Crise é oportunidade para Brasil ganhar mercado

A crise financeira mundial está concentrada nos países ricos e representa uma oportunidade histórica importante para as economias emergentes ganharem mercados. A América Latina poderá se beneficiar da nova ordem econômica futura, tendo o Brasil como motor de seu desenvolvimento. Mas, para que isso aconteça, a região deve adotar um projeto de integração que leve à consolidação de um bloco, que pode incluir países de outros continentes, como o Japão.

A análise foi apresentada hoje (17) pelo economista Paulo Rabello de Castro, durante a abertura da reunião do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), no Rio de Janeiro. Entre os motivos apontados por ele como vantagem para a região, está a manutenção por demanda de commodities, principalmente produtos agrícolas, o que favorece os países latinos, tradicionalmente fortes neste segmento.

“O Brasil foi colhido apenas de lado na grande trombada desse ônibus mundial. A região latino-americana está relativamente menos machucada do que os demais, e isso pode fazer com que o Brasil seja um convalescente que saia mais rápido do hospital da crise”, comparou.

Segundo o economista, o Brasil e os países latinos não enveredaram no excesso de crédito que gerou a crise mundial, a partir dos Estados Unidos, pois vinham de um processo corretivo de anos de combate à hiperinflação, desde os anos 90. Isso gerou um sistema bancário regional mais forte do que existia nos mercados norte-americano e europeu.

“O Brasil hoje está mais preparado em termos de maturidade política, porque percebe com mais clareza o papel que tem para a região internamente e globalmente. O resto do mundo está atribuindo para o Brasil este papel e é muito importante que os outros confiem em nós”, disse.

Para o país aproveitar essa oportunidade ao longo dos próximos anos, ele destacou que será preciso formar um novo bloco, além do Mercosul ou da América Latina, podendo agregar forças com o Japão que, segundo sua visão, ainda não aderiu a um grupo específico. De acordo com o economista, até 2050 o mundo estará dividido em três grandes blocos: um liderado pelos Estados Unidos, outro pela Europa e o terceiro pela China. Os países latinos se juntariam a parte da África e ao Japão, de acordo com Rabello de Castro.

“Depois desta crise, temos um futuro muito brilhante. O século 21 começa depois da crise”, afirmou Rabello de Castro, para uma platéia formada por diplomatas e grandes empresários latino-americanos.

O economista discordou das recentes previsões feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o pior da crise já passou. “Negativo. Eles obviamente têm obrigação de cometer o que eu chamo de ´mentira piedosa´, pois ninguém vai dizer que a crise vai piorar. Mas o fato é que não chegamos ainda e estamos longe do fundo do poço da crise, quando os ajustes estruturais já se deram nas empresas, inclusive através de uma purgação do nível de emprego. Nós não estamos nem no meio do inverno, então não podemos enxergar primavera alguma. Ela vai demorar”, afirmou.

Rabello de Castro estimou que os efeitos mais drásticos da crise ainda vão perdurar até o final deste ano, podendo se estender até meados de 2010. “Será um longo inverno, com alguns veranicos. No passado, em grandes depressões, também se observou momentos em que grandes especialistas achavam que o pior já tinha passado, antes da turbulência ter ficado maior ainda”, lembrou.

Entre os motivos que podem fazer perdurar a crise mundial, o economista citou a situação da China, país onde as estatísticas oficiais não representariam a realidade da economia, que estaria sendo mantida por excesso de créditos no seu sistema financeiro.