Crise pode adiar aumento do preço do aço no País

A alta recente do dólar, que derrubou os preços do aço plano brasileiro, e a normalização dos estoques formam um ambiente de maior otimismo entre os distribuidores que começam a ver a possibilidade de correção de preços dos siderúrgicos, produtos que desde o ano passado não conseguiram repassar a forte alta das matérias-primas. No entanto, a crise que atinge a Europa acende o sinal de cautela e pode adiar um ajuste de preços.

É fato que o aço plano brasileiro já está, na maioria dos casos, mais barato do que o importado. Por outro lado, a demanda pelo produto começa a gerar preocupações por conta da atividade industrial, que já começa a mostrar sinais de arrefecimento. Um sinal de alerta veio com o recuo de 4,8% das vendas de veículos em setembro ante agosto.

Segundo o presidente da distribuidora independente Frefer Metal Plus, Christiano da Cunha Freire, com o dólar em R$ 1,88 – como estava na semana passada -, o aço plano produzido no Brasil fica cerca de 15% mais barato do que o internacional. Essa diferença de preços considera o aço importado somado os impostos, fretes e outros valores de transportes.”Há indicações de que há condições para um aumento de preços”, disse. O executivo afirmou que muitos distribuidores estavam operando com margens negativas durante o período de ajuste de estoques e que, agora, o momento poderá permitir um “realinhamento dos preços” com o aço importado, o que hoje significa alta de preços.

A expectativa de Freire é de que nos dois últimos meses do ano o preço do aço plano no Brasil suba entre 5% e 10%. “Até o fim do ano há chance dos preços ficarem alinhados. Se o dólar ficar até R$ 1,75 há condições”, disse o executivo da Frefer. No fechamento de hoje, a moeda foi cotada a R$ 1,8360. Segundo ele, até o momento, a distribuição não sentiu sinais de arrefecimento da demanda, mesmo com a crise internacional. Ele lembrou que as vendas dos distribuidores, segundo os dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), avançaram 15,2% em agosto ante o mês imediatamente anterior, para 387,1 mil toneladas, alcançando um dos melhores meses para a distribuição de aço do País.

“Com a queda dos estoques e um desconto em relação ao aço importado, deveremos ver um pequeno ajuste de preços no começo de 2012”, segundo relatório de hoje do Credit Suisse, assinado pelos analistas Ivan Fadel e Carlos Louro. Outro efeito, lembram os analistas, será a redução da entrada do aço importado no País, que segundo eles deverá ser sentido no próximo ano.

O analista da Spinelli, Max Bueno, concorda que um aumento para o aço nacional é mais factível de ocorrer no início do próximo ano. Segundo ele, um dos pontos chave, nesse momento, é o equilíbrio dos estoques da cadeia de distribuição e a manutenção do patamar dos níveis de venda de aço. Em relação ao primeiro ponto, o Inda já anunciou que o giro de estoques deverá atingir 2,7 meses em outubro e 2,5 meses – o patamar considerado ideal – em novembro. Já a demanda, de acordo com Bueno, gera mais preocupações por conta da atividade industrial, que já começa a mostrar sinais de arrefecimento. “Tem alguns fatores que precisam ser equacionados para se ter espaço de aumentar esse tíquete médio”, disse.

Segundo um analista que acompanha o setor, em alguns tipos de aço o prêmio que existia realmente acabou se transformando em desconto em relação ao material importado. “Isso teoricamente abriria espaço para reajustar os preços, mas a expectativa é de que esse aumento do dólar não se sustente e volte para R$ 1,70”, disse. Além desse fato, lembra o analista, as companhias não deverão falar em aumento de preços diante de um cenário de redução da atividade econômica no País. Um aumento de preços, segundo ele, deve esperar a passagem da volatilidade dos mercados e ficar, provavelmente, para o ano que vem.

Fora do Brasil, os preços do aço parecem ter chegado muito próximos do piso e, por isso, uma nova queda não é aguardada. O preço da bobina a quente (HRC, na sigla em inglês) já caiu entre 2% a 3% em apenas uma semana nos Estados Unidos e Europa. No cenário externo, analistas apontam que o espaço é pequeno para mais recuos. Com o custo da tonelada do aço plano se situando entre US$ 450 e US$ 500, diante da forte valorização das matérias-primas desde o ano passado, as margens das companhias já estão muito apertadas.

No início da semana, o preço da tonelada da bobina a quente no norte da Europa estava em US$ 685, queda de 2% em uma semana. Em relação ao fim de agosto, a queda é de 11,8%. De acordo com a consultoria The Steel Index, esse é o menor valor desde novembro do ano passado. No sul do continente europeu a situação não é diferente. O preço da tonelada do insumo no início da semana na região estava em US$ 676, 2,7% menor do que na semana passada. Na comparação com o valor do fim de agosto a queda é de mais de 8%. “Nós atribuíamos a queda às incertezas macroeconômicas, principalmente a crise da dívida na Europa, que está impactando volumes e, portanto, os preços”, segundo relatório da última segunda-feira do Bank of America Merrill Lynch (BofA).

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