Consumidor se afasta de empréstimos

O dinheiro extra do final de ano – o 13.º salário e, para alguns, o recebimento de férias – está fazendo com que muitos brasileiros deixem de tomar recursos nas financeiras. ?Entre dezembro e fevereiro, o movimento cai cerca de 40%?, apontou o sócio-gerente da Finasul Empréstimos e Financiamentos, Luciano Robson Arcangelo. ?Dezembro é bem fraco. O movimento só retorna em fevereiro?, concordou a gerente-administrativa da Sulfinanceira Empréstimos, Cássia Regina de Souza.  

Além do dinheiro extra, outro fator está pesando na queda do número de empréstimos: a determinação pelo governo do Estado de reduzir o limite de comprometimento do salário dos servidores estaduais com empréstimos, de 50% para 40%. ?Está havendo grande procura por parte dos servidores, mas não podemos atender pela redução de margem. Quem já comprometeu o salário além do limite terá que esperar para amortizar a dívida até contrair outro empréstimo?, explicou o dono da Viacredi Prestadora de Serviços, Daniel Machado.

Segundo ele, a taxa de juros baixa na comparação com outras linhas de crédito é o que tem chamado a atenção. ?No prazo entre dois e seis meses, os juros são de até 1,36% ao mês; entre 7 e 12 meses, de 1,74%; de 13 a 24 meses até 1,82% e entre 25 e 36 meses, até 1,85%?, comentou. Um ano atrás, os juros para os servidores públicos estaduais eram bem maiores: entre 2,40% e 2,80% ao mês. No Paraná, o valor médio de empréstimo consignado para servidores é de R$ 2,4 mil, com prazo de 36 meses. ?Quando aumenta o prazo, amplia-se também a margem para tomar empréstimos. Por isso, mais de 90% dos contratos são com prazo de 36 meses?, explicou ele. Na Viacredi, os servidores públicos respondem por aproximadamente 85% dos clientes.

Maior cuidado

?Em dezembro, trabalhamos muito mais, mas produzimos menos?, destacou Elton Schuindt, gerente da filial da Fininvest, no bairro Bacacheri. Segundo ele, mesmo com o dinheiro extra do 13.º, é grande a procura por empréstimos nesta época do ano. ?As pessoas querem dar presente para todo mundo, se empolgam, gastam além da conta e acabam recorrendo às financeiras?, comentou, acrescentando que a procura chega a crescer pelo menos 20% na comparação com o resto do ano. A filial trabalha principalmente com empréstimo pessoal (70%); os outros 30% são empréstimos consignados.

De acordo com o gerente da financeira, o número de aprovações de crédito, porém, não acompanha a demanda. ?Essa não é uma época boa para liberar crédito novo. Há muita correria, e é feita uma avaliação mais rigorosa, pois não sabemos como esse cliente vai se comportar, se vai atrasar o pagamento das parcelas, se os dados são verdadeiros ou não?, comentou. Na filial, o valor médio de empréstimo é de R$ 600,00, com prazo de pagamento em nove meses. A taxa de juros para empréstimo pessoal é a partir de 4,9% ao mês.

Recuperação

Aproveitando o pagamento do 13.º salário, muitas financeiras estão promovendo campanhas para a recuperação de crédito dos seus clientes. As propostas de renegociação variam de financeira para financeira, que chegam a oferecer descontos de até 100% nos juros e multas. Em alguns casos abate-se, até mesmo, do que se chama de principal da dívida.

De acordo com José Arthur Assunção, vice-presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), os interessados em quitar suas dívidas a tempo das compras de Natal devem procurar a financeira onde têm a pendência. ?O caso é analisado com atenção e a financeira buscará o melhor acordo para que o cliente quite sua pendência. Com a dívida renegociada, o nome é retirado automaticamente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC)?, afirmou Assunção. Cerca de 30% das dívidas são negociadas nesta época do ano.

Segundo o vice-presidente da Acrefi, a inadimplência junto às financeiras vem caindo: foi de aproximadamente 18% este ano contra 28% dois anos atrás. ?O País está crescendo, a renda aumentando. Se o Brasil continuar nesse ritmo, a inadimplência vai cair mais ainda?, acredita. ?O brasileiro é bom pagador. Quando não consegue honrar seus compromissos, pode ter certeza: ou perdeu o emprego, ou passou por algum contratempo grave?, arrematou.

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