacionária decorrente dos ajustes de preços e salários feitos com base no passado, apelando aos formadores de preços para que o façam com base na expectativa futura de inflação.

Na terça, em resposta ao vice José Alencar, disse que a decisão dos juros era estritamente técnica. Até então, nada que apontasse uma mudança no conservadorismo do discurso da equipe econômica sobre o tema. Na quarta-feira, no entanto, veio a supresa. Em palestra a investidores em Londres, Meirelles disse que a inflação estava no “momento exato da transição” e que o BC tinha informações sobre o fato de os formadores de preços começarem a olhar a inflação nos reajustes. Ao ser questionado sobre esse último ponto, disse se tratar de um dado “confidencial”.

Imediatamente o mercado mudou de rumo e começou a apostar numa queda da Selic, com os contratos de DI futuro na BM&F derretendo durante o dia. Anteontem, de volta a Berlim, o presidente do BC ponderou suas afirmações ao dizer que a instituição faria “de tudo” para combater a inflação e negou qualquer indicação sobre o movimento dos juros.

Ontem, em nova entrevista à Agência Estado concedida por telefone de Sevilha, Meirelles foi mais enfático: disse que é prematuro afirmar que a inércia caiu, mas que, por outro lado, as expectativas nesse sentido eram positivas, e afirmou que, sobretudo, o BC terá dados importantes sobre a pesistência da inflação antes da reunião do Copom.

Emissão soberana

As declarações ora mais otimistas, ora mais cautelosas do presidente do Banco Central, ao mesmo tempo embaralharam as expectativas sobre os juros e também foram alvos de comentários no mercado financeiro. Há quem defenda ser natural uma visão mais positiva – como a relatada por Meirelles em Londres -, em se tratando de uma exposição do Brasil a investidores estrangeiros, sobretudo às vésperas de uma emissão soberana que parece estar tomando forma. Além disso, deve ser considerado que o que interessa afinal ao investidor lá fora é a solvência da dívida pública do País, diretamente relacionada aos juros reais.

“O fato de todos estarem debatendo agora sobre os juros levou o Banco Central a também falar sobre os juros, o que não é uma situação ideal, embora, se eu estivesse na mesma situação, talvez adotasse a mesma postura”, comenta Gustavo Loyola.

Para grande parte dos analistas de mercado, o presidente do BC passou por uma sobreexposição nos últimos dias e isso é algo que deve ser evitado por quem ocupa esse tipo de cargo. “Talvez ele não tenha ainda o cacoete de saber como suas frases serão interpretadas por um mercado que interpreta tudo o que lê, vê ou ouve”, comenta o economista-chefe de um grande banco estrangeiro.

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